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Não me fechem as farmácias, pelo amor da santa

sexta-feira, março 15, 2019


Ainda na semana passada vos falei aqui da boa relação que tenho com as farmácias. Gosto de farmácias, pronto. Sempre gostei, é uma coisa que vem de miúda, e à medida que fui ficando cada vez mais hipocondríaca esta relação acentuou-se. Gosto sempre de saber que tenho uma ali à mão de semear e já perdi a conta ao número de vezes que recorri à aplicação das farmácias para saber qual é que era a de serviço nas mil e uma noites em que precisei de qualquer coisa.

Para quem mora em bairros no centro de Lisboa, como eu, encontrar uma farmácia não é propriamente um problema, parece que há sempre uma em cada esquina. Quando mudei de casa esta última vez não foi difícil encontrar logo duas ou três num raio de 200 metros às quais posso recorrer sempre que tiver uma dor ali para a zona do fígado que não tenha explicação possível ou uma dor de cabeça que eu associe imediatamente a um aneurisma prestes a rebentar (sucede-me muito).

Assim que conheci uma das farmácias do meu novo bairro percebi que as rotinas não mudavam muito em relação àquela onde ia antes. É chegar e ver os velhotes ali da zona a contarem os seus dramas aos farmacêuticos, a aviarem as suas receitas enquanto mostram as fotografias dos netos e a tentarem descrever aquela dor nas costas que não os larga há mais de vinte anos. No fundo, a farmácia para estas pessoas acaba por funcionar quase como um espaço de convívio e é uma forma de não se isolarem em casa sem nada para fazer, ninguém com quem falar (e, meus amigos, ninguém está livre disto).


O que talvez não seja muito conhecido é que a redes de farmácias atravessa um período difícil e as  zonas mais afectadas são, claro, os meios mais pequenos e rurais onde, ao fechar uma farmácia,  as pessoas têm de andar mais de meia hora para conseguirem chegar a outra, o que nem sempre é possível.

E, se calhar, é importante partilhar aqui alguns números:

- Sabiam que 25% das farmácias em todo o País — qualquer coisa como 675  — estão em risco de fechar por não terem condições financeiras para se manterem em funcionamento? As farmácias têm prejuízo para garantirem às pessoas a dispensa dos medicamentos comparticipados pelo Estado e, à conta disto, uma em cada quatro farmácias está em situação de insolvência ou de penhora;

- Sabiam que um estudo da Universidade de Aveiro mostra que, em 2016, duas em cada três farmácias tiveram resultados negativos de 3.836€ com a dispensa de medicamentos comparticipados?

- Sabiam que a Troika compreendia uma redução de 50 milhões de euros nas margens de farmácias e distribuidores que as medidas de austeridade aplicadas pelos governos levaram a um corte de 284 milhões de euros?

- Sabiam que a Lei determina que o preço dos medicamentos resulte da média dos preços praticados em Espanha, França, Itália e Eslovénia mas o critério apenas é aplicado à indústria farmacêutica, penalizando as farmácias em mais de 200 milhões de euros?

Pois, eu não sabia. E tudo isto acontece num momento em que a grande maioria dos utentes das farmácias estão contentes com o serviço dos profissionais que ali trabalham diariamente. Foi precisamente  por isso que foi lançada uma petição pública com o objetivo de salvar todas estas farmácias que estão em risco de declarar falência. 

Claro que este é um problema que afeta muito mais os meios mais pequenos, mas até nas grandes cidades há farmácias de bairro que estão em risco de fechar. Isto é um problema para a hiponcondríaca que vive em mim. E se a minha farmácia fecha? Hmmm? A quem é que vou falar de todas as minhas maleitas, dores e problemas, ainda que só vividos num plano mental? A pessoa já não vai para nova, imaginem que me esqueço de lhe contar qualquer pormenor e me dizem que tenho uma coisa quando, na realidade, tenho outra totalmente diferente? E imaginem que me falta leite para dar à miúda a meio da noite, como é que vai ser? A pequena texuga vai ter de passar fome até conseguirmos encontrar-lhe alimento na manhã seguinte? Fora de brincadeiras, e quem precisa das farmácias numa base recorrente, quem não pode deslocar-se quilómetros até à próxima farmácia?

