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Para amamentar é preciso acreditar em fadas

quinta-feira, janeiro 03, 2019

Para mim o tema amamentação nunca foi assim aquela coisa encantada e que faz ver unicórnios a tantas mulheres. Lembro-me perfeitamente de no primeiro curso de preparação para o parto estarmos a ver vídeos de mulheres a extraírem leite com uma bomba e de eu estar a olhar para aquilo como se tivesse um prato de iscas de cebolada à frente. Antes que me venham esfregar na cara todos os estudos da OMS sobre os benefícios da amamentação, e os vínculos mãe-bebé, e que crianças que não mamam são marginais em potência, deixem-me que vos diga que, nos dias que correm, não há como ser desinformado em relação ao tema. Está tudo à disposição, somos bombardeados com toneladas de informação, por isso não há como não saber. Mas depois existe uma coisa chamada "escolha" que, graças a Deus, nos permite isso mesmo: fazer opções e decidir o que é melhor para nós e, neste caso, para a nossa dinâmica familiar.

Voltando ao início. Dizia eu que nunca olhei para a amamentação como o expoente máximo da maternidade. Quanto muito, era um meio necessário para atingir um fim: alimentar uma criança. Mas como há outras hipóteses à disposição, quando o Mateus nasceu já estava 94,2% decidida a não amamentar. Depois o miúdo trocou-me as voltas,
 nasceu mais cedo, assim que pôs um pé neste mundo já alguém lhe tinha espetado um biberão na boca. Tinha de ser, era prematuro, precisava de comer, não se podia esforçar a mamar, blá blá blá. Apesar dos meus 94,2% convictos, houve ali um lado emotivo a puxar por mim e tentei dar de mamar enquanto estive na maternidade. Não foi propriamente um sucesso. O miúdo não estava para aí virado, adormecia, cansava-se e, como já tinha experimentado o biberão e percebeu que era infinitamente mais fácil, nem sequer fazia grande esforço para parecer interessado na mama. Quando chegou a hora de ir para casa tive de tomar uma decisão e optei por não continuar com aquela brincadeira. Não queria passar a vida a stressar por ele não comer, obcecada com os gramas que ele perdia ou ganhava, não saber exactamente que quantidade de leite estava a ingerir, por isso achei que o melhor para todos (sobretudo para a minha sanidade mental) era render-me ao leite adaptado. Não bateu qualquer espécie de arrependimento, mas confesso que na hora de tomar o comprimido para secar o leite fiquei ali a balançar. Mas passou rápido.

Sempre disse que numa segunda gravidez, se tudo corresse bem, talvez fosse capaz de tentar amamentar de forma mais consistente. Mas, claro, não correu tudo bem, na verdade correu tudo pior. A Benedita nasceu e começou logo a ser alimentada por sonda, com leite adaptado. Foi assim um misto de preocupação e alívio. Claro que queria que ela estivesse bem, a alimentar-se normalmente mas, por outro lado, tinham-me tirado de cima o peso da amamentação. Achava eu. Para aí ao segundo dia disseram-me que ela não estava a reagir muito bem ao leite e que talvez fosse bom eu tentar extrair para lhe darem pela sonda. Não pensei duas vezes. Se era o melhor para ela, então vamos a isso. Logo nessa noite deixaram-me uma bomba automática no quarto e lá me dediquei eu à tarefa de tentar tirar qualquer coisinha. Tinham-me dito que tudo se aproveitava, nem que fosse só uma gota, e foi mesmo isso que consegui, uma ou duas gotas. Nos primeiros dias sentia-me envergonhada quando tocava a campainha a pedir que alguém viesse recolher o frasquinho do leite, porque as quantidades eram ridículas. Mas pronto, estava a fazer a minha parte e a rezar para que aquilo fizesse alguma diferença no estado da bebé.

Nos dias seguintes a coisa foi melhorando e tornei-me uma vaca. Mesmo. Os meus dias eram passados a tirar leite, tanto na maternidade como em casa. A cada duas ou três horas lá ia eu e já conseguia encher frascos. Sim, frascos, assim no plural. Podia ter montado um negócio de queijos naquela altura, à conta de tanto leite que tirava. Claro que a miúda não bebia aquilo tudo, nem de perto nem de longe, mas achei que era bom ir fazendo algum stock enquanto desse. Passava o dia no hospital a tirar leite e depois vinha para casa à noite e fazia o mesmo. Às tantas já não podia com o barulho da máquina, estava a ficar maluca, mas estava focada na missão "armazenar leite".

