Nunca como agora se falou tanto de feminismo, e ainda bem. Tirando posições absolutamente extremadas e que, muitas vezes, só contribuem para descredibilizar causas muito sérias, é bom que saltem para a mesa temas como a igualdade salarial, o equilíbrio no acesso às oportunidades laborais, o acesso à educação, a violência contra mulheres, a paridade de género nos mais variados âmbitos. Muito tem sido dito, muito tem sido feito, mas há um detalhe - um pequeníssimo detalhe - que tem escapado em todas as campanhas femininas. E que detalhe é esse? A desigualdade orgásmica. Ah, pois é. Não se riam, não encolham os ombros, que isto é um assunto sério. Felizmente, houve quem decidisse tratá-lo como tal.
Pois que a Durex (marca que todos sabemos estar associada à promoção do bem-estar sexual, oh yeah) achou que estava na hora de pôr tudo em pratos limpos e lançou um estudo sobre o orgasmo. Isso mesmo, essa coisa que todos querem atingir mas onde nem sempre chegamos. Os resultados foram revelados recentemente e, minhas amigas, as notícias não são boas para nós. A coisa começa logo a enervar-me quando o estudo diz que continua a assumir-se que o prazer sexual masculino é o mais expectável (e aceitável) numa relação sexual. Oiiiiiiii? Come again (salvo seja)? Então mas se somos dois a brincar, porque é que há-de ser só um (ainda por cima o homem!) a levar a taça? Isto não é a final da Liga dos Campões, não tem de haver um vencedor inequívoco, um empate aplica-se aqui perfeitamente, saem todos felizes. Claro que isto é uma generalização. Claro que numa "corrida" pode haver só um a cortar a meta e que isso não implica que o outro não se tenha divertido também. Claro que hoje podemos dedicar-nos mais a um e amanhã invertem-se os papéis. Claro que isso tudo. Mas o que me preocupa é que 95% das mulheres assumem que nem sempre atingem o orgasmo mas que vivem alegremente com isso. A sério? Quer dizer, está bem que ganhar e perder, tudo é desporto, mas eu, pessoalmente, prefiro ganhar. Ou então, lá está, o tal empate técnico de que falava atrás.
Este assumir, com relativa naturalidade, que o orgasmo é uma coisa "mais para os homens" e que não há problema se eles se... enfim, coiso, sempre, e nós só de vez e quando, é bastante revelador de que nos atribuímos um papel secundário no campo sexual (como em tantos outros na vida). O estudo diz que isto está ligado a um problema de comunicação na cama. Verdade que não temos de estar ali com grandes tratados sobre o tema (há coisas em que temos de ser mais pela prática e menos pela teoria), mas mais de metade das mulheres inquiridas admitiu que se sente desconfortável a puxar pelo assunto "orgasmo", a explicar o que lhe dá prazer, a dizer se gosta mais disto ou mais daquilo. O que é estúpido. Verdade que há homens que se estão bem nas tintas para isso mas, ainda pior, é haver quem ache que sabe o que está a fazer e ande ali completamente perdido. Quem nunca? Quem nunca deu por si a pensar "ai, filho, se soubesses como estás tãaaaaaao ao lado"? Mas calamo-nos. Guardamos para nós. Por vergonha, por não querer embaraçar o rapaz que se acha o rei do pipi, por medo que ele não goste da chamada de atenção, por tanta coisa. E, claro, quem sai a perder somos nós.
Está cientfica e anatomicamente comprovado que eles têm mais facilidade no processo. É uma cena lá deles. Regra geral, nós precisamos de mais tempo, de mais envolvimento, de alguém que saiba manejar-nos (literal e metaforicamente). E se eles não sabem, temos de dizer. Porque somos todas diferentes, porque o que funciona para umas pode não funcionar para outras, e porque eles até podem ser experientes e muito bem intencionados, mas se não lhes dissermos como funcionamos a coisa pode não se dar. Por isso, falemos! Se percebermos que eles estão a chegar a Moimenta da Beira quando o nosso pipi está em Faro, é preciso trazê-los de volta, ajudá-los a focarem-se e dizer, inequivocamente, o que é que queremos. Sem pudores, que não vale a pena (e eu acho que, muitos deles, até gostam de uma orientaçãozinha marota). Aliás, perguntei a alguns amigos homens o que acham sobre ter indicações na cama (se sentem o ego amachucado ou se até acham uma cena sensual) e as respostas foram:
- "Super, super sensual. Desde que os pedidos não passem por cozinhar ou levar o lixo à rua. Se for uma miúda confiante, diz o que quer. Se for insegura e uma seca, não."
