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Tragédia do Meco ou "parem de nos causar embaraço"

quarta-feira, janeiro 15, 2020




A Tragédia do Meco foi um dos casos mais mediáticos de sempre em Portugal. Não é todos os dias que seis jovens perdem a vida, assim, de forma tão estranha, tão cruel, tão inexplicável. Chocou-me imenso na altura (escrevi sobre isso em 2014)  e continua a chocar-me agora, de cada vez que se assinala mais um ano. E se a mim me choca, nem sequer consigo imaginar como se sentem aqueles pais, que não só perderam os filhos como andam, desde então, a lutar por justiça. A lutar para que alguém lhes explique o que realmente aconteceu - porque continua tudo no campo das suposições - e para que alguém assuma os muitos erros que foram cometidos ao longo de todo este processo.

A luta levou-os até ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que lhes deu razão, e que confirmou o que já se sabia: que a investigação levada a cabo pelo Ministério Público foi pobre e incompetente. Entre outras coisas, recriminam o facto de:
- O Ministério Público por só ter atribuído a investigação à Polícia Judiciária ao fim de dois meses (até lá esteve entregue à Polícia Marítima);
- A casa do Meco não ter sido selada após os acontecimentos: qualquer um entrou ali, a moradia inclusivamente foi limpa e só ao fim de um mês foi feito um exame forense;
- A roupa e o computador do Dux (único sobrevivente) só ter sido recolhida ao fim de TRÊS MESES!
- Terem demorado dois meses a fazer a reconstituição do acidente e a recolher testemunhos dos vizinhos;

Eu, que não sou propriamente uma especialista no assunto, acho que isto foi encarado com uma leveza e leviandade inexplicáveis. Morreram seis pessoas. Seis. Como é que, desde logo, isto não foi levado com mais seriedade? Como é que não se consideraram mais hipóteses? Um crime, por exemplo? Não estou a dizer que foi, sei tanto como vocês, a minha teoria é que aqueles miúdos foram só alvo de uma praxe estúpida, mas todas as teorias tinham de ser postas em cima da mesa. Mas não, contaminaram toda as provas, deram tempo para que tudo pudesse ser adulterado, e ao fim de meses lá se decidiram a levar a coisa a sério. Meses esses que teriam sido imprescindíveis para apurar uma data de coisas importantes.

É isso tudo que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condena. Basicamente, vem dizer que a justiça portuguesa foi incompetente e condenou o Estado a pagar uma indemnização de 13000€ aos pais. Atenção, não é 13000€ a cada um, na verdade é apenas a um dos pais que, pelo que li algures, se dispôs a dividir o valor por todos os outros. E se isto já me envergonha bastante, envergonha-me ainda mais que o Ministério da Justiça admita a hipótese de apresentar recurso para se escusar a pagar este valor. A sério? Mesmo a sério? Depois da forma vergonhosa como encararam este caso, querem mesmo privar os pais deste dinheiro? 13000€ não vai mudar nada na vida deles, valor nenhum paga a vida de um filho. Mas só em despesas processuais, este pai gastou mais de 7000€, presumo que os restantes tenham gasto mais ou menos a mesma coisa. Serem ressarcidos disso era o mínimo dos mínimos.

O que mais importa a estas famílias é saber o que aconteceu e isso, provavelmente, nunca vai acontecer. Vão viver para sempre com esta angústia, com a sensação de que não foi feito tudo, que as pessoas que deveriam ter lutado para apurar a verdade não fizeram o trabalho que lhes competia. E isso, somado à dor de já cá não terem os filhos, deve ser uma coisa insuportável de carregar no dia a dia. Esta decisão do Tribunal Europeu só veio reforçar isso, que houve falhas e que é preciso apurar responsabilidades. Que isso seja feito e que continuem a embaraçar-nos a todos, enquanto portugueses.







52 comentários:

  1. A mim o que me embaraça enquanto portuguesa é haver adultos (sim, adultos, já têm todos mais de 18 anos) que se sujeitam (e aparentemente até se divertem) a praxar e ser praxados e depois coisas destas acontecem (não foi a primeira nem a última, só assim de repente lembro-me de um rapaz da agrária de Coimbra que ficou paraplégico e uns rapazes no Minho que caíram de um muro). Esta falta de consciência quanto ao comportamento humano é que me choca. E também eu já fui estudante e numa universidade/curso com praxes muito intensas e sempre achei tudo aquilo ridículo e sem qualquer interesse (e também "só" tinha 18 anos), nunca tendo aceitado participar em nada (e não foi por isso que vivi menos a vida universitária, ou não me integrei, ou não fiz amigos).