Dois ou três dias antes de a Beni ter alta, quando já não estava a ser alimentada por sonda, começámos a tentar pô-la na mama. A miúda era esperta, aprendeu depressa o que tinha de fazer, mas mamava cinco segundos e adormecia cinco minutos. Era um infernooooooooo! Estava para aí uma hora a tentar que ela comesse e, mesmo assim, depois ainda era preciso fazer um reforço com o biberão. Mas tudo bem, ela era muito pequena, era preciso tempo. Até que viemos para casa. Além da Beni trouxe todo um carregamento do leite que tinha tirado até ali e que, achei eu, ia dar para uns cinco meses.  Eram frascos e mais frascos, achava mesmo que tinha ali leite para a vida. Hã hã.

O processo de alimentar a criança era uma seca pegada porque, basicamente, tinha o pior de vários mundos. Uma hora a dar de mamar, meia hora a dar biberão e a seguir para aí mais meia hora a tirar leite com a bomba. Ou seja, de cada vez que ela comia eram duas horas nisto. E quando acabava já estava quase na hora de recomeçar. Repetia o mantra do "estás a fazer o que é certo, isto é bom para a miúda, estás a fazer o que é certo", mas andava esgotada com aquilo. E a coisa descambou violentamente quando, ao fim de poucos dias, fiz uma mastite. Uma noite acordei a tremer de frio (estávamos em Agosto), não conseguia parar, febre a 40 graus, dores horríveis no peito, uma desgraça. Não fazia ideia do que era, mas fiquei a saber assim que falei com a médica. Continuei a dar de mamar e a tirar leite naqueles dias, foi assim das experiências mais horríveis de todo o sempre. O peito parecia pedra, fazia massagens, punha cenas de água fria, e água quente, e água assim assim, mas não havia meio. Acabei a antibiótico e ficou logo ali assente que se fizesse outra mastite acabava a brincadeira da amamentação. Lamento, mas não tenho vocação para mártir e aquilo não era bom para ninguém.

Mas pronto, a mastite passou e eu estava determinada em continuar com a amamentação exclusiva pelo menos até aos três meses. Quando a coisa corria bem (ou seja, quando não estava cheia de dores e com o peito todo destruído) era realmente um momento muito bom. Probleminha: depois da mastite a produção de leite diminuiu drasticamente. Eu, que enchia frascos a cada extração, de repente levava três ou quatro dias para conseguir juntar o suficiente para um biberão. Toda a gente dizia "tens de estimular, tens de estimular, tens de estimular", mas não havia maneira. Continuava a dar de mamar, continuava a tentar tirar com a bomba, mas acho que nem com o Brad Pitt a lamber-me as mamas conseguia estimular mais. E, claro, fui começando a ficar cada vez mais stressada. A miúda mamava, mas não era o suficiente, estava ali uma hora ou mais e continuava a chorar, por isso lá ia eu ao stock de leite congelado. Stock esse que não conseguia repor, porque já não estava a conseguir tirar quase nada. Os frascos que eu achava que iam dar para uma vida estavam a desaparecer à velocidade da luz.

Penso que foi mais ou menos nesta altura, em que estava a passar-me da cabeça, que pedi ajuda à Constança, do Centro do Bebé. E lembro-me perfeitamente de ela me ter dito que "para amamentar é preciso acreditar em fadas". E é mesmo, filhos. Eu sei que não faltam para aí pessoas com histórias maravilhosas, com processos de amamentação que sempre correram às mil maravilhas, mas não foi mesmo o meu caso. E nem sequer foi má vontade ou embirração, eu estava mesmo decidida a que a coisa corresse bem e que se prolongasse. E, quando não se consegue, começa a bater aquele sentimento de frustração. E irritação. Há tantos factores que podem contribuir para que a amamentação corra mal, que só mesmo acreditando em fadas é que podemos achar que vai tudo ser um mar de rosas. A pediatra da Beni, que sempre achou que eu jamais daria de mamar, dizia-me que já tinha feito a minha parte, que tinha amamentado no período mais crítico da bebé, mas eu sentia que não era o suficiente. E quando ela me aconselhou a comprar uma lata de leite adaptado, só para ter em casa assim em modo SOS, aquilo foi uma facada no coração. Comprei a lata, mas resisti até aos limites do impossível.

E o impossível foi quando o stock de leite congelado acabou, quando não conseguia tirar praticamente nada,  e quando, na consulta dos dois meses, se percebeu que a miúda não estava a crescer tanto como o suposto. Segundo a pediatra, era preciso dar ali um boost com leite adaptado. E da mesma maneira que não pensei duas vezes quando, na maternidade, me disseram que precisava de tirar leite para lhe dar, também não pensei duas vezes quando me disseram que precisava do leite de lata. Se era o melhor para ela, então siga. Até porque não havia mesmo outro remédio. Durante algum tempo, pouco, ainda tentei continuar a amamentar e dar o leite adaptado, mas não havia volta a dar, o meu leite tinha mesmo falecido, paz à sua alma. A miúda ficava ali mais no mimo do que outra coisa, mas depois o que a alimentava mesmo era o biberão. Por isso dei por encerrado o tema amamentação. 

