Em Lisboa as corridas são uma maçada. Em dia de provas maiores, daquelas que obrigam a cortes de estradas, lá vai tudo para o Facebook queixar-se que as pessoas deviam ir correr para a praia, para a mata, para o deserto, para o raio que as parta. Em qualquer lugar menos no meio da cidade. Que chatice, cortarem a ponte, fecharem a Marginal, não nos deixarem passar de carro no Cais do Sodré. Sacanas dos corredores. Deve ser por isto, ou também por isto, que há tanta falta de apoio nas ruas. Ninguém quer saber das corridas, ninguém sai à rua para incentivar os corredores, para apoiar os maratonistas, e ninguém consegue ver a coisa como uma festa. Apenas como uma chatice. Já tinha percebido que as coisas eram diferentes lá fora, mas em Nova Iorque é a verdadeira loucura. A maratona é um evento muito esperado, que incrementa o comércio na cidade de forma brutal e, talvez por isso, muito mais acarinhado. O impacto que uma só corrida tem é de milhões e milhões de dólares, distribuídos por hotéis, restauração, comércio ou locais de atracção. Mas depois não é só isso, é também o lado humano. Toda a gente sai à rua para ver passar os corredores. Levam-lhes água, comida, cartazes e vibram mesmo com aquilo, são absolutamente incansáveis no seu apoio. Eu fui acompanhando o meu homem em alguns pontos da corrida e comovi-me imensas vezes com quem estava ali só para gritar e puxar pelos maratonistas. Tenho a certeza absoluta que muitos só conseguiram chegar ao fim por causa de todo aquele ambiente. Eu própria estive imenso tempo a chamar por outros corredores (quase toda a gente corre com o nome impresso na t-shirt), porque sei que o simples facto de alguém gritar o nosso nome dá-nos logo um boost de energia suficiente para mais uns quilómetros.
Como sempre, fiquei cheia de inveja. Também queria ter estado ali. Mas depois de ouvir os relatos de quem correu e de como esta prova, em específico, é duríssima, percebi que não estava minimamente preparada. Mas no dia anterior consegui ter uma pequena, muiiiiito pequena, ideia. Inscrevi-me para correr a NYRR Dash to the Finish Line, uma corrida de cinco quilómetros que acaba em Central Park, precisamente no mesmo sítio onde acaba a maratona (a meta é comum). Fez-se muito bem, apesar do frio e da chuva. Já me tinha inscrito há dois anos, mas foi cancelada por causa do furacão Sandy (e o dinheiro da inscrição nunca me foi devolvido, just saying), mas desta vez não me escapou. Dois dias depois também fomos fazer uma corridinha pela cidade. Incrível a quantidade de gente que anda a correr em Central Park a um dia da semana. Corremos nove quilómetros e mal dei por eles. É muito giro correr noutras cidades que não a nossa, conseguimos ficar com uma perspectiva completamente diferente. Ficam algumas fotos:
O homem quase a chegar à meta, em Central Park, a dar high-fives a quem estava a assistir
Quase a terminar a NYRR Dash to the Finish Line. Uma pequena pausa só para a foto.
25 comentários:
Acho que é uma questão cultural. Se calhar eles acham estranho a loucura que se instala em Lisboa quando existe um jogo Benfica - Sporting, por exemplo, ou quando há um clássico com o Porto pois não têm uma cultura futebolística. E isto apenas para ficar no domínio do desporto.
Acho que tem existido uma grande evolução em Portugal nesse sentido mas são coisas que demoram anos a acontecer. E a prova de que as corridas estão a ter aceitação é a quantidade de provas que existem. E ainda bem que assim é.
Além disso, concordo quando dizes que é giro correr noutros locais. Tento fazer isso sempre que viajo para dentro e fora de Portugal e a sensação é fantástica.
Parabéns pelas imagens. Gosto sobretudo da estrela que dá força a quem lhe toca.
homem sem blogue
homemsemblogue.blogspot.pt
Gostei das fotos!!
Nem vou comentar o que Portugal ainda falta para crescer...
Beijinhos,
Invito-vos a visitarem o meu blog: viagemdoceviagem.blogspot.com | Facebook
Só perceber que não se está preparada para 42kms pelos comentários sobre a dureza da prova é no mínimo...mau... Infelizmente encaixa perfeitamente no perfil do corredor actual, no qual me incluo, que acha que basta fazer meia duzia de corridas e se fica pronto para uma maratona, como se fosse a coisa mais vulgar e fácil do mundo para ser feita.
Bem a verdade é que também não foi uma corrida qualquer foi à maratona de Nova York que é realmente um grande evento.
Em Lisboa também existe uma. Penso que seja normal que nas corridas mais pequenas não sejam um grande evento com muitas pessoas a apoiar.
Se aqui as pessoas se queixam que fecham as ruas e pontes também me parece normal, visto que está a modificar o seu dia. Lá também devem haver pessoas a queixarem-se de certeza. Mas uma coisa é certa em Nova York também basicamente ninguém tem carro próprio.
Adorei as fotos e não consegui evitar ficar com uma pontinha de inveja. Adoro correr e deve ser maravilhoso correr em Nova Iorque.
Em Portugal só o futebol é que conta e os restantes desportos só existem se, por acaso, um português ou portuguesa se destacar nele. E mesmo assim é uma notícia breve, uma nota no fim do telejornal e, em alguns casos, notícias que se interessam apenas pelo dinheiro que os atletas vão ganhar (como aconteceu com a Sara Moreira).
