Todos os dias me caem na caixa de mail pedidos de ajuda para tudo e mais alguma coisa. A grande maioria é muito ao género "socorro, o que é que visto num casamento/baptizado/baile de finalistas/entrevista de emprego/primeiro encontro/ida a casa dos sogros/passear o cão". Mas há de tudo um pouco. Que curso escolher, se devem mudar de profissão, o contacto do meu cabeleireiro ou dramas amorosos. E é neste último campo que me sustenho. Porque não quero ter esse tipo de responsabilidade na vida das pessoas, porque só ouço um lado da história e há sempre dois, porque sei que às vezes sabe bem ouvir uma opinião isenta mas eu não me vejo com esse conhecimento todo para poder dar palpites. Mas há um tema que me toca ao coração: como esquecer alguém. Como ultrapassar uma relação falhada. Como apagar da nossa vida um qualquer traste que sambou em cima do nosso coração mas que, sabe-se lá porque raio, continuamos a achar que podia vir a ser o pai dos nossos filhos.
O tema das dores de alma sempre me interessou e sempre achei que era desvalorizado. Quando nos partem o coração, quando nos sentimos a rastejar na lama num misto de amor e ódio, a tendência generalizada do nosso círculo é para nos passarem a mão pelo pêlo e dizerem coisas quentinhas como "ele não te merecia" ou "não há nada que o tempo não cure". Invariavelmente, a vontade é responder "EU SEI QUE PASSA, CARALHO, MAS EU QUERO QUE PASSE JÁ, E ENQUANTO NÃO PASSA QUERO QUE ELE RASTEJE ATÉ MIM PARA EU PODER ESPEZINHÁ-LO ATÉ OS OLHOS LHE SALTAREM DAS ÓRBITAS". Ninguém disse que temos de ser boas pessoas e ter pensamentos positivos quando nos estilhaçam o coração. Ideias destas são perfeitamente aceitáveis.
Esquecer alguém é lixad... é fodido. É fodido, desculpem lá, não há outro termo. Porque nos dá aquele aperto no estômago (o que às vezes se traduz em falta de apetite, o que até é bom), porque nos torna seres amorfos e sem vontade de fazer o que quer que seja, porque nos obriga a checar o telemóvel quatro vezes por minuto para ver se o desgraçado deu notícias, porque nos faz viver numa montanha russa emocional. Num dia achamos que já estamos óptimas, que já esquecemos, vamos mas é sair, e conhecer pessoas, e fazer quatro cursos ao mesmo tempo. E no dia seguinte voltamos a afundar-nos na tristeza, nas perguntas circulares que não nos saem da cabeça (o que é que falhou? Porque é que não deu? Será que ainda vai dar?), nos pensamentos típicos de quem não sabe que o melhor ainda está para vir, tipo "se não é ele não vai ser mais ninguém". Construímos conversas imaginárias, antecipamos respostas a perguntas que, muito provavelmente, nunca chegarão, temos discursos de hora e meia programados no disco rígido da mente. Been there, done that...
É por este assunto me tocar que achei imperativo reunir aqui algumas ideias para esquecer gajos que nos lixaram a vida. Sim, vamos já assumir que a culpa é sempre deles, para facilitar a coisa. Para isso, pedi ajuda ao meu grupo mais próximo de amigas. Entrei no nosso chat de WhatsApp e anunciei: "estou a escrever um post com os melhores conselhos para esquecer gajos e relações que correram mal. Quais são os vossos?". Conhecendo-as como conheço, já sabia que viria dali muito suminho. E veio. Das sugestões mais conservadoras às mais destrambelhadas, há de tudo um pouco. Pelo meio, entusiasmaram-se e misturaram "conselhos para esquecer um homem" com "melhores maneiras de nos vingarmos de um cabrão". Vamos a isto:
1- "Comer outro gajo, comer chocolates, no fundo comer". Ok, certo. Concordo em parte. Comer outros gajos liberta-nos a mente durante um bocado, alivia a tensão sexual e, se for bom, então é só ganho. Mas isso não preenche o vazio. Volta-se para casa e continuamos a querer que o outro se lembre que nós existimos. Quanto a enfardar chocolates, já estou como outra amiga minha: "comes chocolates e depois não comes gajo nenhum". Calma aí com as barritas Kinder. Uma caixa de quatro tudo bem (vá, oito), quatro ovos Kinder tamanho XL já é capaz de ser demasiado açúcar à conta de um só gajo (ver mais sobre isto no ponto 8).