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    1. Não deixa de ter razão mas só por isso deixamos impune um caso destes? Mesmo sendo irresponsáveis e tendo alinhado naquela loucura alguém estava acima deles é a comandar a operação.

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    2. Atenção que o estudante da agrária de coimbra que ficou paraplégico não era caloiro, a real praxe da agrária é tão boa ou tão má a introduzir os novos alunos que um aluno do 2 ou 3 ano quiz repetir a praxe dos caloiros no "tunel da merda" mas com um mortal à mistura q correu mal. E mais, ninguém na agrária é obrigado a ser praxado,basta declarar-se anti praxe, a única desvantagem é não poder praxar nos anos seguintes,nd d mais. Eu fui praxada com muito orgulho e sempre com grande respeito e preocupação pela minha saúde. O objetivo da praxe é incluir os alunos. Se não acontece é porque não está a ser bem feita e há regras que têm q ser cumpridas e quem as faça cumprir... n é uma rebeldia de se poder fazer o q quer...

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    3. Eu "adoro" essa declaração anti praxe 🙄 felizmente na faculdade onde andei bastava um "conheço-te de algum lado?" ou simplesmente nem aparecer que ninguém dizia nada nem sabiam se eras caloiro ou não, e no dia seguinte já estava tudo a estudar que aqueles tomos não se liam sozinhos.

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    4. Nao querendo dar ou tirar razao a ninguem, quero apenas mencionar uma outra situacao e outro ponto de vista. Estou neste momento num pais estrangeiro, perto de montanhas (peco desde ja desculpa pela falta de acentos). Aqui nao ha actividades praxisticas, obviamente. Mas claro que ha actividades de integracao (tanto no primeiro como no segundo semestre, ate porque alunos de Erasmus virao). Se um aluno tiver um acidente numa dessas actividades (ate porque sao organizadas coisas como ski e idas a lagos, onde pessoas saltam de forma totalmente irresponsavel) e algo de muito grave resultar dai (como as mortes e a paraplegia que mencionou), vamos culpar os alunos que organizaram essa mesma actividade? Fica para pensar. (estou apenas a responder ao comentario, nao ao post)

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    5. O muro caiu porque estava degradado. Toda a gente que frequentava aquela zona o sabia. Já tinha sido comunicado a várias entidades que, como sempre, ignoraram. O que aconteceu durante aquela praxe poderia ter acontecido em qualquer outro momento. Não fui pra casa nem praxei (nem acho piada), mas não vamos espalhar mentiras

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    6. Cátia, se estava degradado e toda a gente sabia, porque se foram pôr a saltar em cima dele? Resposta: praxe.

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    7. Acho que a maioria das pessoas têm tendência a generalizar situações. Eu fui praxada assim como também praxei e nunca me faltaram ao respeito ou me colocaram numa posição na qual corresse qualquer perigo físico ou psicológico. Acrescento até que criei diversas amizades que contribuíram para a criação de laços que ainda hoje guardo e levo comigo.
      O crucial aqui é entender que não defendo as restantes praxes, porque não sei se cumprem com regras que certamente devem ter, mas não é por ter a minha perspectiva que ataco a de quem pensa de forma diferente. Deixemo-nos de opiniões extremistas, infundadas porque discricionariamente generalizadas, e que tenham por objetivo único atacar o que já de tão bom fez a tanta gente.
      A base desta publicação surge no sentido de analisar de forma crítica a atuação da justiça portuguesa, não mais do que isso.

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  2. Este caso é chocante. Nem quero imaginar o que aqueles pais sofrem diariamente com a perda dos filhos e a falta de respostas.
    Mas há outra coisa que neste caso também me custa muito: haver uma pessoa viva que sabe perfeitamente o que aconteceu e não contar.