Não atingi a meta que tinha traçado, mas fiquei de consciência tranquila. Sei que fiz tudo aquilo que estava ao meu alcance, sei que passei horas e horas e horas a amamentar e a tirar leite, sei que houve momentos horríveis, e esgotantes e cheios de dores, e outros muito bons e tranquilos. Olhando para trás, com a devida distância, acho que o balanço até foi positivo. Mas, e agora com a devida propriedade, posso dizer que continuo a achar que não é essa maravilha toda que tanta gente apregoa. É bom quando corre bem, é uma merda desesperante quando corre mal, por isso não sei se repetia. A sociedade ainda está muito virada para a culpabilização das mulheres que, por um motivo ou por outro, optam por não amamentar. Lembro-me, quando foi do Mateus, várias pessoas me dizerem "não digas que não estás a amamentar por opção, diz que é por não teres leite". Olha que merda, hã? Então agora não posso decidir o que quero fazer com os meus filhos e com as minhas mamas sem ter gente a moer-me o juízo?

Que cada mãe faça o que quer e o que, em consciência, acredita ser o melhor. Se for amamentar, óptimo. Mas só enquanto for bom, porque depois disso torna-se um suplício e ninguém ganha nada com isso.

235 comentários:

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Anónimo disse...

Tendo em conta que a resposta para mim foi "pequena doida da mama" confio muito mais naquilo que aquela pessoa está a dizer do que em ti.
Argumentar ad hominem em vez de argumentar contra a ideia ou mensagem diz mesmo muito de ti.

E o ataque está a ser partilhado nos grupos de Facebook. Acredites ou não o problema é teu.

E só respondendo novamente aos anónimos: nós somos animais e biologicamente a espécie humana não teria sobrevivido sem a amamentação. Percebem isso certo?
Isso não quer dizer que actualmente não estejamos numa fase onde se pode optar por dar ou não o leite materno. Mas em termos de evolução a função das mamas nas mulheres é para amamentar e não para fazer as delícias dos homens... Qualquer livro de ciência a partir do 5o ano explica o motivo pelo qual os homens também as têm.

Unknown disse...

👍Completamente de acordo

Unknown disse...

Concordo plenamente consigo. Muito bem escrito 👍

Anónimo disse...

Tenho sim. Dois rapazes e uma rapariga. Venho de uma família grande, com muitas raparigas, tenho imensas tias, primas e sobrinhas.Ajudamo-nos umas às outras nestas questões da maternidade. Corre bem com a grande maioria, porque somos pessoas descomplicadas. Quando há problemas resolvem-se, e há sempre leite na farmácia.

Anónimo disse...

Anon das 00:31h lamento o que aconteceu consigo, mas não tem mal dizer que as coisas estão estáveis, pq na realidade elas estão até deixar de estar. Acho que ninguém que diz que tem isto ou aquilo estável, que o diz como sinónimo de adquirido para a vida. Apenas o diz pq de naquele momento aparenta estar estável. A instabilidade pode chegar na semana seguinte, anos depois ou até nunca chegar. Olhe é como um vulcão, nunca está extinto mas sim adormecido pode eclodir a qualquer momento, prefiro esta analogia. Além de que acho que se as mulheres começarem todas a desconfiar da estabilidade, vai contra aquilo que é um dos pilares de uma relação, a confiança. Se agora começassem todas com dúvidas e incertezas acha que seria saudável, quer para o relacionamento quer para elas próprias? A sua realidade não tem que ser a mesma realidade de toda a gente. Uma vez mais, lamento o que teve de passar, mas tem que ultrapassar isso, sem andar a meter macacos na cabeça das outras mulheres.

Anónimo disse...

Sim vale a pena! Nao sou uma pessoa de grandes floreados e sim a maternidade tem um lado mau e pouco falado. Sempre quis ser mae e quando engravidei fiquei tao emocionada, nem parecia eu :).... só pensava como é possível conseguir gerar um filho..Uma coisinha que começa a ganhar vida tão rápido dentro de nós. O amor que se sente por um filho é inexplicável...porque fomos nós que o fizemos, porque esteve protegido dentro de nos durante 9 meses, porque é nosso! Anónima que esta com tantas dúvidas e com tantos medos, todas nós temos passamos por isso mas acredite, se um dia for mae vai ver que é a melhor coisa que lhe aconteceu na vida. Dificuldades??muitas! Mas tudo se consegue. Beijinho*

apipocamaisdoce disse...