2- "Renovar o stock de cuecas". Tudo o que seja mudança é positivo, mas renovar a lingerie poderá servir apenas para nos lembrar da nossa vidinha sexual mais parada do que a defesa do Sporting quando sofreu o golo do Mitroglou em Alvalade. Se calhar deixamos isso para quando houver alguma perspectiva de darmos um baile funk no nosso pipi.
3- "Fazer uma lista de tudo em que o gajo não prestava". Ok, aqui já começamos a falar mais a sério. Eu acho, mesmo, que isto ajuda. Peguem num folha A4, dividam-na ao meio, e de um lado escrevam os prós e os contras. A ideia é que, no final, a lista de contras seja sete vezes maior do que a lista dos prós, por isso metam a carne toda no assador, minhas amigas. Tudo serve. Não sabia pendurar um quadro, falava demasiado na mãe, ficava péssimo de gorro, não vos dava beijos na boca depois de lhe fazerem sexo oral, fazia dietas mais rigorosas do que as vossas, nunca deixou que lhe pusessem rímel só para ver como é que ficava, era incapaz de sair da cama quando lhe pediam, encarecidamente, que vos fosse fazer uma tosta às quatro e meia da manhã. TUDO CONTA! Até os orgasmos que tiveram de fingir.
4- "Aparecer com alto par de mamas". Eh pá, umas boas mamas são sempre umas boas mamas, mas não sei se vale a pena tanto trabalho só por causa de um gajo. Se vos apetecer força, pode ser visto como um investimento a médio prazo, já a pensar em relações futuras, mas não sei se terá grande efeito no vosso ex.
5- "Fazer desaparecer tudo o que vos fizer lembrar dele". Certo. Pode ajudar. Livrem-se de fotos LOGO, ponham a andar coisas que ele vos ofereceu (bem, as coisas boas podem ficar), doem tudo o que é dele a uma instituição (preferencialmente antes de ele ter tempo de recolher as coisas, só assim naquela do requinte de malvadez), não passem a vida a tentar cruzar-se com ele nos sítios onde costumavam ir (café, ginásio, etc e tal), apaguem o número de telemóvel, apaguem-no do Facebook, apaguem-no do Instagram, apaguem-no, apaguem-no, apaguem-no.
6- "Começar uma relação com um gajo que ele odeie". Ou com o pai dele. Ou mesmo o irmão. Ou ambos. E ainda dizer que a natureza foi mais generosa com o irmão, porque sai ao pai. Ok, ok, ok, vamos acalmar. Enrolarem-se com um gajo que ele odeia pode servir para lhe causar ali algum transtornozinho, mas ele também pode estar só a cagar-se para isso (é bastante provável). E, relembro, a ideia é esquecê-lo. Tudo o que fizerem com o objectivo de o provocar vai no sentido oposto a esquecer. Concentrem-se, mulheres, concentrem-se.
7- "Chorar e deixar que passe". Ok, de volta às ideias (mais ou menos) sensatas. Contrariamente às correntes que defendem que temos de ser fortes e que homem nenhum merece as nossas lágrimas, eu acho que temos de carpir algumas mágoas. Chorar alivia, e mais vale isso do que andar sempre a simular uma cara alegre e a ferver por dentro. Mas calma lá com o choro. A minha teoria é: definam um tempo de choro. Vai ser um dia? Uma semana? Um mês e meio? Tudo bem, seja o que for, chorem o que tiverem para chorar, deitem tudo cá para fora, mas findo o prazo acabou. Depois disso, bola prá frente que atrás vem gente.
