Corria o ano de 1998 quando, pela primeira vez, uma série televisiva abordou um tema (mais ou menos) tabu: o maravilhoso mundo dos brinquedos sexuais. Era mais um episódio de “O Sexo e a Cidade”, a série que, dizem, pôs as mulheres a falar abertamente sobre estes assuntos, sem grandes pudores ou constrangimentos. Num dos muitos almoços das quatro amigas, a Miranda anunciou ao grupo que estava muito satisfeita com o seu mais recente vibrador ao ponto de mal sentir a falta de um homem. Revelação que, claro, deixou a púdica Charlotte desconcertada: “Um vibrador? Um vibrador não te telefona no teu dia de anos, um vibrador não te envia flores no dia seguinte, não podemos apresentar um vibrador à nossa mãe. Prefiro guardar o sexo para um homem que me ame”. Claro que a Miranda não a deixou sem resposta: “eu sei de onde é que vem o meu próximo orgasmo, quem é que nesta mesa pode dizer o mesmo?”.
O episódio desenrola-se e inclui uma ida a uma sex shop, onde a Charlotte é “apresentada” a um vibrador cor-de-rosa em forma de coelho (“Achava que ia ser assustador e esquisito, mas não, é cor-de-rosa, para meninas!”). Acaba por
levá-lo para casa e tornam-se inseparáveis, companheiros de infindáveis horas de prazer. Tão infindáveis que as amigas se se vêem obrigadas a fazer uma intervenção e tirar-lhe o vibrador, numa tentativa de recuperaram a antiga vida social.
Claro que o episódio está carregado de ideias feitas e um bocadinho redutoras. A sugestão de que um vibrador substituiu um homem, a ideia de que não pode ser usado na companhia de um homem, a ideia que só as mulheres descomprometidas recorrem a este tipo de brinquedo, a ideia de que se tem de ir praticamente camuflado a uma sex shop, não vá alguém reconhecer-nos. Mas já era qualquer coisa, já era um primeiro passo para, pelo menos, trazer o assunto para a mesa de discussões. Quase vinte anos depois, acho que as coisas mudaram, para melhor. Claro que ninguém anda com uma t-shirt a anunciar “tenho um vibrador e gosto”, mas também ninguém se sente muitíssimo constrangido quando o tema vem à baila.
A título de experiência mais ou menos sociológica, larguei a bomba no meu grupo de amigas: “o que me têm a dizer sobre brinquedos sexuais? Usam? Não usam? Têm vergonha?”. Encontrei um bocadinho de tudo, mas toda a gente falou do assunto à vontade. Havia quem nunca tivesse experimentado mas manifestasse curiosidade, havia quem assumisse sentir vergonha, havia quem usasse com frequência (sozinha ou acompanhada) e houve até uma data de sugestões. Umas coisas já conhecia, de outras nunca tinha ouvido falar mas… vivendo e aprendendo!
Pela parte que me toca, sou a maior incentivadora de tudo o que possa trazer um “plus” à vida sexual, seja ela vivida com ou sem companhia. Claro que com companhia é sempre melhor, e os brinquedos sexuais podem ajudar à descoberta de novos mundos, sobretudo quando a relação começa a amornar. Mas, mesmo que estejamos numa relação, não vejo porque não possamos dar uso aos nossos brinquedos sem ter alguém por perto. Uma das (muitas) partes boas do sexo é mesmo essa: cada um faz as suas regras, não há certos nem errados. Posto isso, que esses vibradores saiam da gaveta e cumpram a sua função, que é para isso que eles existem.
Crónica publicada na revista Playboy
39 comentários:
Gosto muito de certos brinquedos sexuais, mas coisas que entrem dentro do corpo não consigo, é demasiado invasivo para mim. E quem diz vibrador diz dedos (meus ou do meu parceiro, não gosto nem de uns nem de outros) ou até copo menstrual ou tampão com aplicador. Dentro da vagina só gosto mesmo do pénis, tudo o resto faz-me muita impressão.
