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É preciso falar disto #11: o clickbait

sexta-feira, março 17, 2017

O paradigma da comunicação está a mudar radicalmente. Já (quase) ninguém está para comprar revistas ou jornais quando tem a informação toda na internet, à distância de um click e, sobretudo, grátis. Isto faz com que os meios de comunicação tradicionais estejam pelas ruas da amargura. O investimento publicitário caiu a pique e há meios que, para sobreviver, estão a fechar as suas publicações em papel e a migrar para o online. E é aqui que entra o "clickbait", um conceito muito em voga nos dias que correm. 

Para terem mais publicidade, as versões online dos jornais e das revistas precisam do maior número possível de cliques e, portanto, desataram a recorrer a estratégias bastante questionáveis. O "clickbait" é isso mesmo, uma caça aos cliques, com títulos sensacionalistas e enganadores que fazem com que os leitores abram a "notícia". Invariavelmente, o conteúdo nada tem a ver com o título, foi só um engodo, um isco. 

Esta técnica podia ser prática exclusiva das revistas cor-de-rosa, mas não. Com maior ou menor frequência, todos os meios o fazem, incluindo jornais e revistas de referência, e acho que há poucas coisas tão irritantes. A discussão está instalada, já perdi a conta
aos debates que li sobre o "clicknait". Por um lado, os directores das ditas publicações, que defendem que isto é totalmente ético, que sempre houve títulos apelativos e que faz parte da estratégia de sobrevivência do jornalismo. Por outro, os leitores, que se sentem diariamente defraudados e que começam a encher o saco, fartos que os tratem por parvos.

Eu percebo isso dos títulos apelativos e acho que faz todo o sentido. Como leitora, espero que o jornalista se esforce, que seja criativo e que faça com que me apeteça ler a notícia. Também fui jornalista e acreditem que, muitas vezes, perdia mais tempo a criar um título do que um texto, precisamente porque queria que fosse alguma coisa "catchy" e original. Mas uma coisa são títulos chamativos, outra coisa são títulos que nada têm a ver com a notícia que se lhe segue, que são só especulativos. 

Falo de títulos como "Rita Pereira tem nova paixão". A Rita Pereira tem milhões de seguidores, claro que muitos deles têm curiosidade em saber mais detalhes sobre a sua vida, por isso lá vão a correr carregar na notícia, para afinal descobrirem que a "nova paixão" é sushi. Ou uns sapatos. Ou uma merda qualquer do género. Ou "Goucha e Cristina desentendem-se". Depois abre-se a notícia e, afinal, o desentendimento não passou de uma brincadeira qualquer entre eles durante o programa. E é tudo assim. Neste novo tipo de "jornalismo", a deturpação é o pão nosso de cada dia. Imaginem, ontem escrevi aquele texto a brincar com o facto de o Cristiano ter "encomendado" gémeos. Não me admirava nada que uma revista cor-de-rosa pegasse naquilo e fizesse um qualquer título estilo "BRONCA: Ana Garcia Martins arrasa Cristiano Ronaldo".  Já entrámos neste nível de loucura, é doentio. No outro dia publiquei no Instagram a fotografia de uma camisa da Mango que dizia "don't text your ex". Foi puramente por brincadeira, por ter achado a camisa divertida, mas claro que saiu logo uma notícia a dizer "Ana Garcia Martins deixa um mandamento no que toca a relações". A sério? Um mandamento? Era só uma piada, senhores, não era um recado, menos ainda um mandamento.  A VIP também fez uma notícia inacreditável, a dizer "Ana Garcia Martins: separação já rende". Fiquei em pânico, não fazia ideia de que merda é que teriam inventado desta vez, por momentos achei que estavam a insinuar que me tinha separado para gerar mais buzz, mas afinal era só a dizer que eu tenho muito mais visitas no blog desde que me separei , o que nem sequer é verdade. 

Dá para ser mais ridículo? Depois há ainda aqueles títulos que se limitam a lançar perguntas, quando têm o dever de informar , do género "Sabe qual é a cidade mais visitada da Europa?". Não, não sei, mas se fizessem um título a dizer "Porto é a cidade mais visitada da Europa" (não faço ideia se é), muito provavelmente eu quereria ler a notícia na mesma e não sentia que estavam só a tentar caçar o meu clique.

