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Quem disse que não é para mim?

sexta-feira, setembro 15, 2017


Uma noite estava muito sossegada a assistir a um espectáculo de stand up quando, num número de comédia de improviso, pediram a alguém do público que fosse ao palco. A minha amiga Raquel, uma jóia de moça mas incapaz de estar sossegada, não conseguiu ficar calada: não só se ofereceu para ir como me levou por arrasto. Não tínhamos de fazer nada de especial, basicamente só falar um pouco sobre nós, da nossa amizade, do nosso dia-a-dia, e depois seria improvisada uma cena humorística com base nas informações dadas por nós. Foi muito divertido, passou-se um bocado agradável e pronto, nunca mais pensei no assunto. Até que, algum tempo depois, não muito, alguém me ligou. Era um dos produtores do roast que estava a ser preparado para SIC Radical, que me tinha visto no tal espectáculo de stand up em que subi a palco e que me queria convidar para ser uma das participantes do roast. Oi? Hein? Como? Eu? Gostava muito de comédia, era consumidora habitual de stand up, mas daí a ir para o palco fazer graçolas em frente ao mundo ia toooooooda uma distância.  Não sei o que me passou pela cabeça, mas aceitei de imediato. É coisa que me sucede muito, quanto mais
as coisas me aterrorizam, mais eu me voluntario a fazê-las. Na hora nem penso, mas depois, até chegar ao acontecimento propriamente dito, fico ali a consumir-me em dúvidas, preocupação e medo de me espalhar ao comprido. A experiência do roast correu bem (podem ler aqui como foi) e, por causa disso, pouco tempo depois, surgiu outro convite: participar num espectáculo de stand up. Depois disso participei em mais três ou quatro, e o sentimento é o mesmo que tenho quando me enfio numa daquelas montanhas russas vertiginosas da Disney: antes de ir maldigo a minha vida, tenho vontade de me esbofetear, pergunto-me mil vezes "porque raio é que vou?? Não fiz mal a ninguém", mas depois aquilo passa e já estou a querer saber quando é que vai ser a próxima vez. 

O stand up é a coisa mais arriscada que já fiz na vida. A ideia de saber que vamos subir para um palco, com a missão de fazer os outros rir, é duríssima e dá um medo desgraçado. As semanas em que tenho espectáculo são as mais stressantes da minha vida, aquilo consome-me os nervos, parece que estou à beira de fazer um qualquer exame absolutamente determinante para a minha vida. E quando não tenho espectáculos, como agora, são raras as semanas em que não sonho que estou prestes a subir a palco e que não preparei o texto ou que me esqueci. É para verem o nível de stress que isto me provoca. Mas, ao mesmo tempo, é uma sensação incrível (sobretudo quando acaba!). O humor é o meu meio, é a linguagem com que mais me identifico, era capaz de assistir a maratonas de stand up e, felizmente, em Portugal, há gente mesmo muito, muito boa. O Hugo Sousa, o Guilherme Fonseca, o Sinel de Cordes, o Diogo Batáguas, o Salvador Martinha... mas, e mulheres? Pois, não há. Ou melhor, há poucas e que trabalham muito esporadicamente. Tradicionalmente, é um meio mais masculino, mesmo lá fora. Na Netflix há vários espectáculos internacionais de stand up protagonizados por mulheres (já os vi todos, claro), mas são muitíssimos mais os de homens. E é pena. Porque nós também temos piada, porque temos uma linguagem própria, uma forma diferente de abordar os temas, um registo mais específico. 

Durante muito tempo via espectáculos de stand up e, lá assim muito no fundinho, pensava que um dia também gostaria de experimentar. Há uns anos ainda pensei inscrever-me num workshop, mas depois pensei "aaahhh, na, isto não é para mim". Foi preciso alguém olhar para mim e encontrar ali uma pontinha de potencial para eu me decidir a começar. Continuo a ser altamente crítica comigo mesma, continuo a achar que tenho um longuíssimo caminho a percorrer neste mundo, continuo a sentir-me super insegura e a ter um medo do caraças de cada vez que subo a palco, mas já não penso que o stand up não é para mim.