Curioso. Nunca dei por indivíduos do sexo masculino que se importassem com esse cliché da substituição por objectos. Aí está um ponto a nosso favor. Se é um sinal de liberdade, é bom, porque sobra sempre para nós. E é bom quando sobra liberdade para alguém.
Viva ao Vibrador! Podia-se organizar o chá do vibrador! Cada uma levava o seu :D :D
hahahahaah...aqui está o melhor comentário...
Demasiado gráfico, demasiado gráfico...
O seu chá?
Não acho que o pudor seja devido ao falar sobre estes assuntos...
Não fossem os brinquedos sexuais, sozinha ou com o meu companheiro, onde já ia a minha vida sexual!!!Só nos ajudaram <3
Certo, certo, é que a anfitriã - que nunca esclareceu se veio de um pacote de pipocas para micro-ondas ou do velho milho no tacho - pôs o dedo na ferida: os tempos mudaram. Há vinte e cinco anos, encontrámos um vibrador de cortesia num hotel e ficámos a olhar um para o outro. Agora estamos prestes a organizar o chá do vibrador. Suponho que Rapazes Vintage ou Cavalheiros de Aeroporto não sejam convidados. Apesar dos tempos, a situação em que os comentadores masculinos de um post sobre vibradores e o sexo e a cidade fossem a um chá de vibradores ainda seria estranha e difícil de explicar às respectivas companheiras. Menino, onde está o vibrador? Ah, é verdade, levei-o a uma chá de amigas e ainda não o arrumei. Acho que está na bolsa do tablet da mochila. O comentário dela não seria: até que enfim que dás uso à bolsa do tablet da mochila.
Vibrador de cortesia de um hotel é capaz de ser das coisas mais bizarras que já ouvi falar!
Olá, boa noite!
Acho espantoso como o tema sexo continua a ser tabu! De cada vez que a Pipoca traz o assunto à baila, o número de comentários é tãããão mas tãããão baixinho, já repararam? Sobre séries da Netflix toda a gente tem algo a dizer, sobre alimentação vegan também, mas sobre sexo não. E porquê? Somos todos virgens agora, querem ver?, e não temos opinião sobre o assunto? Por que é que se inibem de falar sobre S E X O? Talvez porque se apercebem que a sua vida sexual é muito mixuruca ou demasiado boa, tão boa que não querem partilhar as suas experiências com ninguém não vá isso trazer azar - lagarto, lagarto, lagarto!
Bom, no que toca ao uso (ou não) de vibradores experimentei uma vez um, que o meu ex-namorado me ofereceu (e na altura eu estava numa outra relação... estranho, eu sei...). Confesso que não gostei da experiência, mas por achar que a qualidade do dito cujo era fraquinha. Era de plástico barato, achei-o desconfortável. Não voltei a experimentar um outro, apesar de já ter perguntado ao meu marido o que ele acha da ideia. Como ele não se mostrou muito aberto à coisa, a ideia está posta de parte (mas não esquecida!). ;)
Catarina
Tenho há alguns anos um vibrador oferecido pelos amigos no meu aniversário. Dou lhe uso quer sozinha, quer com o meu marido... divertimo nos imenso... porque tem de ser um assunto tabu?
Pode ter sido a hóspede anterior, mas vibrador de cortesia é muito mais perturbante. E bizarro, pois.