No seguimento disto acontecem duas coisas: há quem clique nas notícias, leia tudo pela rama e fique a acreditar só no título ("então não é que aquela estúpida daquela blogger da Pipoca arrasou o Cristiano????") e há quem já não vá em cantigas. São cada vez mais as pessoas a queixarem-se que estão fartas de serem tratadas como acéfalas, que estão fartas que lhes vendam gato por lebre. Eu mesma dou por mim a abrir notícias só para ver até onde é que o ridículo pode ir. Já sei que vou ser enganada, mas ao menos quero saber quanto.

À conta disto, o Miguel Somsen, jornalista, criou uma página de Facebook chamada "Anti ClickBait Portugal", em que revela o conteúdo das notícias sensacionalistas sem que tenhamos de fazer nenhum clique. 

Pessoalmente, acho a ideia genial. Presumo que os jornais/revistas não achem tanta graça, porque faz com que percam cliques, visualizações e, consequentemente, investimento em publicidade, mas talvez isto leve a que comece a haver mais transparência em todo o processo de fazer "notícias". É que muitos dos temas abordados nem sequer são notícias, são só parvoíces sem qualquer substância, que em nada contribuem para a nossa vida. Precisamos mesmo de saber quantos pares de sapatos tem a Teresa Guilherme ou onde é que o Pedro Teixeira passeia o cão?

31 comentários:

  1. Tem de facto muito graça que a Ana comente sobre os clickbaits quando é exactamente isso que a revista do seu ex-conjuge, a NIT, faz no instagram da revista. "Há uma rota da Ryanair para Lisboa. Saiba tudo em NIT". "Há um novo restaurante com menus gourmet a 10€, saiba qual em NIT". ENFIM, um enjoo. Acho tão mal que desisti de seguir o instagram, é só a tentar caçar clicks, não estou para isso.

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    1. Não é por ser a NiT a fazer que aprovo. Sendo que me parece mais normal que isso aconteça no Instagram. Pessoalmente, não gosto de ler notícias nem grandes temas no Instagram, para mim é uma plataforma visual, de partilha de fotos. Também faço isso pontualmente no meu Instagram, publico uma Foto sobre deferminado assunto e peço aos seguidores que queiram saber mais que passem no blog, porque não faz sentido estar a publicar tooodo um texto no Instagram.

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    2. Eu também deixar de os seguir pela mesma razão!!!

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    3. O que é que a Ana tem a ver com o que a NiT faz ou deixa de fazer?

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    4. Mas atenção, a NiT é uma revista de futilidades - umas mais do que outras - e, portanto, "admite-se que uma revista do gênero apresente o seu conteúdo dessa forma, coisa que já não se admite, por exemplo, a um jornal como o Jornal de Notícias.

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    5. Pipoca, no instagram até concordo, mas a verdade é que o fazem no Facebook e no próprio site. E não é nos títulos das notícias, o desenvolvimento quase não tem texto, temos de estar ali a clicar na foto para vermos vários slides (do estilo, veja as melhores 10 hamburguerias em Lisboa, clique na foto para saber quais! E depois tenho de ver uma a uma), confesso que também deixei de seguir por causa disso... =/

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    6. A NIT uma revista de futilidades? E este blogue é sobre física quântica. Há com cada uma.

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    7. Anónimo das 10:49. Sim a NiT é uma revista de futilidades e este blogue também é. E então? Eu estava a falar da NiT, não do blogue. Beijo

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  2. Ja sigo a pagina do anti clickbait ha algum tempo e ADOROO!!

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  3. Pipoca e à boleia disto há um outro fenómeno, mesmo com notícias potencialmente relevantes, em que há pessoas demasiado "cansadas" para clicar e ler (sim, porque eu já vi que há pessoas que têm preguiça de ler!! Do estil, ui dois parágrafos não vou agora estar a ler isso) e comentam incessantemente "o que é?" / "o que foi?" etc.

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  4. Genial! Não conhecia e acho muito bem! Também me irrita profundamente esta coisa do clickbait, ainda por cima clicamos e muitas vezes nem ficamos a saber nada, porque nos dizem para lermos na "edição desta semana". Ridículo.

    Só uma curiosidade Ana, como é que a VIP teve acesso a tantas fotografias do teu casamento?

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    1. Também já me tinha interrogado sobre isso. E acho sinceramente que o fotógrafo fez uns trocos. Mas se foi alguém da família ou dos amigos a passar as fotos...jasus! É cortar relações com essa pessoa!

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    2. A VIP fez uma matéria sobre o casamento da pipoca na altura, salvo erro. Lá está- as revistas só prestam quando dá jeito.