Repito: se essa pessoa diz que lhe chamei directamente “vaca leiteira” está só a ser desonesta (que é uma forma simpática de lhe chamar mentirosa). E se está a espalhar isso nos grupos de Facebook, então é só doente. Mas, repito, ela que mostre onde é que eu escrevi isso. É que só um “ela disse que” é insuficiente. Quanto ao não acreditar em mim... ohhhh. Que informação dramática.

Unknown disse...

Eu acho que a maioria dos profissionais de saúde não tem, de facto, conhecimentos muito especializados em amamentação. Acho que têm boas intenções e são geralmente a favor mas depois quando a coisa não corre bem esgotam rapidamente as soluções e são obrigados a aconselhar o LA, por falta de alternativas. Há mais coisas a fazer além de corrigir pegas e eu acho que a maioria fica-se por aí. Por exemplo há uma coisa excelente para bebés que dormem na mama que é usar uma sona nasogástrica ligada a um biberon e à mama para dar o suplemento (conhecido como sistema de relactacão) que ajuda a que: eles se entusiasmem mais na mama por o fluxo de leite ser maior, durmam menos porque têm de beber um caudal maior e ao mesmo tempo estimula mais a mama porque estão mais tempo a mamar e de forma eficaz. Há poucos profissionais que conheçam esta técnica e a aconselhem. Eu acho que não é por mal é apenas por desconhecimento. E foi o que me resolveu o meu problema no terceiro bebé que dormia imenso. Depois de duas amamentações bem sucedidas estava a custar-me que a coisa estivesse a correr mal. Pedi ajuda mas passei por 3 pessoas (especialistas no assunto) até conseguir resolver o problema. E até foi simples, mas com o método certo. Pipoca, caso não tenha experimentado este método, fica o dica para um futuro bebé. ;)

Catarina C. Lopes disse...

https://www.scimed.pt/geral/amamentacao-materna-sim-os-beneficios-sao-exagerados/

Vale a pena ler! ;)

Anónimo disse...

Quando a minha filha nasceu o leite demorou pelo menos 3 dias a subir. As enfermeiras dos Lusíadas queriam à força que amamentasse a minha bebé pelo que só insistiam na mama e a bebé já sem se conseguir alimentar. Chegou ao ponto de aparecer o neonatologista para ver a menina e dizer q ela tinha q ser alimentada rapidamente a biberão porque já estava em fraqueza, que não era normal estar há tanto tempo a dormir, etc. Tudo porque as fanáticas da amamentação depois de muitos pedidos meus não foram capazes de trazer uma biberão para alimentar a bebé. Nunca me hei-de esquecer.

Anónimo disse...

O meu filho nunca conseguiu pegar numa chucha ou numa tetina e amamentei até aos 2 anos...também fui "atacada" até por amigas minhas que diziam ser um exagero...mas que podia eu fazer...a hipótese era o puto não beber leite...enfim, somos presas por ter cão e presas por não ter!

Anónimo disse...

Já tinha lido e vale a pena ler porque são artigos exclusivamente científicos e desmistificam muitas teorias.

Quelinha disse...

Não precisa acreditar em contos de fada,mas precisa sentir se bem num todo e isso apenas cada mãe sabe exactamente aquilo que sente e o que deverá fazer. Tenho duas filhas uma de 3anos mamou leite materno até aos 22meses e outra de 6meses e faz exclusivamente leite materno, existem alguns segredos para a amamentação dar certo muita persistência, paciência, e claro querer mesmo muito mas e só apenas se o nosso corpo e a nossa mente tiver condições para tal. Felizmente o meu caso, foi célebre...doeu algumas vezes doeu, sacrifiquei o meu tempo e aprendi a geri lo teve de ser, as crianças são mais saudáveis isso é relativo, não sei o que são biberons não sei mas penso que nenhuma mãe deva sentir se mais ou menos por causa da amamentação, acho que devem fazer aquilo com o qual se sintam bem consigo e com os seus bebés desde que alimentem a criança e sintam felizes apenas isso importa. A mulher tem de aprender a ser tolerante para consigo e as suas semelhantes seja qual for a sua condição, a pretensão de amamentar deve ser discussao apenas consigo mesmo e não com as demais, não deveríamos descriminar ou fazer observações em relação a assuntos tao intimos e pessoais. Qto aos comentários todos quando temos filhos ouvimos desde o amamentar, educar, modo de vestir etc etc acho que se ouvesse tolerância menos importância a determinados assuntos seriamos todos mais felizes e não havia rivalidades e discriminações. Beijinhos

Anónimo disse...