Por isso, meus amigos, tudo a assinar a petição e a aderir ao movimento #salvarasfarmacias e a salvar a petição que está no site para não corrermos o risco de ficar sem a farmácia lá do bairro, que tanta falta me nos faz. Eu já assinei, tratem disso depressa!


35 comentários:

  1. É uma situação mesmo terrível. Eu sei que falamos todos dos velhinhos que deixam a sua reforma nas farmácias, mas a verdade é que eles precisam destes medicamentos. E sinceramente nas aldeias dos interiores não existem 3 farmácias num raio de 200 metros. Existe uma por aldeia, se tivermos sorte. Se esta fechar, como é que os idosos (e outros dependentes) conseguem aviar as suas receitas? Muitos deles não podem conduzir nem têm família por perto que o possa fazer por eles. É uma situação complicada. Assinar a petição é um gesto pequeno para a dimensão do problema.

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    1. Uma por aldeia?! Ahahahah
      Nao sei que interior é q conhece. A farmacia so existe nas cidades sede de concelho ou nas vilas. As aldeias nao têm farmacias. No meu caso ate moro numa aldeia no litoral ( distrito de coimbra) que tem ligaçoes de autocarro a cada hora para a cidade q passam nas aldeias todas, e a minha avo com 85 anos q obviamente nao conduz safa-se bem a ir de autocarro para a farmacia ou centro de saude. Mas por ex o meu marido é de uma aldeia na serra da Estrela e aí so têm um autocarro de ida ás 7h da manha e outro de volta ás 19h... portanto é mt mais dificil os velhinhos irem ao Fundao ou á Covilha.

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    2. Tem razão, acho que não fui clara. Por acaso a região do interior onde eu vivo tem farmácias em todas as aldeias graças à densidade populacional. Mas, como disse, ter uma por aldeia só mesmo com sorte e já de sabe que a gente do interior nunca a teve. Obrigada pela correção!

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    3. 8h39 por acaso está mal informada.
      Eu vivo na zona do Fundão/ Covilhã e sim há muitas aldeias que têm farmácia, felizmente.

      Na vila onde vivo Silvares há 1, a maioria das aldeias próximas têm 1 de serviço permanente e algumas aldeias têm-na inserida no posto médico.
      Continua a ser um problema mas foi só para corrigir. ☺

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    4. E a de Silvares é bem abastecida...pois há farmácias nas redondezas que têm uma carência enorme de medicamentos, que só vêm por encomenda...

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    5. Ok, correcção: perguntei à minha sogra que explicou que não têm uma farmacia a serio aberta de forma permanente mas no posto medico vêm os medicamentos uma vez por semana. Menos mal, dá para as doenças cronicas. Mas se for algo urgente não têm lá.

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  2. #salvaasfarmacias!!!

    https://www.submersaempalavras.com/

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  3. Continuamos a pagar os “buracos “ das instituições bancaria, com saúde, educação e salários.
    Concordo que é importantíssimo o papel das Farmácias e conhecerem o nosso histórico ao longo do tempo.
    Para quem vive no interior ainda piora. Já não hospitais perto, se fecham as farmácias, não há saúde…
    Eu já assinei, por mais saúde…

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  4. Eu vivo no Porto Santo, onde temos uma farmácia para cerca de 5 mil pessoas. Este número por vezes triplica nos meses de Verão e ir à farmácia é todo um teste à nossa paciência. Durante todo o ano faltam medicamentos básicos, muitas vezes temos que levar substitutos ou esperar semanas que cheguem os que precisamos.. Não sei como funcionam estas coisas, mas pelo que vejo esta farmácia enfrenta dificuldades.. E como nós, muitas outras localidades pequenas sofrem com estas situações.

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    1. A farmácia do Porto Santo também tem outra coisa extraordinária, que é fechar cedíssimo e depois ter de se pagar uma taxa de emergência para lá ir tipo às 19h. Em Agosto, quando a ilha está cheia. para depois sair de lá só com metade do que se precisa, porque os stocks estão a metade. Sempre me fez confusão alguns modelos de gestão de farmácias e esse é um excelente exemplo....

