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Mais um dia em vão no jogo em que ninguém ganhou

domingo, novembro 15, 2015



Ontem foi o concerto de Tiago Bettencourt no Coliseu de Lisboa. Uma amiga já me tinha oferecido os bilhetes há muito tempo e eu queria mesmo  muito ir. Mas ontem, ao longo do dia, foi crescendo em mim uma sensação estranha. Não era bem medo, talvez mais um desconforto. Menos de 24 horas antes tinham sido os ataques em Paris. Pessoas que, como eu, foram a um concerto, que estavam entre amigos, que se queriam divertir, perderam a vida assim. De forma brutal, a troco de nada. Não sei se era por eu me sentir assim, mas pareceu-me que mais pessoas estavam alerta, apreensivas. Olhava-se para as portas de saída ao mínimo grito, ao mínimo barulho estranho. Não posso garantir, mas acho que ontem todas as pessoas se perguntaram "e se?". E se tivesse sido ali, connosco, com amigos nossos? Infelizmente, não é uma realidade assim tão estranha, tão distante. Há muito que isto deixou de acontecer só aos outros. E isso faz-me ter medo do medo. Será que agora vamos viver sempre assim, nos gestos mais banais e quotidianos? Será que sairemos  de casa cheios de medo de não voltarmos? Pior, será que sairemos de casa para algo mais do que as meras obrigações? Será que nos vamos anular, por medo? E porquê, para quê, por quem? Como diz a música, isto é um jogo em que ninguém ganhou. Nem ganhará. Na verdade, só poderemos perder, todos nós. De um lado e do outro. Que não esqueçamos, mas que também não vivamos no medo.

"O medo faz-nos sós."

26 comentários:

  1. Se deixarmos que o medo tome conta da nossa vida o mal vence.

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  2. Exatamente! Ontem levei a minha sobrinha a um concerto no Campo Pequeno e pensei o mesmo. Tanta gente a fazer o que é normal num sábado à noite, tal como os parisienses... sair, ir a um espetáculo, a um restaurante, a um bar, a um café...
    O que nos distingue das vítimas de Paris? Nada... apenas não estávamos no local errado na hora errada.
    Paris jê t'aime :'(

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  3. Eu acredito que o destino de cada um de nós está traçado por isso não vale a pena "viver com medo"... quando tiver de acontecer, acontecerá! Bjs

    http://Meninaricameninapobre.blogspot.com

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    1. Então, estava traçado que cada uma daquelas pessoas, em Paris, iriam morrer de uma forma tão terrível e lamentável? Esta-me a dizer que está traçado se eu vou morrer se um psicopata se lembrar de me mandar um tiro? Essa não cola. Acredito no destino no sentido de que, no fim, teremos alguma coisa e não no sentido de que o nosso caminho está traçado.

      BP

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    2. Eu também acho que cada um faz o seu destino. São as nossas escolhas ! Não há cá tretas do que o destino está traçado.

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    3. Se o destino nao traça o caminho, como explica aqueles casos das
      Pessoas que iam ao bataclan mas atrasaram-se e por isso salvaram-se, das pessoas que ficaram retidas num telefonema e salvaram-se etc!!???? Não existem coincidências. Existe um destino traçado, sem duvida.

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  4. Acho que daqui a uns tempos vai passar... Agora, é normal que assim seja.
    Eu também teria medo, desconforto, uma sensaçãozinha... é assim mesmo. Estamos habituados a que este tipo de coisas se passe longe, em civilizações diferentes, quase num mundo diferente. Agora percebemos que não é bem assim... Mas, acredito que não vamos viver com medo para sempre. Por outro lado, também não sei se vamos voltar ao que éramos. Parece-me difícil.

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  5. Bem, eu fui ao cinema ontem e pensei várias vezes o que aconteceria se um louco entrasse por ali dentro e desatasse a disparar à maluca. Não quero ter medo mas... não acontece só aos outros :(

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  6. Eu penso que é precisamente este estilo de vida que extremistas islâmicos odeiam em nós, ocidentais: o facto de em qualquer dia da semana se poder sair de casa para ir jantar, assistir a um concerto, ir a um estádio assistir a um jogo de futebol (já para nem falar em mulheres que andam por aí com decotes e mini-saias, a pedir para serem molestadas). Os sitios onde ocorreram os ataques são simbolo disso mesmo: sala de concertos + restaurante + estádio (ainda que no exterior do espaço desportivo); espaços que são o altar de uma sociedade decrépita, amoral e impia (na sua opinião, claro).
    Antonio

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    1. E o seu comentário, no meu entender, faz todo o sentido. Acho que acertou na mouche!

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  7. Infelizmente, vivemos num mundo onde os seres humanos não se sabe comportar. Para além disso, não sabem disfrutar da liberdade nem sequer deixam os outros fazê-lo. A situação é muito triste. Mas ainda tenho fé na Humanidade.

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  8. Era exactamente esse o objectivo deles. "Terrorismo" é isso mesmo. E se nós nos sentimos assim aqui, num país relativamente seguro, que para o bem ou para o mal, vai passando despercebido, só consigo imaginar o que se sente nas grandes capitais europeias. Em Paris o medo é bem visível, os nervos estão à flor da pele:

    http://gawker.com/breaking-false-alarm-at-paris-memorial-sends-crowds-of-1742649498

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    1. O nosso país é tudo menos seguro. Já imaginou o quão fácil é acontecer uma coisa destas no nosso país? Falando em termos de segurança não há qualquer tipo de controlo em praticamente local nenhum (com excepção de estádios e concertos de maior escala). Nem quero pensar na facilidade com que é possível passar e entrar nos mais diversos locais armado. Talvez a nossa sorte será mesmo a de que vamos passando despercebidos, porque começar a atacar os países periféricos mais fáceis de atingir iria instalar de uma forma bem mais assustadora o pânico e o medo por toda a Europa e na minha opinião aí sim eles seriam bem mais eficazes.