Sempre que falam sobre "O sexo e a cidade" dá-me vontade de sorrir só de relembrar aquelas filas intermináveis de mulheres às portas do cinema para ver as versões em filme, sem que houvesse um único homem que fosse ali presente para acompanhá-las. :)
Mas fiquei um pouco espantado de saber que antes da chegada dessa série as mulheres não falavam abertamente sobre estes assuntos umas com as outras. Julgava-as bem mais evoluídas já nessa altura, confesso. Nem sei porque razão o uso do vibrador haveria de ser um assunto tabu. Há 20 anos, quando casei, foi uma das primeiras coisas que eu ofereci à minha mulher...e foi ela quem teve a incumbência de escolher o feitio e tamanho. No inicio via-a a olhar para os mais pequenos mas depois apanhou-me distraído a olhar para as bonecas insufláveis e acabou por levar um dos maiores. A malvada... :))
Que boa gargalhada me provocou anónimo. Obrigada
Vibradores só me faz lembrar uma história...a minha mãe quando era novita trabalhou nas limpezas para uma dondoca francesa. Uma altura deu com isso no meio dos lençóis...era tão inocente que nem sabia que essas coisas existiam... mas era daqueles mesmo com formato de pénis. Ficou parva da vida dela:)Deixou a cama por fazer lol. O que de vez em quando nos rimos com isto:)
Ora cá está um tema que, felizmente, nunca é tabu no meu grupo de amigas: brinquedos sexuais e a importância do orgasmo feminino.
Acabada de fazer 29 anos, penso que andei boa parte do ano passado com a ideia de comprar um vibrador.
Tinha saído de uma pseudo-relação à alguns meses, e depois de lamber as feridas, tive (e vou tendo) alguns amigos a quem dá para fazer aquela chamada num aperto maior.
No entanto, e como a maioria do mulherio sabe, uma pessoa nem sempre sai satisfeita destes negócios, ou então não consegue conciliar disponibilidade de ambas as partes. Foi nessa altura que me convenci que tinha de agarrar o proverbial touro pelos cornos e assumir o controlo dos meus orgasmos.
Li imenso sobre o assunto (existem guias sobre o que procurar num brinquedo, a sério!); desde o material de construção, ao formato, finalidade, tamanhos, velocidades, etc. Todo um admirável mundo novo!
Munida de toda a informação que consegui absorver, lá entrei no website de uma sexshop e fui procurando algo que se adequasse ao que pretendia, fui procurar reviews dos modelos que mais me agradavam (o YouTube é mesmo uma ferramenta maravilhosa!) e lá encomendei o meu brinquedo.
Veio numa embalagem super discreta, e tem sido um ótimo amigo quando dá aquela vontade a solo ou mesmo quando apetece sair da rotina com um parceiro.
Admito que hesitei muito na compra meia cega online, mas a falta de uma sexshop decente nas imediações (e alguma cobardia parva da minha parte, verdade) acabou por adiar algo que, depois de feito uma primeira vez, uma pessoa até pensa, não custou assim tanto ;)
O meu conselho final? Arrisquem!
Preferem perder orgasmos ou perder a vergonha?
Ana
Em resposta à questão final, o vibrador não é a única forma de ter um orgasmo sozinha... desde os 13 anos que o faço "à mão", pensei que fosse uma das primeiras descobertas da sexualidade feminina.
Toda a razão Catarina. Se fosse para dizer mal de algo ou de alguém já iríamos em 1000 comentários. O meu marido há uns anos comprou um, usámos muitas vezes e foi uma boa companhia. Nesta fase já não usamos tanto, mas está lá guardado.
Nesta fase adoramos ver um filme pornográfico juntos, ficamos os dois muito excitados e funciona muito bem nos preliminares.
E usavam a frente uns dos outros? Isso é que era.
Catarina, Já pensou que cada individuo tem a sua própria maneira de ser. Por acaso não me considero uma pessoa nada inibida na cama, e sim já usei vibrador variadas vezes, no entanto não falo nisso no circulo de amigas. Nem de vibradores , nem de sexo, se faço 59, 69, ou 79 !!! É a minha intimidade e NÂO gosto de falar, NAO gosto. ponto. Só a mim diz respeito. E não é por pudor ou vergonha. É mesmo porque acho que é algo tão meu que não gosto de falar. E isso não faz para mi do sexo um tabu
Há mais de uma década que Tenho vários objetos sexuais e vibradores uns três. Tenho um de eleição. Tudo oferecido pelo meu marido. Se não fosse assim acho que nunca teria um orgasmo. Já foi tarde mas agradeço ao meu marido por ter acontecido. Sim, porque há mulheres clitorianas que precisam de outros estímulos para atingir o clímax. O facto de o sexo ter sido tema tabu na minha infância/juventude não ajudou em nada à minha "libertação" .
