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Um bilhete para longe daqui. Quem nunca?

quinta-feira, novembro 22, 2018

Temos trabalho, saúde, uma família que adoramos. Vista de fora, a vida de muitos de nós é irrepreensível, invejável até. Quantas e quantas vezes não desabafamos sobre qualquer coisa e ouvimos de volta um "estás-te a queixar do quê?". Na verdade, e de forma objectiva, talvez não tenhamos mesmo muito de que nos queixar. Mas seremos felizes? Estaremos plenamente realizados com a nossa vida? Então porque é que, de vez em quando, bate aquela vontade de desaparecer por um par de dias? Porque é que, mesmo por uns segundos, questionamos as nossas escolhas e nos passa pela cabeça a vontade de ter uma vida completamente diferente? Se já se sentiram assim, então acho que precisam mesmo de ver "Um Bilhete para Longe Daqui", que estreia esta semana.

Gosto de filmes com histórias simples, daquelas tão simples que quase não chegam a ser uma história, são mais um episódio da realidade. E eu acho que este filme retrata a realidade de muitas mulheres, incluindo a minha em algumas fases da vida. Tara é uma mulher ainda jovem, casada, com dois filhos, que vive para a família. O marido sai todos os dias para trabalhar, ela trata dos miúdos e garante o funcionamento da casa. Até ao dia em que isso deixa de ser suficiente. E então chega uma melancolia, primeiro, uma insatisfação, depois, uma tristeza infinita. À volta dela, todos o desvalorizam. O marido, que não presta atenção e que não percebe o que está a acontecer, a mãe que lhe diz "isso é só uma fase, vai passar". Mas não passa, pelo contrário. Na verdade, vai ficando só pior. Mais triste, mais fechada em si mesma, mais à beira de explodir. E quando explode compra o primeiro bilhete de comboio de Londres para Paris, numa tentativa de fugir daquilo tudo.

O filme é muito bonito mas, ao mesmo tempo, muito cru, deixa-nos assim um nozinho no estômago. A Gemma Arterton está óptima, numa personagem que revela uma imensa fragilidade, mas onde também estão latentes todos os sentimentos e pensamentos menos bons que guarda. E que são os que muitas de nós também guardamos, e escondemos, e tentamos camuflar e fingir que não existem. Mas existem, às vezes existem, e reconhecê-los não é assumir que a nossa vida é um total falhanço, é antes assumir que gostávamos que algumas coisas, simples, fossem diferentes e que, com isso, nos sentíssemos mais felizes. Acredito que a maior parte das pessoas não gostaria de mudar radicalmente de vida, mas tenho a certeza que quase todas, por vezes, se sentem a sufocar. Ou porque não têm tempo para as coisas que gostam, ou porque se vêem engolidas pela rotina e pelas mil e uma tarefas do dia-a-dia, ou porque não se sentem valorizadas, ou porque gostavam de fazer coisas diferentes, ou porque ninguém parece reparar em nós... E vamos enchendo o saco das nossas insuficiências, vamos sentindo o sufoco a apertar e a vontade crescente de largar aos berros.

 Tudo isso está neste filme e muito bem retratado. Por isso, se andam a passar por uma destas "fases", acho que se irão reconhecer. Dia 29 nos cinemas. Deixo-vos o trailer:


27 comentários:

  1. Eu quando tenho esse tipo de pensamentos o ou insatisfação penso, bom podia ser pior, podia ter 12 anos e estar neste preciso momento no Bangladesh num prédio em ruínas a trabalhar de sol a sol e sem perspectivas de vida... Passa me logo!! Catarina

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  2. Pipoca pensa que podias ter uma vida beeeem pior e o que achamos melhor por vezes não é! Mas entendo te... por mim teríamos era a capacidade de na mesma vida, podermos viver várias vidas loll tontice eu sei, bjinhos

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  3. Olha filha nascemos crescemos e morremos e seremos lembrados quanto muito por mais três gerações. E puf acabou se. Deal with it.

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  4. «Animum debes mutare non caelum», ou seja, «Deves é mudar de alma, não de clima». Séneca o disse.

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  5. Não se trata da Pipoca mas de todos nós, homens e mulheres. Ou será de quem tem, pelo menos, um bocadinho de profundidade?!