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  5. Eu não entendo...então quem salva as farmácias? Os contribuintes? E porque não salvar outras empresas privadas? As farmácias estão como estão por causa de uma série de fatores, começando pela liberalização, pela concorrência das parafarmácias e pela má gestão e preços absurdos dos alvarás. Agora é normal que não de para todos...

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    1. Nao se esqueça que as farmácias estao a pagar aos utentes as comparticipações do estado e que este não as paga! As outras empresas privadas que tenham a receber dividas de 100 Milhões de euros acho muito bem que sejam salvas! Ninguém está a pedir o que não é seu!!

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  6. Pipoca desculpa que diga mas acho que andas em modo obcecada com as farmácias. Também as uso e é inegável a sua importância MAS não haverá um excesso de oferta?? Onde moro há pelo menos 4! sim quatro farmácias! E desculpa que diga mas os donos ganham pequenas fortunas com elas... Catarina

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    1. Que visão tão egoísta da coisa. Pense no resto das pessoas, que têm que fazer km's para encontrar uma farmácia.
      Também moro num sítio onde não faltam farmácias, mas costumo não olhar só para a minha realidade.
      Acho muito bem o gesto da pipoca. Da minha parte, está assinado.

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    2. Catarina, vá até às aldeias desse Portugal e depois venha cá ler o que escreveu. Excesso de farmácias?!

      Na terra do meu marido só há uma farmácia por perto e nem dá para ir a pé.

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  7. Farmácias = negócio chorudo para os donos e depósito de dinheiro que tanta falta faz aos velhotes! Pensa nisso também...

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    1. Claro, em vez de comprar medicamentos os velhinhos deviam era por o dinheiro debaixo do colchão. Tratarem-se? Por favor!! Os marotos...
      Está certo...

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  8. "Salvar" as farmácias quer dizer o quê, ao certo? Quais as medidas concretas? O financiamento por parte do Estado já está na comparticipação. Financiar mais, é pagar estilos de vida aos donos das Farmácias. As farmácias que vi fechar foi, aliás, fruto de muita má gestão.

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    1. Não é financiar mais. É pagarem o que devem. O financiamento do estado está lá, o pagamento é que não ;)

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  9. As farmácias agora choram… Mas há uns anos não era assim. E não era assim porque os doentes não tinham opção de escolha pelo medicamento genérico ou mais barato. Também não havia as parafarmácias e comprava-se os cremes e restantes medicamentos de venda livre ao preço que as farmácias queriam impor. Era um fartar vilanagem à custa também dos velhinhos…
    As farmácias fazem falta sim, mas têm que se adaptar à concorrência das parafarmácias e das opções relativamente aos medicamentos mais baratos. E há locais em que há farmácias a mais. Na minha cidade, na rua principal há 3 farmácias e a 4ª fica nem a 500m das outras 3. Há que repensar o negócio e não é à custa dos contribuintes.

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  10. Este tema faz-me alguma comichão, porque acredito realmente que as farmácias têm um modelo de negócio que está errado de raiz. Sendo um negócio no sector da saúde não me faz sentido que seja pensado para dar lucro. Não acho ético lucrar-se com a doença e o sofrimento dos outros. Se eu estou doente e há um medicamento de 0,10€ que me cura quero o medicamento que custa 0,10€ não um medicamento igual que custa 10€. Acho estranho pensar-se na farmácia como quem pensa numa Zara ou numa agência de viagens, porque eu recorro à farmácia a maioria das vezes nos momentos de dor e aflição e é na farmácia que encontro o que me pode curar e tirar do sofrimento. Imagino as farmácias como vejo os hospitais, um serviço financiado pelos contribuintes mas também em grande parte pelo Estado. Infelizmente é o que é, e parece-me tarde demais para mudar isto e transformar o modelo de negócio das farmácias.

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    1. anónimo das 11h58 E nessa lógica os donos das farmácias, franshisados e mesmo os próprios funcionários trabalham a custo zero - diga-se para aquecer!!!
      Pense nisso e invista então numa farmácia!! Eu serei cliente imediata!!! :)

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    2. Acaso leu o comentário? Não percebeu que advoga que o modelo das farmácias seja o mesmo modelo que o dos hospitais e centro de saúde?