Quase toda a gente vive um bocadinho ensombrada por essa ideia de que gostaria de fazer alguma coisa mas acha que não é para si. E acho que nisso nós, mulheres, somos mais vítimas. Ao longo de séculos fomos ouvindo que isto ou aquilo não era para nós, que eram coisas exclusivas dos homens mas, graças a todos os santos e a muito trabalhinho, a maioria desses mitos têm caído por terra. Hoje em dia, uma mulher pode ser aquilo que quiser, mesmo que haja uma data de barreiras ou de estigmas que ainda persistem. Às vezes somos nós mesmas a impor-nos esses limites, e isso é o pior. Coisas simples como "não vou vestir uma mini-saia porque não sei o que vão pensar de mim", ou "não vou usar um batom vermelho no trabalho porque depois não me levam a sério", ou "não vou usar este vestido porque estou com peso a mais", ou "não vou usar o cabelo curto porque toda a gente diz que não fica bem com a minha cara", ou "não vou convidar um homem para beber um copo porque é ele que tem de dar o primeiro passo", ou "adorava cantar num karaoke, mas acho que não é para mim", ou "adorava aprender japonês, mas acho que não vou conseguir", ou, ou, ou. O "não" continua a estar demasiado presente na nossa vida, e está na hora de nos libertarmos um bocadinho disso. No meu caso (e apesar de também ter uma grande percentagem de negativismo na minha vida) o "não" funciona muito bem quando são os outros a dizer-me que eu NÃO consigo ou NÃO devo fazer uma coisa. Nada me motiva mais do que contrariar todos esses nãos. Foi um bocadinho assim com a maratona (o maior desafio de sempre, que tanta gente me disse que eu NÃO ia ser capaz), tem sido assim com o stand up e tem sido assim com tantas outras coisas na minha vida.

Para provar que não há "NÃO" que nos limite, a Quem Disse, Berenice? lançou uma campanha divertida e super positiva que quer pôr todas as mulheres do mundo a superaram-se diariamente. A atingirem pequenas ou grandes conquistas. A provarem que são capazes de fazerem o que quiserem, desde que o queiram verdadeiramente. Passem no Facebook da marca, saibam tudo sobre esta campanha, espreitem o vídeo e vejam como a maquilhagem também pode ajudar a quebrar alguns tabus. E acreditem, meus amigos, se eu fui capaz de correr uma maratona e de subir a um palco para fazer stand-up, vocês são capazes de tudo o que quiserem nesta vida. Posto isto, partilhem comigo aquilo que acham que não é para vocês e vamos lá dar a volta a esses tabus! =)


Post em parceria com Quem Disse, Berenice?

35 comentários:

Anónimo disse...

Há, a Catarina Matos. A prova de que humor e achincalhamento e ajavardanço são coisas diferentes. De que humor e agressividade gratuita idem, está aí o maior humorista português da atualidade para o provar, RAP de seu nome.

Unknown disse...

Olha eu sempre achei que o Stand Up era para ti! Assim que vi que ias participar no Roast não achei nada estranho. Se pões milhares de pessoas a rir com os teus textos no blog, certamente não será assim tão difícil fazer isso num palco. Apenas tens o percurso inverso de alguns humuristas que começaram por fazer stand up e posteriormente criaram um blog. Aliás o teu próprio blog tem como descrição - húmorístico e sarcástico. Sinceramente acho que consegues tudo.... não me consigo lembrar de algo a que te tenhas proposto e não tenhas conseguido. Só me lembro de coisas espectaculares a começar pela maratona onde angariaste milhares de euros (72?) para o IPO das crianças. Tenho orgulho em ti miúda! Continuas a surpreender-me sempre ao longo de quase 10 anos que te leio.

Anónimo disse...

Há a bumba na fofinha!!!

apipocamaisdoce disse...

Há, e tem muita, muita piada, mas ainda não está a fazer stand up. Digo "ainda" porque espero que seja o próximo passo. =)

Anónimo disse...

Este post também plagia um pouco o conteúdo do que escreveu há dias a Rita Ferro Rodrigues ... e agora o tony é que copia??? Pois... Sandra

apipocamaisdoce disse...

Oooooiiiinnnnn <3

Anónimo disse...