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    1. Mas ele já contou! Várias vezes. Contou logo quando foi encontrado, contou depois e depois. Foi aconselhado a resguardar-se quando se tornaram hostis perante o depoimento dele. Se é verdade ou não o que ele contou, só ele saberá, mas muitas das notícias que passam para a comunicação social são enviesadas, dizem que ele fugiu a dar respostas, que se demonstrou isto e aquilo mas não é nada disso que está no processo. A mim parece-me estranho que alguém em estado de choque, sabendo que se fosse de facto uma saída marcada para prxar na praia haveria um sem número de amigos e mensagens dos 6 que o saberiam e o diriam e desmentiriam, que tenha mantido a mesma versão desde que foi encontrado 20 minutos depois. Foi uma tragédia mas, se calhar, foi só mesmo uma tragédia.

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    2. ja agora pode partilhar aqui o que ele contou? não faço ideia de qual foi a versao dele?

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    3. Tudo certo, só é pena que as versões que contou terem sido diferentes. Quando lhe dizem uma coisa a primeira vez e depois a segunda vez a versão ser diferente, pensaria o que? Não seria “hostil”?

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    4. Em Braga, na universidade do Minho, o que aconteceu foi também um acidente. Não foi fruto de uma praxe violenta nem nada do que se pareça. Três jovens estavam em cima de uma espécie de muro a cantar e a saltar. O problema é que o muro não era um muro. Era um bloco onde já tinham estado as caixas de correio do prédio vizinho. Já tinham estado porque se considerou serem perigosas e em risco de ruir e foram retiradas para outro local. A estrutura manteve-se no mesmo sítio só que ninguem sabia que apresentava qualquer espécie de perigo. Eles não morreram à custa de uma praxe perigosa ou degradante. Foi um acidente. E se aquela estrutura tivesse sido retirada a tempo nada teria acontecido. Ruiu em contexto de praxe, podia ter ruído numa outra situação qualquer.

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    5. Anónimo15 janeiro, 2020 20:05 e porque é que pessoas de 18/19 anos se haveriam de pôr em cima de um muro em ruínas a cantar, saltar e a dançar, se não fosse no contexto de uma estupidez qualquer (praxe, bebedeira)? A praxe incita a comportamentos estúpidos, que em qualquer outro contexto seriam classificados de estúpidos e inconscientes, mas que ali não sei por alma de quem fazem sentido para aquela gente. Por isso foi, sim, "culpa" da praxe.

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  3. Sempre estive pelos pais, mas ultimamente tenho-me perguntado "e se de facto foi apenas o que o João Gouveia contou? E se de facto tinham ido apenas dar uma volta e estavam sentados a conversar?" Quantas vezes a versão mais simples é a verdadeira! E mesmo que fosse uma praxe que correu mal...ele continuaria a não ter culpa, jamais seria um homicídio, mas admiti-lo faria dele, aos olhos de toda a gente, criminoso, quando mesmo que tenha sido uma praxe ele nunca seria culpado, seria como eu sugerir jogar à apanhada e um colega meu a fugir ser atropelado. As pessoas precisam de algo a que se agarrar, e o vazio destes pais tem sido preenchido por estas possíveis teorias da conspiração. Chega a um ponto que as pessoas se adaptaram tanto a viver para buscar algo, que nenhuma resposta lhes chega; há casos de mortes de jovens em que se encontraram culpados que confessaram e que mesmo assim os pais continuaram em "busca da verdade" porque essa busca é já tudo o que lhes resta.

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    1. Percebo o que diz, mas o facto de ele andar a evitar falar e se esconder não abona a favor dele. Eu não acho mesmo que ele tenha tido uma participação activa, do estilo ter empurrado alguém ou assim, mas acredito que tenha sido durante alguma actividade praxistica e tenha havido algum tipo de comportamento negligente. E ele para preservar e proteger a "instituição" fica calado.

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    2. O comportamento negligente partiu de TODOS os adultos envolvidos, que acharam boa ideia embebedarem-se à beira mar, de noite.
      A responsabilidade individual é de extrema importância em qualquer situação; quanto muito a negligência foi individual.

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    3. Ora nem mais. Por mais que custe, já todos fomos jovens, e já todos tomámos decisões parvas, a diferença é que não tiveram desfechos trágicos. Eram jovens adultos que tomaram más decisões ou foram só apanhados num enorme, trágico, acidente.
      Posso estar enganada mas não vejo como é que uma única pessoa empurrava seis para o mar (ou coagia a), e também não percebo porque é que acham que o sobrevivente não está minimamente traumatizado e igualmente marcado para a vida e, como tal, com muitas razões para bloquear ou reprimir a memória sobre os acontecimentos daquela noite.
      Infelizmente, acho que foi só mesmo um acidente muito infeliz.