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  6. *mudou se para Paris bah! previsível, eu queria era ver alguém fartinho da sua vida, mudar se para a periferia, apanhar todos os dias o comboio de Sintra e ganhar 600 euritos ao fim do mês... Isso é que era! Loll

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  7. Nem sei se devo ver, parece ondulem do meu
    Momento presente mas sem a fuga. Farta da rotina, principalmente porque ninguém valoriza nem aguenta lamúrias. Melhores dias me esperam

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  8. Obrigada pela partilha! Vou ver :) compreendo perfeitamente o conceito. Há pelo menos 1 semana por ano, em que deixo tudo e vou... Desde à 3 anos. Não termos de pensar diariamente no que vamos vestir, comer, trabalhar, nós, os filhos, a familia, tudo! É bastante libertador e deixa-nos espaço para filtrar-mos o que realmente importa, volto sempre de braços abertos para tudo o que tenho.
    Para quem tiver interesse: todos os Caminhos vão dar a Santiago :) durante 1 semana podemos ser felizes com uma mochila, um saco cama, 2 conjuntos de roupa, 100€ no bolso e perceber que ainda há desconhecidos suficientemente interessantes que ouvem sem julgar ;-)

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  9. Pelo menos tens uma família...eu com 45 anos não tenho filhos nem irmãos. Estou só.

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    1. Isso é o que mais me assusta. Tenho 33 anos e nao tenho amigos nenhuns, os que tinha emigraram ou foram para Lisboa arranjar emprego e eu fui a unica que fiquei. Com o passar dos anos ha um telefone no Natal, nos aniversarios e mais nada. Estou só. Tenho apenas o meu marido, somos so os 2 sozinhos ao fim de semana a ir passear, ao cinema ou jantar fora. Apenas os 2. Ás vezes sinto q é tao ridiculo e patetico :-( Mas nao vejo saída, nao consigo nesta idade e neste ambiente fazer amigos novos. Sinto-me deprimida. Como é possivel haver o Tinder e tantos sites p engate e nao haver formas de procurar amigos? Sou so eu c este problema??

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    2. Não é a única, há muitas mais pessoas assim, estão na sua vida, sozinhas e fazer amigos com estas idades já não é tão fácil, não se sinta sozinha nisto

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    3. Anónimo das 11:40.
      É nova e as amizades fazem-se em qualquer idade. É verdade que nem sempre é fácil encontrarmos pessoas com quem nos identifiquemos e há coisas que não devem ser forçadas mas analise bem a situação. Se for caso, mude de contextos, faça coisas, atividades novas, pelo menos uma vez por semana sem o seu marido. ou comece a visitar os mais distantes, e ir mudando de ares. Eu tenho amigos desde os 20 aos 65 anos, e acredite todos me são queridos e tenho coisas em comum com todos.

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  10. Eu lá fugia se acordasse todos os dias com um Dominic Cooper ao lado!!! Nem pensar! 😂

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  11. Concordo tanto com o que escreveu! Também às vezes me sinto assim! E também tenho (quase) tudo para ser feliz! Só que às vezes não! Tenho que ver este filme!
    Cláudia F.

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  12. O filme ainda não foi estreado mas a Pipoca já o viu e conhece a história toda. Isto há coisas dum caneco...

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    1. Há uma coisa chamada "visionamentos de imprensa". Como é que acha que os críticos conseguem escrever sobre os filmes antes de eles estrearem?

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    2. Minha senhora, há visionamentos para a imprensa, antestreias para convidados e por aí em diante... É vontadinha de implicar?

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    3. Oportunidade de ficar calada?...

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    4. é o demonio que anda a solta.looooooooool

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  13. fugir dos problemas… para Paris… que mel!

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  14. Vivo uma relação de fachada, todos à volta pensam que somos um casal normal, mas estamos juntos apenas porque temos negócios em comum por resolver, daqui a uns meses vamos cada um para seu lado, e ninguém sabe, não poder falar abertamente mata me todos os dias um bocadinho mas acredito que terei algo melhor à espera. Vou ver o filme

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  15. naturalmente muito mais saborosa uma queca artística em Paris do que os arremessos diários e matinais do constante companheiro de cama!
    essa é que é essa...
    o resto são trivialidades.

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  16. Pipoca, já procurei nos cinemas, mas nem sinal do filme. Foi estreia nacional?!

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  17. Vi este filme ontem e senti um retrato do que tantas vezes sinto. Mas esperava mais do filme, uma resposta, uma saída, uma resolução que resultasse

    Dicas?

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Teorias absolutamente espectaculares

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