8- "Ouvir músicas de fazer chorar as pedras da calçada". No período de maior dor não só estão autorizadas a enfardar chocolates (ver ponto 1), como a ver a Bridget Jones em repeat e a ouvir aquilo que eu chamo de "músicas para velar uma relação". Aqui fica o meu top 5:
- "How can you mend a broken heart?", do Al Green
- "Love Ridden", da Fiona Apple;
- "I can´t make you love me", dos Bon Iver;
- "Vete", dos Marlango
- "Trajetória", da Maria Rita
Se a coisa for mesmo muito, muito, muito grave, estão autorizadas a ouvir João Pedro Pais e a ler Pedro Chagas Freitas.
9- "Tempo. Isto vai lá com tempo". Desculpem, não me atirem já com uma pedra ao olho, eu sei que fui a primeira a dizer que ninguém quer ouvir falar de "tempo", mas a coisa resulta mesmo. A grande merda é que não depende de nós. Não podemos estipular "ok, vou estar na merda durante um mês e 18 dias e depois fico fina". Era fixe, mas não dá. O tempo é uma grande, grande incógnita e, quando estamos no fosso, parece que cada dia tem 340 horas. E, pior, não é garantido que cada dia seja sempre melhor do que o anterior. Porque terão dias fixes e dias em que se sentirão verdadeiras ratazanas de pêlo deprimido. Até que um dia, não sabem muito bem como, a coisa passou. Ou, pelo menos, já não dói. A meta é essa. Até lá, tentem não pensar na outra pessoa vinte vezes mais do que aquilo que pensam em vocês. E não entrem na espiral destrutiva de "o problema é meu", "não sou suficientemente boa", "óbvio que ele ia acabar comigo", "de certeza que já arranjou outra". Sosseguem esses corações e tentem ver o copo meio cheio. Mais não seja o copo de gin.
10- Se tudo falhar, venha a vingança. Há pessoas assim, que só conseguem avançar depois de berrarem, de baterem portas, de enviarem cerca de dois milhões de sms ou de elaborarem um plano de vingança. Se for esse o caso, aqui ficam algumas dicas das minhas amigas:
- Imprimir fotos dele e distribuir no Rossio a dizer que é um cabrão (quem diz Rossio diz avenida dos Aliados ou praia de Quarteira em Agosto);
- Contratar uma russa para entrar pelo escritório dele e fazer um escândalo, berrando que tem de assumir os dois filhos que lhe fez;
- Pôr cocó de cão nos puxadores da porta do carro dele (esta operação exige levar toalhetes para não deixar vestígios visíveis);
- Pedir a um amigo vosso que ligue para o escritório dele e deixar recado: "diga ao Luís que o namorado ligou". Se puderem garantir que o recado é entregue à secretária ou recepcionista o efeito é maior, de certeza que toda a gente vai ficar a saber;
- Criar um blog chamado naoandemcomestecabrao.sapo.pt ou shortdickman.sapo.pt
Se tiverem mais dicas úteis é mandar vir. Estarão a ajudar muita mulher neste nosso Portugal.
Se tiverem mais dicas úteis é mandar vir. Estarão a ajudar muita mulher neste nosso Portugal.
(não é preciso avisar que este texto está carregado de parvoíce, exagero e ironia, ou é?)
211 comentários:
«O mais antigo ‹Mais antiga 201 – 211 de 211Anónima das 10:26, lá porque a ofensa é gratuita não há necessidade de fazer papel de cabra.
Deste lado encontra-se uma mulher adulta e de bem com a vida, educada e com princípios. E foi precisamente por isso que questionei se a amante do marido sabe se ele é um homem casado e com filhos. Mas pelos vistos, até conhece a autora do comentário e é uma mulher de baixo nível. No entanto, podia não saber de nada ou ter acreditado em alguma mentira da criatura.
Se falo assim é porque sei de histórias da vida real em que as outras não sabiam que estavam perante um homem comprometido. E não, a Internet e as redes sociais não nos contam tudo sobre uma pessoa. Sabe que nem toda a gente tem Facebook, não sabe?
Como tal, cara anónima das 10:26,tenha mais atenção ao seu excesso de confiança, olhe que um dia é isso que a vai lixar. De nada!
MEC no seu melhor:)
http://adolescente-pseudo-tudo.blogs.sapo.pt/179881.html
Ahahahah muito bom pipoca!!! Sem papas na língua.