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  4. É só triste. Não ha mais a acrescentar.

    P.s - já tinha saudades destas leituras no blog. :)

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  5. As custas de tribunal também vão ser pagas. O pagamento da indemnização é independente. Não que seja justificativo, apenas para informar.

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    1. Vão ser pagas apenas a este pai que ganhou o processo. Aos restantes cinco não.

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    2. mas se a situação foi exactamente a mesma para os 6, porque é que um pai ganhou o processo e os outros não?

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    3. Pipoca, o pai que dá nome ao processo representa todos os pais, vi isto numa reportagem dito pelos próprios. Foi uma opção deles apresentar apenas uma queixa, logo não podem, nem disseram, que foi só a um pai que ganhou o caso e a indemnização, foram todos, e todos afirmam ser uma ação conjunta. Quanto ao valor, aparentemente ridículo, esta é apenas referente à condução grosseira da investigação, não é uma indemnização pela morte dos filhos, até porque não ficou provada qualquer culpa ou encontrado qualquer culpado, muito menos o estado. Fica o esclarecimento.

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  6. #éprecisofalardisto

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  7. Ai, as praxes ... Aquele enigma que nunca entendi. Como é que adultos a serem humilhados é uma preparação para a vida adulta? É essa a lição a passar? Que no trabalho o patrão vai obrigá-los a rastejar, literalmente, para um copo de água? Mas vivemos na selva agora?
    Como é que alguém se dispõe a ser subjugado porque alguém lhe diz para fazer?
    É tudo muito bonito, até estas tragédias acontecerem.

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    1. A praxe não é humilhação, é respeito pelos mais velhos e espírito de equipa com os colegas... qd a praxe é humilhação é porque não está a ser bem feita, há regras a cumprir e sanções pra quem n o faz

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    2. Vejo sempre quem venha defender a praxe com o argumento de que é inclusivo, que ninguém é obrigado, e que só sabe quem lá está. Eu fui três dias à praxe e nos três cheguei a casa a chorar. É muito lindo dizer que se podem declarar anti praxe. Eu era uma miúda de 17 anos, porque so fazia os 18 em novembro, sem ninguém conhecido ao meu lado. Mesmo que ja tivesse os 18, é mto fácil dizer que já são adultos e já sabem o que fazer, so fazem o que querem, mimimi. Como é que eu, ali sozinha, sem conhecer uma cara, quer de drs, quer de caloiros, ia ter coragem para dizer "eu não quer isto e vou-me embora! Desisto!". No fundo do coraçao eu sabia que não queria estar ali, mas não tinha coragem nem maturidade para o fazer. Solução? Não apareci mais. Porque logo no primeiro dia eles cercam as pessoas e é muito intimidatório. Agora com 30 anos alguém me faria isso? Obviamente que não, mas na altura nao é nada nada fácil ter coragem para "rise up and stand up".

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    3. Ao Anónimo das 22:56, eu só fui 1 dia à Universidade enquanto andavam a praxar. Não podia dizer que não queria (porque até os professores diziam para irmos), por isso deixei de ir. Quando as minhas "madrinhas" me perguntaram porque não tinha aparecido mais, disse-lhe que a comida do refeitório não me tinha caído bem e que fiquei doente.

      A todos os outros que dizem que as praxes são essenciais para a integração, e que tal fazerem coisas úteis para a comunidade como voluntariado? Isso sim seria integração. Tudo o resto é só ridiculo.

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  8. Subscrevo tudo, Pipoca. E fica apenas uma pergunta: porque não escreve assim aqui todos os dias?