Quando é qualquer evento de futebol, há uma completo esmiuçar até ao tutano da coisa. Basta ver o que foi durante este último mundial. Mas enfim. Parece que continuamos o país dos 3 F's, que já nem 3 devem ser.
AC
Lindas fotos! Por acaso também adoro correr fora da minha cidade.
No próximo ano vou poder correr em Londres e Paris, nada de maratonas, que isso exige uma preparação física que não acredito ter um dia, mas corridas por gosto e aproveitando para ver as cidades com outros olhos.
http://thelusofrenchie.blogspot.pt
Acontece sempre isso quando vamos para fora, percebemos a pequenez de Portugal relativamente a alguns assuntos. Acredito que vá mudar, mas demora muito tempo.
Os meus mais sinceros parabéns por incorporar o exercício físico em todas as oportunidades. Faço exercício todos os dias e não posso concordar mais quando diz que fazê-lo noutra cidade tens mais encanto. Aguardo ainda a minha visita a NY.
Ana, é bem verdade! Tudo aqui é um aborrecimento. Nunca corri uma Maratona mas desde a 2ª edição da Maratona do Porto (Já lá vão 11) que acompanho o meu Pai. É com grande alegria que vejo a evolução que temos levado, ainda que a passo de caracol. Lembro-me de ouvir comentários desagradáveis porque íamos com apitos e buzinas para apoiar os corredores. Lá fora é bem diferente. Adorei o ambiente da Maratona de Sevilha e da Corunha. Experimentem! É mesmo fantástico!
Inês Ferreira
Olá eu fui a Nice ver o meu marido correr a maratona estive para ir fazer a meia mas desisti de treinar há uns tempos...tenho de voltar mas para os 10km 21 é demais para mim1 um bj!
Pipoca, tenho gostado muito dos teus posts de Nova Iorque.
Uma vez que já foste a Nova Iorque algumas vezes que tal fazeres um género de roteiro? Fica o desafio.
É uma questão cultural, no entanto penso que vamos melhorando, aos pouquinhos. Deve ser um orgulho correr uma maratona com a de NY. :)
CASAL DE RATO <3
Eu, pessoa que nem para apanhar o metro corro, venho falar por todas as pessoas que nao se podiam importar menos com as maratonas. Desculpem, ta? Que falha a nossa, nao gostarmos das mesmas coisas que voces e nao irmos apoiar desconhecidos durante duas horas para o meio da rua, meu Deus. Para a proxima tamos la todos, ta bom? Nao se zanguem.
Oi Pipoca, tenho uma questão que não sei se me pode responder:
Cada vez mais as maratonas, corridas, etc, promovem o ajuntamento de um grande número de pessoas, ainda para mais em Nova Iorque. Nunca teve receio que um episódio como aquele que aconteceu em Boston possa ocorrer num evento em que esteja? Entendo que não queira responder/publicar este comentário. Resta apenas a tentativa :) beijinhos
É pequenez não gostarmos todos do mesmo?
Adorei o cartaz da estrela :)
babymf.blovgspot.pt
Epá na antepenúltima foto à primeira li : "Te amo arrumadinho" o que era uma coisa bonita de se escrever, depois lá percebi: "team o arrumadinho". Eu continuo a preferir a versão declaração de amor.
são mais 4h do que 2h, mas ok...:)
Anónimo, adorei a resposta. Também li outro comentário mais acima que dizia: "É pequenez não gostarmos todos do mesmo?". Não podia concordar mais. Nem todos gostamos de correr. Eu, por exemplo, odeio. Porque é que um país cujo povo tem outros gostos e preferências é um país pequeno e atrasado? Temos a nossa cultura, tal como os americanos têm a deles. Também devíamos ser malucos por armas e organizar eventos tipo NRA só porque os americanos o fazem e eles são super avançados? É natural que as pessoas fiquem chateadas quando um grande evento destes altera a sua rotina, especialmente se nem sequer ligam ao mesmo. Eu, por exemplo, adoro futebol, sou benfiquista ferrenha, mas fugi de Lisboa na altura da Champions por causa da confusão. Até parece que temos a obrigação de apoiar desconhecidos a fazer algo ao qual não ligamos nenhuma. Gosto muito de ti, Pipoca, mas desta vez não concordo.
Desafio ou não te apetece ter trabalho?! ai ai estas pessoas!
então NY também é atrasadinha por não vibrar com futebol. Cada lugar com sua cultura!!!
Eu também não gosto de correr, mas isso não me impede de ao passar por uma (meia) maratona e ir apoiar a malta! Não ando de bicicleta, mas se passar por uma prova, aplaudo! O não gostar não nos impede de apoiar! Numa comparação que nada tem a ver, posso não conhecer o morto, mas se for apanhada no meio de um cortejo fúnebre, desligo o rádio e não me ponho a contar piadas para que os outros riam.
Eu gosto de fazer natação e de nadar.
NUNCA mas NUNCA me ocorreu fechar as ruas, fechar pontes, impedir que as pessoas fossem para os seus trabalhos ou para outros lados, "exigir" apoio e palmas para que eu pudesse fazer os meus hobbies.
Que descaramento!!!! Muito gostam as pessoas de impor as suas vontades aos outros. Pior...nem se apercebem disso.
Mas eu e as pessoas como eu , é que somos pequenas, pois......
Eu acho pequenez obrigar os outros a gostar das mesmas coisas, e impedir (ao fechar pontes e ruas) que os outros façam a sua vida normalmente.
Pode fazer exercicio á vontade, mas não obrigue os outros a fazer o que não querem.
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Teorias absolutamente espectaculares