Anónima 05 janeiro, 2019 17:22, não me parece ser prudente recomendar que, tendo muitas dúvidas, deve avançar à mesma. Depois não dá para voltar atrás e não, nem todas as mães acham que os filhos são a melhor coisa que lhes aconteceu na vida.

Unknown disse...

Muito obrigada anónimo das 20:56. É isso mesmo..! Felicidades, beijinho.

Anónimo disse...

Detesto essa expressão, vaca leiteira. É tão, tão reles, tão pejorativa. Uma mulher que amamenta é no máximo uma mulher leiteira, quer dizer, porquê vaca? É por isso que pessoalmente acho que quem à partida não quer mesmo dar de mamar (e vamos lá, é sempre quem faz a alegoria vaca leiteira) o faz por preconceitos e não por via de uma decisão informada. Dar de mamar também é coisa de mulher. Decidir não dar de mamar também é coisa de mulher, e se o faz de acordo com o seu próprio contexto, acho muito bem, cada uma sabe de si. Mas antes de decidir, informem-se como deve ser - não sobre quão melhor o leite materno é, eu sei que sabem isso - mas acerca de como dar de mamar é um acto perfeitamente natural, sendo a espécie humana do tipo mamífero (que quer precisamente dizer "que tem mamas").

Anónimo disse...

Anónimo das 19:51, tem razão quando diz que são perguntas normais, o problema é quando digo que não estou a amamentar e automaticamente a expressão das pessoas muda. É a única pergunta das que enumerou que gera apontar de dedos e reprovações, entende?

Anónimo disse...

Eu juro que pensava que numa unidade privada respeitassem bem mais a opção da mãe!! Comigo estava logo tudo tramado porque eu não tenho qualquer vontade de amamentar e não é não

AEnima disse...

Inês, eu conheço bem os estudos, o meu grupo de trabalho faz investigação na áreas ha mais de 30 anos e são os que lideram muitos dos estudos adoptados pela OMS. Não é verdade que essas são as únicas vantagens. Estão provados muitos outroa benefícios do lei materno como o risco inferior de ter diabetes tipo 2 em adulto, maxilar e dentição melhor desenvolvida, menor risco de obesidade e problemas gastro intestinais, media de QI superior em 7 pontos, dezenas mais.

Amamentar é uma escolha e é mais importante uma mãe feliz que uma a dar em doida ao amamentar, mas nao desprezemos também o valor do leite materno.

Como uma profissional da amamentação dizia aí em cima, um dos piores problemas em Portugal é a falta de pessoal especializado no apoio à amamentação, que ajude eficazmente as mães que querem amamentar, porque é muito difícil! O meu filho nasceu com um freio de língua e nunca conseguiu encaixar bem e eu acabei por tirar leite à bomba durante 6 meses e meio, mas infelizmente precisava de suplemento também, porque eu nao tinha a quantidade toda que ele queria mamar. Sinto-me orgulhosa de ter conseguido bombear tantos meses... 6 vezes ao dia é sermos escrava das mamas e das bombas e não gozei o meu tempo com ele como gostaria. Há prós e contras. Acho que fiz o melhor que sabia e cada mãe que faça o que lhe assente bem... só vamos é dar crédito onde é devido e leito materno tem sim muito mais vantagens que as que diz e por consequências para o resto da vida.

AEnima disse...

Vale a pena. Fui mãe aos 40, sou workaholic assumida, carreira de sucesso, viagens por todo o mundo de trabalho a toda a hora, adoro a liberdade de não ter prisões a terras, países, empregos e ter a felicidade (financeira) de poder ser impulsiva. Foi num impulso desses que me deu na telha - e se tivessemos um filho? E ainda bem que engravidei à primeira tentativa porque se me punha a pensar muito nessas coisas todas ainda me arrependia. E é difícil mas maravilhoso ter um ser no mundo que parece posto na terra só para a fazer feliz e complementar. Passei muitos problemas na gravidez e com a amamentação, e varizes e outras coisas chatas mas nada supera a felicidade e ter o meu ruivinho mais lindo comigo. Já planeio o segundo, mesmo nesta idade!

Vale a pena.
Tenho amigas que sempre adiaram e agora é tarde demais e arrependem-se de por a carreira só em primeiro lugar. Nao sei. Eu acho que seria muito feliz toda a minha vida se não tivesse filhos também, e que ser mãe nao é o que faz a mulher completa. A mulher já é completa sozinha por si só. Mas admito que estou a amar ser mãe

Abraço

Anónimo disse...


Anónimo 04 janeiro, 2019 19:51 Eu consigo destinguir as perguntas banais da intromissão! Já conheço as pessoas que me rodeiam. As perguntas podem e devem ser feitas! Podemos e devemos ajudar umas às outras, partilhar experiências. Mas há um certo limite!
E sei bem quem são as pessoas que me vão julgar pelas minhas escolhas! São as mesmas que à minha frente julgam as outras amigas.