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  9. Bem vinda de volta Pipoca!! 🥳
    Eu não entendo as praxes, e nunca irei entender. A meu ver, se querem manter a tradição devia haver alguém a impor limites. Ir para a praia, à noite, junto ao mar é inqualificável (para não dizer pior).
    Foi lamentável o que aconteceu a estes jovens. E a dor dos pais nem se fala.
    Já não me recordo o que disse o Dux, qual foi a explicação dele?
    Bárbara

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    1. Bárbara,
      A praxe tinha como objectivo a criação de laços entre estudantes. Recordo que antigamente, todos, ou quase todos, os estudantes estavam deslocados.Era uma forma rápida de se conhecerem e entre-ajudarem.
      E hoje fazem-se praxes muito interessantes - estou a recordar-me da limpeza das praias (de dia), a recolha de alimentos, a reflorestação, a reabilitação de espaços degradados, etc etc.
      O que aconteceu no Meco, não podia ter acontecido.
      E para todos (exceto os pais) a justificação 'acidente' é muito conveniente. 😠😠
      Paula

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  10. Só um dos pais pediu o dinheiro, para provar que não é o dinheiro que os move. Foi escolha do grupo dos pais.

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  11. É muito triste o que aconteceu. É mesmo. Eu era caloira no ano em que isto aconteceu e aconteceu no dia em que andávamos todos por Lisboa no jantar de natal do curso. Foi um choque. Perderam se vidas. E sendo uma situação tão chocante, compreendo que as pessoas queiram arranjar alguém ou algo para culpar.

    Como caloira, participei nas praxes e fiz todo o percurso. No entanto, também recusei algumas praxes. Não fui excluída por isso, e tive a maturidade para dizer não vou fazer isso, não me identifico. Ninguém pode obrigar ninguém a nada. Se realmente se tratou de um fim de semana de praxe e se estarem na praia/irem a água ou seja o que for fazia parte da praxe, todos eles consentiram. Felizmente, um sobreviveu. Infelizmente, todos o querem culpar. A culpa não é dele, e a culpa não é da praxe. Aconteceu, não era suposto... mas aconteceu. Porque uma data de escolhas e condições se reuniram naquele momento para acontecer... Não há um culpado. Mas isto é só a opinião de uma jovem de 24 anos.

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    1. Embora haja muitos detalhes que tornem incongruente a tese de "incidente", concordo em absoluto com a parte do comentário relativo às praxes.
      Acredito que aqui o grande problema foi haver álcool à mistura, sendo que estavam numa zona próxima ao mar.

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  12. Fui praxada por opção, quando entrei na universidade, e aquilo não me traumatizou nem acrescentou nada. Claro que levava a praxe como uma brincadeira mas, à luz do que sei hoje, não voltaria a participar nisso. Qualquer tipo de abuso ou assédio moral sobre o próximo não pode ser protegido pela tradição. Não é, de todo, aceitável que se considere legítimo um costume que consiste na humilhação dos outros. Isso é no mínimo estupido e no máximo completamente inadmissível. Acidentes acontecem mas, pelo sim pelo não, também se evitam, evitando tradições mais condicentes com a Idade Media.

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    1. 100% de acordo... fui praxada e optei por nunca praxar porque realmente existem praxes abusivas e apesar de dizerem que com 18 anos somos adultos a realidade é que nem todos temos a mesma maturidade emocional. Eu aceitei praxes que hoje nunca aceitaria porque não queria ser diferente. Lembro-me perfeitamente de ter "medo" dos trajados, de os ter colados ao meu ouvido a gritar e tremer toda por dentro. Realmente algumas praxes foram divertidas mas há sempre quem abuse e humilhe caloiros que efetivamente se encontram numa situação de fragilidade.

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  13. Beatriz de Oliveira Santos15 janeiro, 2020 18:57

    Como advogada lido frequentemente com situações de inércia e de incompetência do Ministério Público, infelizmente. Os períodos de investigação dos processos em Tribunal são tão mas tão elevados que tenho processos que vão a julgamento agora, em 2020, relativo a factos de 2017. Processos com prova apenas testemunhal. Onde está a conservação da prova aqui? Próprias vítimas de crimes confessam já ter alguns pormenores levados pelo tempo, quanto mais testemunhas de factos que não têm interesse na causa.
    Ainda há pouco tempo descobri que uma magistrada perita em deixar prescrever crimes e por força desta incompetência foi mudada para outro Tribunal, para onde foi promovida, por ter sido única forma de a convencer a sair daquela comarca onde estava há décadas a fazer asneira atrás de asneira. Foi para outra fazer similar e coordenar outros colegas. Alguém incompetente foi gerir trabalhos de outros porque o processo para a afastar era demasiado complexo.
    Temos de exigir mais e melhor: exigir melhor qualidade do Ministério Público, mais exigência nos profissionais que lá estão, não fazer depender promoções no trabalho de condenações porque nem sempre condenar é fazer um bom trabalho e fazer justiça.
    Os procedimentos criminais em Portugal estão em crise, a justiça está em crise e somos bombardeados por condenações do TEDH com muita frequência por causa da falta de resposta, da morosidade, de erros processuais.