Hoje em dia não tenho tabus e faço questão d passar isso aos meus filhos. ( e até já comprei vibradores para a minha sogra em sexshops!)
Onde é esse hotel?
Mas ninguém lhe pede para comentar com as suas amigas! Pode perfeitamente dar a sua opinião sem se revelar, que foi, aliás, o que fez. Eu não sei se é a minha vizinha do 3º D ou se mora na rua atrás ou no Japão! O que eu quero dizer é que as pessoas "escondem-se" tanto atrás de um monitor para falar mal dos outros, para opinar sobre tudo e mais alguma coisa, mas no que toca a sexo... está quieto. E porquê? Eu posso muitíssimo bem dar a minha opinião aqui, que ninguém fica a saber quem sou. Posso contar uma mentira, se me apetecer, dizer que a minha vida sexual é para lá de transcendental, que parecemos coelhos, como também posso dizer que é uma miséria, que a última vez que eu e o meu marido fizemos amor foi na nossa noite de núpcias e foi porque eu estava bêbada. Está a perceber o que eu quero dizer? Qual é o mal de se falar de sexo, de dar a nossa opinião, de partilhar uma experiência ou outra sem nos revelarmos? Nem aqui na caixa de comentários de um blogue? Não acha isso estranho? Eu acho.
Entrimo
Eu enrubesci, Anónima ;)
E o prémio Oferta Bizarra à Sogra vai para....
Uma ajuda.
Que brinquedos um homem pode gostar para dar mais prazer?
Sou a anónima acima. sim claro tem razão, desviei um bocadinho o assunto para o nível o circulo das amigas. beijocas
O Toy também disse numa entrevista que ofereceu um à sogra ahhhhh
Na minha opinião, anónima das 07:40, deveria ser. Acho que a descoberta da sexualidade e o início da masturbução é algo que continua só muito ligada aos rapazes e as raparigas nem ousam sequer falar umas com as outras sobre isso, enquanto que os rapazes quase que se gabam se veêm ou não pronografia, se e quantas vezes se masturbam, etc., quando têm os seus 13-15 anos.. Creio ser algo que tem mesmo que ser mudado. Eu tenho 21 anos e das minhas duas grandes/melhores amigas só com uma é que “posso” falar disto. E por “disto” entenda-se pronografia, brinquedos e masturbação, não tendo (ela) qq problema em falar de sexo “básico” - vá, penso que me faço entender.
Luísa R.
Podia ter sido uma oferta bizarra, ou nem tanto. Mas não, foi mesmo um favor que ela me pediu por, lá está, vergonha de ser reconhecida a entrar na loja:). E também já mandei vir da net. Nada de extraordinário. Quando as mulheres estão sozinhas, tanto faz que tenham 30, 40 ou 60 anos. Têm necessidades. Já agora, acho que há um preconceito quando se ouve a palavra sogra, não haverá? Nem todas são velhas e metediças.
Ah bom, se o Toy ofereceu um à sogra é porque, claramente, é um presente de bom gosto para se dar à sogra.
Ai Cavalheiro, que chato que é às vezes!
E se for a sogra a oferecer o objecto por engano :D :D
Pois é já aconteceu....
Olá Ana, podia partilhar esses guias/sites onde tem essa informação que permitem escolhas mais adequadas?
obrigada
Joana
Por acaso nao acho graça nenhuma, nao gosto de objectos estranhos na vagina, sejam de plastico como os vibradores, seja a versao mais organica que algumas mulheres usam, comida e afins.
Sei que há muitas mulheres que adoram, mas não é de todo para mim, estando eu solteira ou comprometida, gosto do sexo mais natural.
Orgasmos é uma coisa, vibrador é outra.
Amiga :) não quer partilhar esses sites maravilhosos? É para uma amiga ;)
Obrigada
Enviar um comentário
Teorias absolutamente espectaculares