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    3. A Pipoca publicou muitas fotos do casamento aqui no blogue. Penso que terá bastado à revista vir buscá-las.

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  5. De certo modo, fazes o mesmo no teu blogue, "partindo" os posts ao meio, o que obriga a mais cliques para ler o post inteiro. E mais cliques, mais receitas para o blogue.

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    1. Verdade, em parte. Também o faço porque os textos corridos ocupam demasiado espaço na página principal, o que obriga as pessoas a terem de andar a clicar para ver os posts anteriores (vendo bem, isso também gera cliques). De qualquer forma, não me parece que isso seja enganar os leitores ou que lhes esteja a vender gato por lebre.

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    2. Discordo totalmente do anónimo! Eu acho muito bem que partam os posts, porque às vezes quero ver os últimos posts todos e demoro uma eternidade a encontrá-los (no blog da cocó por exemplo).

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    3. Então mas isto é um blogue, gente!!! Um blogue! Um blogue pessoal! Este tipo fe clickbait é admissível neste gênero de plataformas. Não é admissível é que jornais sérios cuja função deveria ser informar recorram a este tipo de estratégia

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  6. Vou já aderir à página. Realmente, não há pachorra para os pop-ups, a maior parte deles desinteressantes.

    ****
    Ana Teles {Telita} | blog: Telita LifeStyleFacebookinstagramBlogs Portugalfeedly


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  7. É o que sinto no blog CASAL MISTERIO. Eles são divertidos, mas os títulos são todos sensacionalistas. Todas as receitas somente têm 1 ingrediente e duram 1 minuto a fazer. Arf!

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    1. Tão verdade!!

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    2. E NUNCA são eles que fazem. Só usam ideias que outros tiveram. Para mim, depois daquela estopada em 9 actos das 9 no blog e da muni-saia, que é só para o que é; estes são os bloggers com menos conteúdo original em Pt.
      A página anti clickbait é óptima; tal como a Truques, em registos e com missões diferentes!

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    3. ahahahah confere

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  8. Ana, sem animo de ofender (sou mesmo sua fã, ha anos), mas as vezes tb me sinto enganada com postagens suas cujo título indica uma coisa e depois é um texto claramente publicitario.

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  9. Ana, o pior que isso é o que isto dos clickbaits está a gerar. Noutra plataforma, no Youtube, o PewDiePie é o Youtuber com mais views, subscritores, etc e tal e sendo que ele faz imensas piadas, de todo o tipo e mais algum. O WallStreet Journal escreveu uma "notícia" em que contabilizou quantas vezes é que ele tinha tido feito piadas antissemitas. O Youtube e a Disney "cortaram" relações com ele, e os """jornalistas""" que escreveram a "notícia" não tiveram o discernimento de falar com o acusado. Este é um pequeno exemplo do que a CS no desespero de € está a fazer - e eu que tirei o curso não estou a exercer por razões óbvias, mercado e porque não me identifico minimamente com o tipo de jornalismo atual - sorte a dele que não precisa de dinheiro deles nem de ninguém porque já está €€€€. Mas que isto vai chegar aqui em força, vai.

    Inês.

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  10. O título mais hilariante que li sobre si foi: "a pipoca mais doce arrisca a vida em férias de luxo" ou coisa assim, saiu na VIP. Já tinha visto a dita foto e admito que ri muito á custa daquele titulo! Óbvio que tinha já uns 15 comentários a lhe chamar de irresponsável e coisas piores!! 😂😂
    E também já deixei de seguir a nit por causa disto. Repetem as publicações meses seguidos, e fazem artigos de bradar aos céus!

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  11. Mesmo em formato físico as revistas ditas cor de rosa e alguns jornais sempre encheram as capas com parangonas que chamavam a atenção, muitas vezes com apenas um ténue fio de ligação à verdadeira notícia.

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  12. É uma coisa profundamente irritante mas compreensível, dado que todos os jornais estão a tentar desesperadamente sobreviver.
    Subscreveria algumas publicações se esse mesmo pagamento me garantisse que todas as idiotices ficariam filtradas e que não chegariam até mim.

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  13. E aqueles blogs que cada vez têm mais publicidade? Também os visito cada vez menos....

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  14. a NIT a delas.pt etc... é tudo o mesmo... eu tou fartinha de dizer a toda a gente a minha volta "aprendam a filtrar a informação que vos passa pelos olhinhos!"

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Teorias absolutamente espectaculares

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