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Olá, o meu nome é Ana e às vezes sou má pessoa

segunda-feira, março 20, 2017


No dia da festa de Carnaval na escola do Mateus, fui levá-lo, fiquei um bocadinho com ele e depois, como habitualmente, fiquei a vê-lo brincar através do vidro. Gosto de ver como ele reage quando não tem os pais por perto, como interage com os outros miúdos, se socializa, se fica mais quieto num canto. Estava eu nisto quando reparei que três ou quatro putos o rodearam para lhe tentar tirar a máscara de Darth Vader. Acho que não perceberam logo que era ele e queriam ver quem estava escondido debaixo da máscara. Pensei "tudo tranquilo, deixa lá ver como é que ele se desenrasca". Quanto mais os miúdos lhe puxavam a máscara, mais irritado ele estava a ficar. Até que um dos putos lhe deu um empurrão e o atirou para cima de uma caixa de Legos. 

Abandonei imediatamente o meu lugar de vigia e entrei sala adentro.
A educadora estava distraída com o caos típico de uma manhã de Carnaval, o Mateus estava a chorar, os miúdos continuavam de volta dele, por isso achei que devia intervir. Peguei-lhe ao colo e disse em tom alto e, vá, assumo, ligeiramente ameaçador, que não se podia empurrar o Mateus, porque se não a mãe do Mateus ia ficar MUITO, MUITO zangada. Confesso, sem grande orgulho, que o meu primeiro impulso e o que me apeteceu mesmo foi empurrar os putos todos e, em seguida, gritar "GOSTAM? GOSTAM? GOSTAM? ENTÃO CALUDA!". Felizmente, e antes que isso acontecesse, o lado racional entrou em acção, relembrou-me que eu é que era a adulta ali e que não podia largar a empurrar putos, até porque não gostava que outros pais fizessem o mesmo ao meu filho. 

A verdade é que o sentimento de protecção que temos em relação aos nossos filhos é uma coisa gigantesca, talvez aquilo que mais nos define enquanto pais. O querermos assegurar que estão sempre bem, felizes, tranquilos, que nada no mundo lhes poderá fazer mal e que, se alguém tentar, irromperemos de capa e espada para os salvar. É uma treta. Sei bem que não posso proteger o Mateus de tudo, sei bem que não posso estar de olho nele 24 horas por dia, sei bem que tem de aprender a defender-se sozinho, sei bem que ele é menino para fazer exactamente o mesmo a outros miúdos mas, estando eu a ver, não fui capaz de ficar quieta. Foi mais forte do que eu.

Provavelmente devia ter-me mantido atrás do vidro, ele que se desenvencilhasse sozinho, mas ver aquela coisa de um metro a ser empurrada para o chão, vê-lo largar a chorar, desamparado, partiu-me completamente o coração. Sei que são miúdos, sei que situações destas são o pão nosso de cada dia e, repito, sei que ele também empurra e também se passa da cabeça de vez em quando, não é um anjo de caracóis. Mas custou-me mesmo. 

De quando em vez este episódio vem-me à memória. Por um lado, porque é horrível não termos poder total, não sermos omnipresentes para garantir que nada de mal lhes acontece. Por outro, porque ter tido vontade de empurrar miúdos me deixou a pensar que, em calhando, sou só má pessoa. Até que ontem bati com os olhos neste artigo do Diário de Notícias/The New York Times, a crónica de uma professora, mãe, que um dia atirou uma bola à cabeça de um puto que estava a fazer amonas ao filho dela, na piscina. Conta, com muita graça, que acertou em cheio, que o puto parou imediatamente, mas que nem isso lhe tirou a vontade de atirar uma segunda bola à cabeça, só mesmo para marcar posição e para ele perceber quem é que mandava ali. Ou seja, de repente já não era só uma questão de salvar o filho de um perigo iminente, era mesmo a vontade de se vingar. De uma criança. Passar a ser tão bully como o miúdo estava a ser para o filho dela. 

Será isto legítimo? Será que, movidos pelo proteccionismo, podemos ser malvados com as crianças? Diria que não. São crianças, não são propriamente os reis da racionalidade, sobretudo nestas idades. Acho que até podemos ter esse desejo retorcido de lhes pregar um tabefe assim à socapa, de lhes dar um beliscãozinho num braço, só para perceberem que não podem bater nos outros putos, mas não pode passar disso, de um desejo retorcido e que nunca chegará a vias de facto. É inspirar, contar até 100, assumir que isto faz parte e resolver a coisa de forma adulta e civilizada.

Mas lá que às vezes apetece...

206 comentários:

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Monica disse...

Os primeiros sinais de sociopatia manifestam se na infância, mas os pais ignoram nos a maior parte das vezes. E depois coisas como estas e piores acontecem.

Monica disse...

Já só falta alguém a dizer que as crianças são o melhor do mundo!!!!
Dizer focinho é pouco para algumas.
Só mesmo à Chapada, pais e filhos.
Entendo muito bem a monitora e gostava de ver o discurso de certas pessoas se batessem nos vossos.

Anónimo disse...

Olá Diana, os meus filhos andaram na Geração Chupeta (Restelo) e foi tudo sempre fantástico, mas é só até aos 3 anos. Galos, derrames, dentadas se for constantemente não me parece nada normal. Uma marca de dentada ou um galo uma vez ou outra é natural e a situação deve ser explicada aos pais. Ele é muito pequenino e para os pais esses "ataques" devem ser um stress. Felicidades!

StarStruck disse...

Compreendo perfeitamente não sou mãe ainda mas sou tia de uma menina que é um pouco ingênua e está sempre a ser trapaçada e gozada pelas outras meninas e para ajudar à festa tem problemas de audição o que faz com que a fala seja ainda um pouco infantil (ela tem 9 anos) e requer uma força sobrehumana para não pregar um par de estalos aquelas meninas más quando a minha sobrinha chega a casa a chorar de soluços ora porque lhe gozam ora porque a excluem .... parte me o coração.

Anónimo disse...

Cambada de anormais...que comentários mais ridículos.

Anónimo disse...

Ler os vossos comentários supera uma boa comédia...

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