Anónimo disse...

" É a única pergunta das que enumerou que gera apontar de dedos e reprovações, entende? " a serio? entao deve ter tido muita sorte, olhe os exemplos abaixo:

Entao como correu o parto? ai corror fizeste cesariana no privado? mae a serio tem parto vaginal sem epidural que é melhor para o bebe...

E nasceu com que peso? tao magrinho? ah, nao te deves ter alimentado bem durante a gravidez e agora por tua culpa o bebe tem pouco peso...

E ja consegues andar bem, conduzir? ah passado 3 dias ainda estás com dificulades? ah nao deves ter usado a cinta pos parto em condições nem tratado bem da cicatrização dos pontos, a culpa é tua...

E como foi da licença do trabalho? ah so vais tirar o minimo? isso é pessimo para o bebe porque vais trabalhar tao cedo, coitadinho vai logo para a cresce apanhar doenças com os outros meninos..ah vais tirar licença alargada? ai coitada, vais-te lixar no emprego, quando voltares mudam-te as funções ou despedem-te

E o bebe dorme bem? ah dorme pouco por noite? pois, nao deves ter uma rotina correcta para ele adormecer, deves estar a fazer isso errado..adormece ao colo? pois assim ele apanha maus habitos e estás lixada nunca vai dormir, devias habitua-lo à cama dele...

tudo na gravidez, parto e bebé pode gerar reprovações e apontar de dedos, tudo... so depende se a pessoa que faz a pergunta é parva ou nao... no meu caso, a amigas proximas, perguntei sobre a amamentação e quando dizem que não amamento fico so curiosa para saber porquê, mas ja percebi que é tabu e a unica que nao amamenta nao me disse porquê. eu nao sou mae, nao faço ideia do que é amamentar, e para mim é importante perceber o que existe, quais as dificuldades, como se ultrapassam, quais as alternativas. Se nao se pergunta a amigas ou se vê na net ou nem se faz ideia de que as coisas existem. Por ex, eu descobri há pouco tempo q existiam bicos de silicone ou por outro lado que existem comprimidos para secar o leite quando se quer parar de amamentar.

Anónimo disse...

Se passarem os dias agarradas às mamas da mãe, será esquisito sim, se for para dormir só pelo mimo, não vejo mal.

Anónimo disse...

eu digo vaca leiteira porque é precisamente de onde vem o leite artificial que consumo: das vacas. Ora se eu e o meu marido hoje em dia bebemos leite das vacas leiteiras, se um dia tiver filhos e amamentar, passo a ser eu a vaca leiteira.

ter filhos é natural, temos a menstruação todos os meses por causa disso, mas mesmo assim, a maioria das mulheres toma contraceptivos para nao engravidar. Ninguem diz que amamentar nao é natural, o que algumas pessoas sentem é que é um acto estranho, que nao lhes faz sentido. Isso é preconceito? Como digo é equivalente ao tomar contraceptivos. E o aborto por malformação do feto? É natural? O natural era prosseguir com a gravidez ate ao fim, nao fazer exames medicos, e venha o que vier. Mas ninguem faz isso. O mundo muda, as pessoas mudam, e usam a ciencia e a evolução a seu favor. Se nao houvesse alternativa, claro que todas iam amamentar, ninguem ia deixar o bebe morrer de fome. Mas se há alternativa artificial, entao qual o problema.

No meu caso pessoal: faz-me imensa confusao o acto de mamar, e vejo as minhas mamas como um objecto sexual. Sem querer ofender mas sendo absolutamente sincera: imaginar um bebe a sugar leite das minhas mamas é tao estranho como imaginar a lamber a vagina... sao duas partes do meu corpo sexuais, as quais pretendo utilizar com o meu marido e nao com um bebe. MAS, e agora aqui está um grande mas, eu se um dia vier a engravidar, pretendo ter tudo pronto para uma opção e para outra, e so no momento em que tiver o bebe ao colo decidir, porque já percebi que com a cena das hormonas e o tal instinto de mae na altura, toda a minha visao do mundo pode mudar. Por isso nao rejeito a 100% a amamentação á priori, na hora logo vejo se me faz sentido ou nao.

Anónimo disse...

"É por isso que pessoalmente acho que quem à partida não quer mesmo dar de mamar o faz por preconceitos e não por via de uma decisão informada."