A Bumba na fofinha esteve como host nesta última edição do Nós Alive, no palco comédia. Tive a sorte de a ver ao vivo, e se já adorava os videos fiquei ainda a gostar mais. Aguardo ansiosamente o dia que decida arriscar no stand up!

Anónimo disse...

Eu, se alguém me puxasse para o palco numa situação dessas, entrava em pânico e fugia. A ansiedade social é uma coisa lixada.

apipocamaisdoce disse...

Hmmmm, não, não plagia. Em primeiro lugar, porque aquilo que a RFR defende é a existência de "humoristas feministas", um conceito que eu nem sequer percebo o que é. São mulheres que fazem piadas sobre homens? São mulheres que vão para o palco lançar panfletos sobre a igualdade de género? Sinceramente, não percebo. Eu gostava que houvesse mais mulheres, com piada, a fazer stand up, independentemente do registo adoptado, só isso. Depois, este texto foi escrito e enviado para aprovação da marca bastante tempo antes de sair a entrevista da RFR. Portanto, não, não há plágio. Mas, mesmo que eu defendesse as mesmas ideias da Rita... isso era plágio??? Portanto, todas as feministas são plagiadoras porque defendem o mesmo? Toda a gente que, por exemplo, é contra o racismo é plagiadora?

Anónimo disse...

Boa questão Pipoca... toda a gente tem o direito de defender o que quiser... mesmo que seja uma opinião igual a de outra pessoa...

Anónimo disse...

Comprovo!!! Catarina Matos!!

Anónimo disse...

Pipoca há aquela atriz na RTP dos DDT que imita a Cristina Ferreira, é excelente! Não sei se fará standup.

Uma coisa que me irrita é que, pelo que já vi de stand up, há malta que vai pra ali já com a formatação do: "vou-me-rir-de-tudo-comó-raio" e qualquer coisa serve de riso nem que seja o pestanejar do comediante... já sentiste isto? Rirem por rir?

Boa sorte :)

apipocamaisdoce disse...

Acho que acontece um pouco as duas coisas. Tanto há públicos que se riem de tudo, mesmo daquelas piadas a que não achamos assim tanta graça, como há públicos que, com o mesmíssimo texto, parece que combinaram não achar graça a nada e é dificílimo arrancar-lhes uma gargalhada. =)

Anónimo disse...

Pipoca, tem andado desatenta ... então a Maria Vieira ultimamente não tem feito stand up comedy? ;)

Vanessa Neves- Psicóloga Educacional disse...

E onde ver em Portuga?

Anónimo disse...

Olhe, a Assunção Cristas também faz comédia... Lol

Anónimo disse...

Pois faz!!! 😂😂 Embora quando ela fala, eu sinto o mesmo que sentia quando via The Office: não sabia se devia rir ou chorar!!! 😂😂😂😂

Anónimo disse...

Vi o Roast da Radical e não gostei mas o defeito deve ser meu porque ainda não consegui achar piada a nenhuma humorista.

Anónimo disse...

Eu acho que batom vermelho não é para mim (nunca gosto de me ver com ele), ou cabelo curto (tenho tanta vontade, mas aposto que me vai ficar mal)... Falta de auto-estima é uma merda, por isso um grande aplauso para a marca pela iniciativa. E óptimo texto pipoca :)

Anónimo disse...

"aprovação da marca"... e se a marca não concordar com algo que tu escreveste e que te parece bem, aceitas a censura e adaptas-te para lhes agradar?

Anónimo disse...

Comprei bilhetes para o roast da Sic Radical assim que soube que a Pipoca ia participar e adorei! Também já vi todos os espectaculos de stand up de mulheres no Netflix e sou fã da Ali Wong!
É um campo especialmente difícil para as mulheres em Portugal, vê-se claramente que (fruto de uma cultura machista) as mulheres têm um limite do humor muito mais curto que o dos homens. Ser feminista não é andar de cartazes na mão ou a fazer posts "feministas" no facebook; é fazer o que a Pipoca faz quando faz stand up, é ir fazendo com que os limites do humor sejam os mesmos para homens e mulheres. Por isso (e pelos óptimos espectaculos que dá), obrigada! :)

Anónimo disse...

se o patrão da anónima não gostar de algo que fez muda, ou manda o à fava?só espertalhonas implicantes...