    PS: sou do Barreiro, terra de uma das raparigas do Meco, tenho família vizinha da família dela, fui colega de escola do irmão... o cinzento que se vê, quase que se sente, quando nos cruzamos com eles é imenso. Desde aquele primeiro dia até hoje. Foi algo absolutamente dramático. Dito isto, a forma como este processo foi conduzido pelos seus intervenientes (MP, advogados, comunicação social...) nunca trará paz a ninguém. Com muita tristeza minha.

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    1. O que comenta aqui e deveras preocupante. Nao admira o estado em que se encontra a justica portuguesa.

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  14. Fui aluna do superior (praxada) e sou mãe de um aluno universitário deslocado.
    Alguém me sabe explicar onde começa e acaba a responsabilidade das escolas (neste caso universidade)?
    Todos os anos, juntamente com a matrícula, somos obrigados a pagar um seguro escolar. Para que serve?
    Faço um paralelismo... Se um trabalhador, no trajecto entre a casa e a empresa tiver um acidente de carro, é considerado um acidente de trabalho.

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    1. Há universidades que já declararam que não é permitido fazer praxe dentro das instalações.
      O seguro escolar está relacionado com incidentes ocorridos no contexto escolar (não sei se o percurso escolar se inclui).
      Mas penso que o seguro escolar não cobre ações/ incidentes decorridos entre alunos; se houver uma alteração física entre dois alunos penso que isso fica aquém do seguro.

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    2. Não acredito nem por um segundo que uma seguradora se responsabilizasse por qualquer acidente ocorrido neste contexto, uma vez que não era uma atividade oficial da escola (visita de estudo, por exemplo). Mesmo quando há visitas de estudo ou outras saídas mais prolongadas muitas vezes são contratados seguros extra.

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  15. Depois de ler os comentários até agora publicados, uns a favor da tese de acidente outros da tese de "crime", uma coisa é inegável.
    Todo o processo de investigação, perícias forenses, etc. foi uma autêntica desgraça. Tanto foi que o Tribunal Europeu condenou o Estado Português e não o Dux envolvido. E, condenou o Estado porquê? Exactamente por quem de direito não ter feito o seu TRABALHO.
    MAIS NADA

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    1. As accoes no TEDH sao contra os Estados nao contra a particulares :)

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  16. Questiono-me...
    Se durante uma praxe, dentro das instalações da universidade, tivesse havido um acidente, o que teria acontecido?
    A praxe parece um assunto Tabu!

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    1. Na universidade do porto é expressamente proibido actividades de praxe,quer no interior da faculdade quer no espaço exterior pertencente a cada faculdade. Penso que esta medida foi tomada para acautelar este tipo de situação.

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    2. Só se for recentemente...

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  17. fala-se muito no tal de João Gouveia, mas principalmente há um conjunto de meninas e meninas que aderiram a este conluio, ao estilo pacto de gangues em que ninguém fala, faz-me lembrar os famigerados assassinatos de rappers nos EUA no final da década de 90 em que o pacto de silêncio sobrevive a tudo e a todos. Sinceramente só vamos saber alguma coisa quando um deles já daqui a umas décadas quando tiver com o pé para a cova decidir com o peso na consciência revelar alguma coisa, e é se isso de facto acontecer.

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  18. As pessoas perdem mais tempo a defender ou condenar as praxes em vez de olharem que o que falhou foi a maneira como a justiça e investigação ou falta dela, funciona.. O tribunal veio condenar Portugal por má condução na investigação, não veio julgar o caso em si.