Que preconceitos? Aquele casal de psicologos infantis que entendeu que a mae nao ia dar de mamar para evitar que o vinculo fosse maioritariamente mae/bebe, decidiu logo à partida que iam os dois dar biberao, exactamente o mesmo numero de vezes para o vinculo pai/bebe ser exactamente o mesmo que mae/bebe. Acha que estão mal informados? Eu conheço um miudo que ate aos 18m so queria a mae, de noite era sempre a mae que se levantava e nunca queria que o pai o viesse acalmar mesmo depois de ja estar a tomar biberao porque nos primeiros meses como mamou estava muito mais tempo com a mae. Sao ideias....

Há por ex quem fume, tenha de parar/reduzir durante a gravidez e nao queira prolongar esse sacrificio durante o parto...

Tantas razoes haverá que nao consigo relacionar com preconceito.

Anónimo disse...

Anónimo04 janeiro, 2019 20:01, eu sinceramente não estou interessada na opinião dos outros, quero saber informação científica e objectiva. Tenho uma formação que nada tem a ver com ciências e tenho poucas pessoas próximas com filhos, então quando engravidei inscrevemo-nos num daqueles cursos pré-parto cujas aulas são dadas por enfermeiros especialistas e ofereceram-me um livro de uma médica, também descarreguei uma app que vai dando informações semana a semana... tudo isso bastou para que obtivesse a informação objectiva e clara que precisava (mais as consultas com a minha obstetra, claro).

Agora, ter amigas, colegas, conhecidas a dizerem-me que estiveram 48h em trabalho de parto ou apenas 6h, que tiveram muitos ou nenhuns enjoos, que os filhos dormem muito mal ou muito bem... isso é-me irrelevante! Já viu os milhões de pessoas em todo o mundo que já foram mães/pais e as experiências tão diferentes que já tiveram? Não nos acrescenta nada saber como correu com A ou B, connosco pode correr igual ou diferente, eu prefiro ter o mínimo de preconceitos possíveis e partir para a experiência à descoberta, que andar numa tensão e a sofrer por antecipação. A minha médica diz sempre que eu sou das grávidas mais calmas que já viu e quando vou a forums ou blogs de outras grávidas ou mulheres já mães, acho aquilo uma doidice pegada e nem sei como há quem esteja em tal loucura.

Tenho plena confiança em mim e no meu marido e em como não somos nem mais, nem menos que os tais milhões de pessoas que já passaram por isto. E sabemos que é o que queremos, como já soubemos antes noutras escolhas da vida (que eram reversíveis, é verdade), por isso estou tranquila e dispenso informação subjectiva dos outros :)

Anónimo disse...

se eu percebi bem a primeira anonima ela pediu varias vezes o biberao e foi recusado. deixaram o bebe ficar com fome e so o neonatalogista resolveu. logo nao percebi o seu comentario de nao é nao.

o meu avo morreu num hospital à fome. tinha sido operado a um cancro nos intestinos e nao conseguia comer "comida normal", pedimos, imploramos, exigimos, que lhe dessem comida por sonda e recusaram sempre porque nao tinham recursos para isso, chegavam la à cama dele com um tabuleiro da comida normal e deixavam la. fomos ver se podiamos comprar essa comida por sonda e nao podiamos, nao vendem a pessoas individuais, so a hospitais, tentamos transferir para um hospital privado e foi recusado pq era um caso dificil, nao lhes dava jeito. Isto so para dizer que por muito que uma pessoa se tente impor nisto da saude, é muito dificil ter as vontades respeitadas num hospital

(PS: sim eu sei que isto é ilegal, e sim fizemos queixa do hospital, o meu avo morreu em 2013, fomos chamados a depor mas após isso nada aconteceu)

Maria disse...

Anónimo das 12h44

Não é um assunto tabu mas é um assunto sensível. :) Muitas mulheres têm o forte desejo de amamentar e quando não conseguem ou mudam de ideias, nem sempre é fácil gerir isso, sentem-se muitas vezes frustradas ou têm a sensação de que falharam, mesmo que não o digam ou mostrem. Para além disso, há sempre o receio de julgamento por parte dos outros ou de pedidos insistentes de explicações e até conselhos que não foram pedidos.
Até eu, pessoa sempre muito bem resolvida quanto ao tema amamentação, processo que nunca me seduziu e que por isso cheguei à maternidade a dizer "se resultar, amamento, se não resultar, venha o biberão sem arrependimentos", dei por mim a passar uma noite a chorar e a sentir-me a pior mãe do mundo logo na maternidade por querer desistir de amamentar e querer escolher o biberão. Porquê? Sei lá, a descarga hormonal após o parto, o peso da responsabilidade de um bebé, ele depender de mim, as dores da amamentação, o choro dele. Três anos depois falo disto sem problemas mas na altura quando escolhi o biberão não queria falar com ninguém sobre o assunto. Não era tabu mas eu estava a processar a decisão que tinha tomado. E se isto foi assim para quem amamentar nunca foi um grande objectivo, não imagino como será para quem gostaria mesmo muito.