- "Acho sensual e não é pouco. E, desde que não seja uma cena marada, faço! Ainda há muita moça envergonhada, mas cada vez menos. Acho lamentável, porque gosto bastante de apreciar o orgasmo feminino. É metade do meu!"
- "Acho uma cena super sensual. Durante um segundo podemos ficar a sentir "porra, não consegui descobrir sozinho", mas cada mulher é tão diferente que falar, às vezes, ajuda em tudo. Inclusivamente a atribuir um carácter de confiança e intimidade ao acto, o que o torna ainda mais sensual. Mas acredito que haja homens que ficam lixados, e muito. Infelizmente, as mulheres tendem a ficar mais caladas, mas acho que está a mudar. Noto isso quer por experiência, quer por conversas com amigas. Os homens também falam de cenas de sexo, mas não gostamos muito de admitir perante outros homens que precisámos de instruções delas".
- "Que digam o que é preciso. Desde que a actividade seja excitante, venha a dica"
- "Melhor que digam. Aquilo que faz uma mulher chegar lá é um mistério insondável, pelo que é melhor não estar a tentar adivinhar. Ganha-se tempo e pode-se voltar a ver a bola mais rapidamente"
- "Adoro processos ensino-aprendizagem. Tenho espírito de mestre-escola, não me incomoda minimamente que me guiem os passos. Não sei se me dá uma especial pica. Talvez não. Nem tira. Regra geral as mulheres não me guiam, não sei se tendem a calar por vergonha."
Como se pode ver por esta reduzida amostragem, os homens estão abertos ao diálogo, por isso FALEM. Claro que também pode ser porque são meus amigos e querem dar uma de moderninhos (e porque sabem que eu lhes infernizaria a vida caso me dissessem o contrário), mas prefiro acreditar que tenho por amigos tipos decentes e que se preocupam com o prazer feminino (além do latente sentido de humor presente em algumas respostas).
De volta ao estudo, se por um lado temos um terço das mulheres assumir que raramente ou nunca é capaz de atingir o orgasmo através de relações sexuais, por outro quase metade das inquiridas confessa que se sentiu mais feliz depois de o conseguir fazer e mais de uma em cada três sentiu-se menos nervosa. 29% das mulheres relataram que tiveram uma maior qualidade de sono e 28% dos dois sexos concordaram que o orgasmo ajuda a libertar a tensão nos seus relacionamentos. Vantagens, senhores, só vantagens. Posto isto, porque é que andamos a ter muito menos orgasmos do que eles? Pior, porque é que nos sentimos confortáveis com isso?
Este estudo serviu de rampa de lançamento para a campanha #OrgasmsForAll que, basicamente, quer que todos sejamos capazes de dar e receber belos orgasmos. Todos, homens e mulheres (mas vá, mais nós, que estamos em défice). Associado a isto, está também um novo produto, o Durex Intense Orgasmic Gel (só o nome já dá vontade de ir a correr comprar). Como o nome indica, é um gel estimulante, clitoriano, desenvolvido para orgasmos mais intensos. Eu explico: basta massajar algumas gotas durante os preliminares e esperar pelo pequeno milagre que se seguirá, com sensações de calor, de frescura e aumento de sensibilidade. Promissor, certo?
Estas pequenas coisas podem dar uma ajuda incrível e a maioria das pessoas inquiridas no estudo até admite que gosta de ter novas experiências com o seu parceiro, mas só um terço diz já ter usado este tipo de géis estimulantes. Ok, ainda vamos a tempo, não está tudo perdido. Vivendo, aprendendo e tendo mais e melhores orgasmos. Acredito que a parte da aprendizagem continua a ser um bocadinho subvalorizada. E que é preciso falar mais, sem pudores desnecessários. Também para isso a Durex lançou
um site onde é possível ler mais artigos de especialistas em sexo, histórias pessoais sobre o orgasmo, etc. Vale a pena espreitar. E vale também a pena usarem a caixa de comentários para debater este assunto. Afinal, andamos ou não a ter menos orgasmos do que devíamos? Andamos ou não a falar de menos (logo nós, mulheres, sempre acusadas de falar de mais)?
*post em parceria com a Durex