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  19. Em 2014 estava na universidade. Li esse post, Pipoca - tal como todos os outros ao longo dos anos.
    Já tinha sido praxada e nesta altura praxava (sobretudo a mim própria). Mas antes de parar de ler e julgar vou explicar o meu ponto de vista...
    Quando isto aconteceu, fiquei chocada. Absolutamente chocada. Sinceramente, a minha teoria inicial foi 'oh estavam bêbedos'. "Quantas vezes não estive com pessoal da faculdade no Algarve com um copo na mão perto do mar à noite?" Pensei... Mais que uma de certeza, menos de cinco? Sinceramente, sempre achei que tivesse sido algo deste género. Quando isto aconteceu, já tinha sido praxada. Fui estudante na faculdade de farmácia na UL. Adorei a praxe do meu ano de caloira, a praxe eram sobretudo jogos divertidos, peddy papers e coisas que tais. Nunca me senti humilhada. Conheci algumas das pessoas mais importantes da minha vida quando estava em praxe. Integrei-me, talvez me tivesse integrado sem praxe, mas honestamente, decidi fazer parte desde o primeiro dia: inicialmente para ter conhecimento de causa. Outra vez, a Rute com 18 anos dizia 'Oh se é para ser contra, pelo menos ganho mais argumentos'. E como a maioria dos jovens adultos de 18 anos, mudei de ideias. Gostei da minha experiência de caloira. E depois, passados dois anos, comecei a praxar eu e como alguém escreveu 'vi muitos sapatos pretos no meu primeiro ano, quando praxo olho primeiro para os meus'. E isto sempre foi o meu lema. Tentei fazer praxes divertidas para os caloiros e não para mim. Não interessava que eu estivesse divertida, interessava que eles estivessem divertidos e a gostar de lá estar. A praxe pela minha faculdade não era intensa. Em 2014 fazia parte da comissão de praxe que regulava a praxe na faculdade (e que garantia que não havia praxe estúpida). Quando o Meco aconteceu, houve uma enorme repercussão no que as pessoas achavam da Praxe. Eu pensei em desistir de praxar, e largar a comissão, nunca mais trajar (coisa que fiz sem falhar todas as quintas feiras)... E não foi possível. Porquê? Porque eu fui eleita para ser Dux em Maio de 2014 para o ano seguinte. E não, não me candidatei. E não, não queria. E não, não gostei de ser Dux. O que fazia? Sobretudo organizar coisas, mandar vir com quem praxava, pensar em coisas divertidas de serem feitas, motivar uma equipa da comissão de praxe, reunir com a direção da faculdade... Existem muitas pessoas que podem aqui vir dizer o que pensam sobre isso e sobre mim. Mas honestamente, a opinião dos que praxei é a mais importante para mim, e passado algum tempo sei que foi positivo.
    Agora, se o voltava a fazer? Não. Perdi muitas horas de sono a organizar coisas e não ganhei nada com isso. Ganhei agradecimentos e bagagem.
    E qual é o motivo pelo qual não o faria sobretudo? Porque se eu estivesse no Algarve, com os meus amigos da faculdade e com uns copos e as nossas capas de traje que nos mantinham quentes e 6 deles tivessem sido levados pelo mar e eu estivesse viva? Queria fazer de tudo para não estar no sitio em que estava naquele momento, sendo "Dux", mas no fundo, sendo amiga daquelas pessoas.
    Não condeno ninguém. Não condeno o Dux. Condeno a justiça portuguesa que não fez o seu trabalho. Pobres pais. Todos os meus sentimentos estão para com estes pais como estavam há 6 anos. Não cabe em mim a dor de perder um filho.

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  20. Ia comentar o mesmo. O que esta em causa nesta condenacao foi o Modo Como as autoridades lidaram conno caso. A justica portuguesa envergonha o Pais. A julgar pelos comentarios aqui imagino que os oficiais tb se focaram em saber se eram pro ou contra praxes e esqueceram se de Fazer o seu trabalho.

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  21. Andas a ver muito CSI. Achas mesmo que aqui neste finzinho de mundo há um modus operandi de jeito? Cof cof

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  22. Não percebo porquê que toda a gente puxa isto para as praxes. Esta condenação não tem nada a ver com o caso em si, só serve para considerar que a investigação em si não foi competente. Seria de esperar que qualquer pessoa, independentemente da sua posição em relação às praxes conseguisse concordar que uma investigação incompetente ou negligente deve ser sempre condenada, seja no caso do meco ou noutro qualquer. Afinal, e infelizmente, nenhum de nós está livre de um dia nós próprios ou um familiar ou amigo precisar de alguma investigação judicial e acho que ninguém quer lidar com falhar e incompetência quando falamos de coisas tão importantes e sensíveis, como vidas humanas.

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Teorias absolutamente espectaculares

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