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    2. A Flávia deveria estudar um pouco melhor os assuntos que quer debater. Se olhar em retrospetiva pode ver perfeitamente que o nosso país sempre se manteve "aparte" em situaçoes semelhantes. A facilidade que fala é mais um erro, temos patrulha maritima constante e forças de policia especiais que controlam estas situaçoes. Se nao se sente vigiada, entao a missão de quem vigia está a ser cumprida.

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    3. Ora nem mais...não pensem que andam por aí à vontadinha!!!

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  9. Confesso que o concerto foi tão bom que por momentos que esqueci do que se estava a passar com Beirut, em França ou Bagdad...
    Foi um escape óptimo nesse sentido. Não olhei para as portas, não temi, não me senti angustiada... Porque naquele momento foram a música e a Arte que venceram e de certa forma o Amor, porque claramente Tiago Bettencourt demonstra um amor inigualável pela sua Arte!


    Rita

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  10. Eu só consegui pensar...e se fosse na Disneylandia? Repleta de crianças!!!
    Ao contrário de muita gente, penso que o "medo" é uma sensação natural, que nos protege, nos obriga a ter mais cuidado, a olhar duas vezes antes de avançar...não tem que ser paralisante, isso é o "terrorismo"...e aquilo a que assistimos foi a um acto de terrorismo. Perdoem-me, se vou ferir susceptibilidades, porque conheço muito boa gente de outras etnias. Não pensam como nós, mas dentro dos seus hábitos culturais, são pais de família, trabalhadores responsáveis. Também há ocidentais, que não pensam como nós. Vejam o que acontece de quando em vez nos estabelecimentos de ensino no Ocidente!! Não podemos ser complacentes com o terror. Venha ele de onde vier! Não podemos viver afastados dos ideais europeus de: "liberté, égalité, fraternité" e é isso que temos que continuar a defender até ao fim dos tempos. Venha quem vier, de onde vier, não interessa a nacionalidade, a cor ou o credo; se é deste mundo ou de um outro, mas não podemos esquecer-nos da nossa génese e dos milhares que morreram para nos deixarem esta grande herança!!

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  11. Francamente Pipoca, acho que não irá sentir esse "medo" todos os dias, ou no seu dia-a-dia. Por exemplo, quando ocorreu a queda daquele avião nos Alpes franceses, eu viajei para Londres apenas uns dias depois e obviamente que, sendo aquele acontecimento uma coisa tão recente, me fez pensar na situação. Mas já voltei a andar de avião bem depois disso, e confesso que esse episódio nem sequer me passou pela memória. Nós temos a memória curta, é verdade. E é também selectiva. Provavelmente a Pipoca sentiu-se assim pq o atentado tinha acabado de ocorrer, mas se voltar a um concerto daqui a dois ou três meses, muito sinceramente, duvido que isso lhe vá tirar o sono. Agora, que isto é tudo um pouco surreal, e que, parecendo que não, estamos na 3ªa Guerra Mundial, e que não podemos ser indeiferentes a isso, também já concordo. A Europa precisa mesmo de arranjar estratégias para os vários assuntos em cima da mesa: a crise política, a crise dos refugiados e o problema do estado islâmico. A ver vamos o que virá a seguir.

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    1. Nós não temos a memória curta, náo temos e devemos é de andar com a vida para a frente! De que nos serve parar? Olhar? Refletir? Já sabemos o que lá está. Se nos acontecer a nós teremos de lidar com isso, tal como a França está a lidar!
      E se tiver uma memória comprida, o que vai fazer? Pegar numa faca de cozinha e vai lá matá-los a todos, é?

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    2. ai...se me entrarem pela casa adentro, não se admirem..e não é com faca da cozinha!!!

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  12. E eu que fui trabalhar na sexta à noite em vez de comprar um bilhete de avião para Paris? Também me salvei... É o destino... Sqn

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  13. Cara anónima das 11:32, quando referi que temos uma "memória curta" é no sentido de que não nos andamos sempre a lembrar destas coisas para que as mesmas condicionem o nosso dia-a-dia. Aliás, até dei um exemplo bem ilustrativo do que pretendi dizer, pois, como viu, não me esqueci do acidente dos Alpes, simplesmente o mesmo não me condicionou na hora de andar de avião vários meses depois. Porque é que teve de vir comentar o meu comentário de forma agressiva? Era só a minha opinião.

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    1. É realmente incrível , deviam criar um regulamento para as pessoas comunicarem na net, ainda que neste caso se desculpe...porque as pessoas entram em pânico e reagem de formas imprevisíveis! Isto a que assistimos nos meios de comunicação, mais os atentados que são evitados atempadamente e que nem sequer são divulgados pelas autoridades demonstram que estamos em guerra há já vários anos!! Mas mesmo em guerra a vida insiste em prosseguir! Há relatos, de que em Paris durante a 2.ªguerra vendia-se champanhe a rodos e que as maleitas mais comuns, como a enxaqueca, desapareciam, porque o instinto de sobrevivência era maior que qualquer outro sintoma! A vida é um sopro maior do que nós próprios!!

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  14. Eu também estive lá e admito que quando me sentei e olhei à volta pensei no mesmo! E se agora...
    Mas não podemos pôr a vida em standby! Temos de seguir em frente e fazer um esforço para que medo não nos castre. Mesmo com a consciência que nem sempre fazê-lo é fácil!

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  15. Vou ver o Tiago Bettencourt ao Teatro Micaelense e já pensei muita vez da mesmo forma do que a Ana. :/

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Teorias absolutamente espectaculares

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