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    3. Embora a senhora o veja como um negócio financiado pelos contribuintes isso não é de todo verdade. A farmácia é um negócio privado e o estado comparticipa os medicamentos aos utentes, não às farmácias. Quanto ao querer lucrar com as doenças dos utentes, posso dizer como farmacêutica que embora seja necessário lucro para garantir a sustentabilidade do negócio, se sentir que essa é a prioridade do seu farmacêutico então está na hora de mudar de farmácia. Há bons e maus profissionais em todas as áreas. E também os há na farmácia por isso procure o que corresponde às suas expectativas.

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    4. Eu não consigo entender estas teorias, a sério que não. A farmácia não vende só medicamentos sujeito a receita médica, aliás, vende várias coisas além de medicamentos. E trata-se de um negócio, ponto final! Não é com os medicamentos sujeitos a receita médica que os donos de farmácias enriquecem, pode ficar descansada. Mas talvez deva saber que há muitos funcionários nos hospitais públicos a ganhar MUITO dinheiro. E isso sim, devia ser a indignação dos utentes. Informem-se sobre os SIGIC, por exemplo, onde médicos são pagos a peso de ouro por cirurgia para diminuir as listas de espera... sendo que muitas cirurgias passam a SIGIC sem qualquer necessidade. É um verdadeiro tacho! Mas sim, preocupem-se com as farmácias, não se preocupem em pagar 90€ por uma consulta num hospital privado (sem seguro) para ser observada em 5 min e trazer uma receita. Foquem-se, por favor!!!!

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  11. Infelizmente caminhamos para um futuro que só depende de nós. Sou de acordo que devemos salvar as farmácias mas somos tb nós que devemos tomar algumas providencias. Temos (inclusive eu) que começar a pensar que este progresso todo é bom mas que deve ser equilibrado. Deveríamos optar por ir a farmácia em x de irmos as grandes superfícies.

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  12. Eu vou onde é mais barato...os donos das farmácias estão ricos...os das grandes superfícies ricos estão e eu olho pelo meu bolso. Gasto dinheiro sim no ginásio e em alimentação saudável. Gasto tempo e dinheiro a tratar da saúde para não gastar tempo e dinheiro com a doença. Nem farmácias nem parafarmácias ganham muito à minha custa. Graças a Deus passam-se anos sem ir à farmácia. Constipações curam-se com mel, curcuma e açafrão! Medicina!? Ayurvédica. Comigo nem os médicos ganham viagens!

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    1. ... como assim???? Quando tiver cancro (altamente provável) trate com mel e depois conte-me como correu. Se não resultar tente cebolinho, ouvi dizer que faz milagres.

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  13. Fiz o mesmo há cerca de um mês atrás e exatamente nessa farmácia!😉

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  14. Em muitos casos são as farmácias que permitem aos velhinhos ter os seus medicamentos pois magra reforma com" que ficamos" não chega para tudo e temos de fiar os medicamentos...ou porque não há médicos para passar as receitas e a farmácia tem de garantir a medicação...

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  15. Pipoca, de onde é essa camisa linda que tem vestida?

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  16. Com estes comentários consegue-se perceber até onde é que vai o desconhecimento no que diz respeito aos vários conceitos que estão ligados às farmácias. Não percebo como ainda haja quem pense que a comparticipação é financiamento as farmácias por parte do estado. É financiamento ao utente. Um bom trabalhador desconta toda uma vida. Parte desse dinheiro serve para quando precisam de ir a farmácia não pagarem a totalidade do medicamento. A farmácia não inventa preços para os medicamentos. A farmácia não escolhe. A farmácia é um negócio privado que pratica um serviço público. Mais importante. Somos um país supostamente evoluído onde a desigualdade de acesso ao medicamento é cada vez maior. E só estão preocupados com o dinheiro que alguns conseguem faturar aqueles que não têm que percorrer 30km para comprar a medicação que precisam. Só estão preocupados com isso aqueles que não têm 80 anos, não têm pouca mobilidade, nem estão sozinhos, que quando o filho tem febre a meio da noite basta-lhes ir até a farmácia da esquina. É este o problema em Portugal, desde que o meu umbigo esteja bem, está tudo bem.

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Teorias absolutamente espectaculares

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