Anon. "bem educada" das minhas14.15:
1-Como todos poderão ler,limitei-me a evidenciar a sua ingenuidade, não lhe chamei nenhum nome feio, mas parece-me que quem defende "Cabras" a elas se equivale, por isso o papel de CABRA é seu não meu!
2- A si,o que a irá "lixar" é a sua credulidade...!
3- Não conheço a autora do comentário, mas trata-se de uma "situação tipo/típica" e, conheço muitas senhoras que estão passar ou já passaram por situações muito similares, inclusivé na dependência dos traidores.
4-Se a anónima "sabe de histórias do lobo mau e do capuchinho vermelho...", eu para além de já cá andar há muitos anos, profissionalmente, lido quase diariamente com "histórias reais" de casamentos desfeitos, por fulanas/cabras(não lhes chamo o nome efetivo, porque sou uma pessoa de princípios, educação e respeito), que se dedicam a "seduzir" homens bem casados, normalmente a passar por uma "crise de meia idade", com algum poder financeiro...(os pé rapados estão out),com o objetivo de tirar o melhor proveito possível...destruindo no entretanto relações entre marido e mulher e por vezes entre pais e filhos! Mas o trabalho "duro", tipo, tratamento de roupas, manutenção da casa, confecção da comida...problemas com filhos... as rotinas chatas e normais de um casal, not! Fique tudo por conta e risco da esposa traída, a gata borralheira que se encarregue delas! Em pleno séc. XXI, são de facto uns "Anjinhos" estas damas e não sabem..., nem têm forma de saber de toooodo, com quem se enrolam!?!Desde que não ostente aliança de casado,conte várias histórias convincentes,é um homem disponível...e qualquer uma cai!!!(:
Acredite faz muitíssimo bem!
Reles são pessoas que julgam as outras por merdas desses.
Antes prefiro ser uma mulher a uma senhora. Ao menos posso usar palavrões à vontade.
Anónima das 19:54, deixe a outra p'ra lá. Ela ainda há-de passar pelo mesmo: karma is a bitch! ;) Concentre-se em si, no seu valor e em ser feliz! Já sofreu (mais que) o suficiente. Agora seja feminina, segura, positiva, superior e poderosa! Coisas boas vêm a caminho p'ra si, vai ver! ;)
É um tema complicado. São poucas as pessoas que ficam amigas dos ex-namorados, parceiros ou maridos. Possivelmente porque nem sempre as relações terminam "a bem". O terminar dói sempre, mesmo que se saiba que era o melhor a fazer, mesmo que já não houvesse volta a dar, mesmo que se continue amiga do ex. Custa sempre...houve um relacionamento criado, expectativas e depois o panorama muda e temos de nos adaptar à mudança. Sou a favor de se terminar antes "de se fazer merda", antes de "nem amizade ser possível manter". Sei que nem sempre dá para ser assim. Mas valorizo quando assim é possível
Adorei o post! mas brincadeiras à parte... Psicoterapia Prânica. Atenção em nada tem a ver com as psicoterapias em que se sentam no dito divâ e desbobinam a vida amorosa tipo novela com uma caixa de lenços na mão em que do outro lado apenas se ouve umas onomatopeias tipo hu hu e coisas assim do genero. Tem a ver com chakras e alinhamento dos mesmos. Falo por experiencia própria, funciona mesmo sob todos os niveis... tanto mental, psiquico como doenças fisicas graves como neoplasias (vulgo cancros) e doenças crónicas! uma terapia pouco conhecida infelizmente. Fica a dica...
Ahahahahah.... Muito bom! Adorei o texto.
Adorei a ideia do cocó nos puxadores. Eu limitei-me a encher o carro do sujeito de papelinhos de carnaval e serpentinas, após uma noite de chuva para aquilo ficar tudo agarrado ao vidro e afins...
Estou a passar por isso mesmo... só que não era uma namorada....era uma ex....e outras que descobri. Nunca me falou abertamente e diz que como não tem compromisso com nenhuma, está de consciência tranquila.
Mas dói. E muito.
"nem com manteiga de amendoim" ahahah! Adorei!
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Teorias absolutamente espectaculares