Se há coisa que não me falta são comentadores parvos, benzósdeus. O que me falta quase sempre é paciência para os aturar. Mas estamos em Julho, está calor, plena silly season, estou quase de férias outra vez (oh yeah) e até estou aqui assim com um tempinho livre para responder ao comentário altamente preocupado de uma leitora. Comentário esse sobre o facto de eu ter dito que, durante as férias, um de nós ia ao hotel dar o almoço ao Mateus e pô-lo a dormir a sesta enquanto o outro ficava na praia, na piscina ou a fazer o que bem entendesse (no dia seguinte trocávamos). Cá vai disto, atentem que é poesia pura:
"De férias, nunca almoçaram juntos?? Uma criancinha de 2 anos manda assim tanto, que nunca puderam almoçar juntos? Se isto é em férias, nem imagino como será em tempo de trabalho; se isto é quando ele tem 2 anos, aos 15 nem se cruzam no corredor de casa."
Eu sei, é horrível, mas temos de ser fortes e assumir as nossas falhas:
não, durante as enormes férias de seis dias NUNCA almoçámos juntos (mentira, almoçámos no primeiro dia e no último, mas só porque o Mateus fazia anos). Ahhhhh, o drama, o horror, a tragédia, estão as férias todas estragadas por causa disto e está aqui mais do que provado que somos uma família completamente desestruturada. Se o Mateus um dia resvalar para a delinquência não nos podemos admirar, com uma família que durante quatro dias não almoçou junta não se pode esperar outra coisa.
Vamos lá tentar explicar como se também a leitora tivesse dois anos: a minha criancinha de dois anos não manda nada (quer dizer...), mas a minha criancinha de dois anos tem de almoçar e tem de dormir a sesta. Os sacanas dos putos são assim, sempre com esta mania chata de terem de comer e dormir, não há pachorra para os aturar, cheios de exigências. Ora a minha criancinha de dois anos não aguenta o dia todo na praia, nem eu a queria lá, a esturricar e com uma birra desgraçada por não dormir. Logo, era preciso ir pôr a criancinha de dois anos a dormir a sesta no quarto, porque a criancinha de dois anos não dormia a sesta na praia, nem amarrada a uma espreguiçadeira (nós tentámos, e também o amordaçámos para não guinchar, mas nem assim).
Se podíamos almoçar todos juntos e depois ia um de nós dormir a sesta com ele? Podíamos. É aí que está a coisa gira da questão. Podíamos, mas não queríamos! Está a topar a diferença? Temos vontade própria e escolhemos o que achamos ser melhor para NÓS, já viu a ousadia? E, imagine-se, preferíamos ficar na praia ou na piscina enquanto o outro ia tratar desses afazeres, dia sim, dia não. Perante a pergunta "eh pá, preferes enfiar-te no quarto a apanhar seca durante três horas enquanto a criança dorme, às escuras para não o acordar, ou preferes ir para a praia?" eu, estranhamente, escolhia a segunda hipótese. Ainda pensámos deixá-lo a dormir sozinho no quarto enquanto nós ficávamos a vegetar na piscina, depois quando ele acordasse só tinha de ir à varanda gritar e nós íamos buscá-lo, mas lembrámo-nos da Maddie e achámos má ideia. Vai daí, um de nós tinha mesmo de ficar com ele. Eu sei que seríamos muiiiiiiito melhores pais se ficássemos os dois a velar o sono da criança, mas olhe, é o que temos. Já se tinha provado que somos uns negligentes do pior quando mostrámos o puto numa piscina com bóia e braçadeiras, mas agora, depois de dizer ao mundo que não o deixávamos na praia nas horas de maior calor, temo que espetem com ele numa instituição.
Mas descanse, porque tooooodos os dias tomávamos o pequeno-almoço em família, toooooooodos os dias lanchávamos em família, toooooodos os dias jantávamos em família. Quanto ao almoço, era qualquer coisa rápida e para despachar (sandes e fruta) e, lamento desiludi-la, mas eu preferia comê-lo na praia, com o meu belo livro, enquanto o pai ia tratar da criança. Aquelas horinhas de sossego sabiam-me a pato. Se calhar não compreende esse conceito, mas para nós (repito e sublinho, para nós) férias em família não implicam que tenhamos de estar grudados 24 sobre 24 horas. Se cada um de nós podia ter duas ou três horas por dia para ler, dormir, fazer o pino ou jogar paciência, qual é exactamente o grande drama? É óbvio que as crianças não mandam nada, é óbvio que as crianças fazem o que os pais querem, mas um miúdo de dois anos tem rotinas. Ia deixar de dormir a sesta só por estar de férias? Por mim tudo bem, desde que depois fosse lá a leitora aturá-lo, porque eu sei bem como ele fica quando não dorme. É muito giro mandarmos assim umas parvoíces para o ar, sempre no estilo "pfffff, havia de ser meu filho". Lá está, a verdade é que não é. E como, imagino, nem sequer faz parte da nossa família, não percebo exactamente em que parte é que a chateia o facto de não almoçarmos juntos.
Obrigada também pela sua preocupação a longo prazo, já a pensar em como será quando ele tiver 15 anos. Pois que não sei como será, mas tenho a certeza que nenhuma fase pode ser tão chata como os dois anos (fónix, que aquela coisa dos terrible two é mesmo verdade). Com a enorme vantagem de aos 15 já não ter de ser eu a dar-lhe o almoço nem pô-lo a dormir a sesta. Nessa altura deixo-lhe 20 euros, o número da Telepizza, e ele que se faça homem. Ou então mando-o para sua casa que, ao que parece, precisa de companhia para tudo. Vá, gostei muito deste bocadinho, mas agora tenho de ir. O Mateus está a acordar da sesta e é preciso que a mãe esteja lá com os olhos em cima dele, para garantir que daqui a uns anos não me anda metido na droga ou a assaltar carros.
202 comentários:
«O mais antigo ‹Mais antiga 201 – 202 de 202Para quê tanto drama...? Ignore.
Neste momento, sonho com as férias do marido para poder ter esses momentos: só eu e um livro ou eu e a tv ou eu e o tecto, já não sou esquisita!!! No entanto, fazem questão de me fazer sentir má mãe por isso! Pior do que isso só não dar a mama!!! Ai.... haja paciência, e ainda bem que a Pipoca a tem!
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Teorias absolutamente espectaculares