Eu lembro-me de mais tarde explicar a amigas porque não estava a amamentar, mas também me lembro de estar na defensiva. Nenhuma era mãe (e mesmo que fosse) e eu temia alguma pergunta do tipo "mas não teria valido a pena insistir?","porque é que não tentaste isto ou aquilo?", porque mesmo que não haja julgamentos, parece que temos de nos justificar como se tivéssemos feito alguma decisão errada.
A pessoas com quem não tinha confiança simplesmente achava tolo estar a explicar o que tinha decidido fazer com as minhas mamas. Se calhar essas pessoas acharam que o tema era tabu para mim, mas nem era isso, era mesmo eu achar uma idiotice estar a discutir as minhas mamas com outras pessoas.

Já agora, nem todos os médicos são a favor desses comprimidos para secar o leite devido aos riscos associados. Eu não os tomei e deixei simplesmente o peito secar o leite, não amamentando de forma a não produzir mais (e com outras dicas adicionais). :)

Anónimo disse...

Não, não fazemos tudo. Eles são importantes, mas nós também.

Anónimo disse...

O seu caso é um caso. Eu considero o meu casamento estável, porquê desconfiar? Que triste deve ser essa vidinha...

Unknown disse...

Grande testemunho, no meu primeiro filho só consegui dar de mamar até ao seu sexto dia se vida, acabou não saía mais nada, da segunda vez coloquei na cabeça que tinha de ser e mais nada, mas a minha sanidade mental também tem de ser levada em frente e passar 1 hora à dar de mamar e depois ainda ter de dar biberon, andava esgotada mas lá consegui ir até aos 15 dias. Não me arrependo de dar só biberon, sei que ela está bem eu estou bem e só isso interessa.

Anónimo disse...

Cada uma deve escolher o que for melhor para si e para o bebé...amamentei até aos seis meses. No princípio foi muito duro (fui três vezes ao hospital com o peito em pedra)...o bebé não puxava o suficiente e passados uns meses, não me parecia que ele se saciasse só com o leite materno pois fazia sestas de minutos e eu não fazia mais nada do que andar naquele stress das mamadas (acabava uma e tinha que me preparar para outra) Por isso, iniciei suplemento a par da mama num processo gradual e progressivo.

Anónimo disse...

A Inês não estragou tudo. Ela provavelmente não sabia, pois a nossa cultura está já tão voltada para o biberão que comportamentos normais nos parecem estranhos (e que as vzs ocorrem tb com biberões, daí as mães desesperadas a trocarem de tetina e de marca de leite). Ela apenas fez um comentário, não sei pq se sentiram tão ofendidas.

A maioria das mães têm potencial para amamentar, mas nem todas, no mundo atual, conseguem ou querem ou pq é mto difícil ou pq como disse a autora, não lhes faz feliz e para o bebe estar bem a mãe precisa de estar bem.

theknave disse...

Eu na maternidade sofri uma pressão horrorosa para amamentar, sendo que a mina filha nasceu permatura e o meu peito era de bico raso, ou seja, extremamente difícil para a pequena pegar. Ela chorava que nem desalmada e as enfermeiras gritavam comigo porque não conseguia, e porque não queria, e fiquei dez dias com ela na maternidade, portanto o desgaste psicológico que levei, levou-me quase a uma depressão pós-parto, porque eu sentia-me uma merda e cada vez que a ouvia chorar me sentia mais culpada ainda até que uma enfermeira finalmente percebeu que eu tinha pouco leite - sendo que já tinha explicado a umas 183818492939 enfermeiras que a questão de eu não conseguir amamentar provavelmente era hereditária porque a minha mãe teve exactamente os mesmos problemas e o peito dela era do mesmo tipo do meu. Resumindo e concluindo, durante os dias que lá estive ela bebeu (muito pouco) do leite que conseguia extrair com bomba, o que doía horrores e causava grande incómodo, e bebia LA da maternidade, que as enfermeiras ainda me olhavam torto a cada mamada que eu ia lá pedir.
Mal saí de lá, nunca mais extraí leite porque as dores no peito não compensavam os 10ml que saíam (de ambas as mamas). Segue com LA até agora e é uma criança rechonchudimha aos dois meses.
Este texto ajudou-me a perceber que não fiz nada de errado, obrigada, de verdade 💕

Unknown disse...

A sobrevivencia da especie humana foi pela amamentação...resistencia e sobrevivencia a virus,bacterias, seca e fome...é apenas uma vantagem adaptativa em tempos de fartura e sem epidemias. incomparavelmente mais cansativa que uma lata de leite de uma vaca para o seu bezerro na farmacia mais proxima,...

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