Anónimo disse...

Concordando ou não, penso que "humoristas feministas" para mim seriam pessoas (homens ou mulheres, pq tb podem existir homens feministas) que conseguissem fazer piadas desconstruindo ideais enraizadas machistas

Pequeno caso sério disse...

Ora aqui está uma coisa que já me ocorreu várias vezes : mas por que caraitas não há mulheres no Stand up?
Não acredito que seja por falta de talento. Aliás,há por esta blogosfera muito talento escondido no domínio do humor.Basta procurar.

Penso que a ausência de talento não é razão. Acho que para se fazer stand up é preciso ter um valente par de tomates coisa que, no feminino, ainda não é bem aceite.
Fazer rir é uma coisa muito séria e é inato. O humor não se treina e não deve haver nada mais humilhante do que forçar um humor que não se tem.
Gabo - lhe a coragem de ter tido esse par de tomates que,por exemplo, eu não teria.Nem que o Ricardo Araújo Pereira em pessoa me dissesse para avançar.
Respiro humor e não concebo a vida de outra forma mas daí a ser capaz de me pôr frente a uma data de desconhecidos, é muito diferente. Por isso,resigno - me à minha insignificância e vou apenas debitando umas parvoeiras lá no meu canto. O feedback tem sido positivo e isso basta para me fazer feliz.
Um dia,se me crescerem os tomates, quem sabe se não nos encontramos num palco desta vida?
Vai é ter de me emprestar o batom vermelho.
;)

Anónimo disse...

Pipoca, já tive oportunidade de assistir a dois espetáculos seus de Stand Up Comedy. O realizado em Alvalade foi de morrer a rir. Viva o grupo do Facebook das 'mães que tudo sabem' �� Quando é o proximo? Liliana

Anónimo disse...

Já somos duas pessoas com o mesmo defeito!

Anónimo disse...

Anónimo das 15h38, o meu trabalho não passa por descrever situações pessoais e associá-las a produtos/serviços de marcas, por isso errou na suposta analogia. E não perguntei por implicar, era mesmo para tentar perceber, porque não sabia que os textos passavam por essa "censura" prévia.

Anónimo disse...

As mulheres já se superam diariamente, tendo de lidar com discriminação social e laboral, com o facto de ser esperado que sejam criadas em casa depois de já terem acabado o seu trabalho, com a perda de direitos para mulheres grávidas, com a progressiva perda de estabilidade laboral, com imbecis que ainda acham que elas são culpadas por serem violadas, etc, etc.

O problema não é que as mulheres achem que algo não é para si, é aqueles que acham que algo não é para nós.

E isso não se resolve comprando produtos do Boticário, que é o objectivo do post.

Anónimo disse...

E que tal a Pipoca aprender de uma vez por todas o que é feminismo?

Uma comediante feminista seria aquela ou um comediante feminista seria aquela/e que não faz piadas recorrendo aos velhos lugares-comuns de sempre, que não vai buscar o género e a etnia, etc, para fazer piadas...ou seja, o contráro do Cordes.

Anónimo disse...

Eu gosto muito da Marta Gautier!
https://www.youtube.com/watch?v=nJvfUUrq3wA
E a Pipoca tb pinta e graça!!

Anónimo disse...

👏👍

Unknown disse...

Que post inteligente!
Nem me passou na ideia que havia publicidade associada a este texto.
É isso que aprecio na Pipoca. Faz (e bem) o seu trabalho. Outras bloggers ou youtubers não sabem dar o seu cunho pessoal... É tudo mais do mesmo. "Olhem aqui estes produtos da Quem disse berenice. São tão bons! Amei!!". A Pipoca envolve-se com as marcas. Muito bom.

Unknown disse...

P.S) Esqueci-me de mencionar que vi um espectáculo da Marta Gautier e foi rir do início ao fim.

Anónimo disse...

Sinel de Cordes não faz bom stand up. É no mínimo ofensivo colocá-lo nesse patamar.

Voar sem Hasas disse...

O seu Post é extremamente importante. Eu sem ser desafiada por nenhuma campanha, sei que é verdade, que temos que nos permitir usar, fazer, ser, o que pensamos que não é para nós.

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Teorias absolutamente espectaculares

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