Pub SAPO pushdown

É isto mesmo, só não sabia como o dizer:

quinta-feira, janeiro 23, 2014
"Borlas nunca mais

Todos os dias chegam convites para borlas. Para escrever à borla. Para falar à borla. Para ser filmado à borla. Para ser gravado à borla. Não há dinheiro, dizem. Já se sabe como é, explicam. É só por isso que pedem borlas. Se pudessem, adiantam, pagariam o que eles acham que nós merecemos: é muito.

As pessoas que pedem borlas não trabalham à borla. Recebem dinheiro, têm ordenados, arriscam lucros. Custa-lhes muito pedir que trabalhemos de borla — porque eles não.

Até há quem acredite que nos está a fazer um favor, achando que a borla que nos pede é uma maneira de participarmos: uma oportunidade de melhorarmos a (má) "imagem pública" que temos.

Há quem trabalhe de borla num projecto pelo qual está apaixonado e espera que nós, apesar de os projectos não serem nossos e de nós não estarmos apaixonados por eles, trabalhemos de borla — na esperança de que também nos apaixonemos por ela. Pois sim.

Os piores são os excepcionais. Mandam mails a dizer que sabem que detestamos borlas mas que o convite deles é diferente, por ser tão fascinante. E depois pedem uma borla como todos os borlistas desde que a ideia de o trabalho ser pago foi inventada.

Será que a palavra convidar perdeu os sentidos? Convidar é o contrário de pedir trabalho. Convidar é aliciar para o ócio e para o prazer. Se o convite envolve despesas (ir a um restaurante) é quem convida quem paga. Agora já é o convidado.

Os borlistas são piores do que bullies: são os novos esclavagistas."

Miguel Esteves Cardoso
Jornal Público

38 comentários:

  1. Completamente de acordo!! E no seu meio Pipoca nem quero imaginar os "pedidos"... de borla claro! Pá, a malta trabalha QUER E MERECE GANHAR DINHEIRO! Custa perceber??? GRANDE ESTEVES CARDOSO!
    Catarina Abreu

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  2. O Esteves Cardoso é do mais realista possível, adoro-o! E sim grandes abusos devem haver.... "escreva aqui e não ganha nada", nem um Santo!

    Parabéns também ao seu blogue Pipoca, a meu ver a menina encarna na perfeição o Eça dos tempos modernos.

    Vasco M. de Almeida

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  3. Que engraçado, acabei de ler este artigo no Público e de seguida abri o teu blog. Revi-me inteiramente no artigo. É tudo tão verdade! Porque na verdade os empregadores, que nos pedem para trabalhar à borla, até nos estão a fazer um favor: assim ganhamos experiência. Deliciosamente aliciante. Resta saber onde isto vai parar...

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  4. O pior é que isto abunda em tudo e em todas as profissões...
    Mas quem nos está apedir, são os primeiros a resmungar quando alguém lhes atrasa com um pagamento... quanto mais borlas...

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  5. Eu trabalho no mundo da música e não podia estar mais de acordo...
    É convites de restaurantes que se oferecem para nos fazer o favor de tocarmos nos seus espaços porque "é bom para os dois lados", eles têm música ao vivo grátis e nós podemos promover-nos e acumular experiência (como se há tantos anos no meio já não tivessemos experiência)...

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    1. Fogo, que desatino!

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    2. Este exemplo dos músicos deve ser dos melhores! Conheço vários casos destes, infelizmente. E depois nem deslocações ou refeições pagam. É que se ainda fizessem isso, ainda se poderia considerar, já o pagamento não tem de ser em dinheiro (embora a gente prefira, né?) :P

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  6. Não podia estar mais de acordo!!

    Sónia
    Taras e Manias

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  7. Clap! Clap! Clap!

    E a verdade é que vivemos na era da borla ou quase de borla. E isso aplica-se a todas as áreas das nossas vidas.

    Um texto muito interessante.

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

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  8. E todos os dias chovem anúncios de emprego com magnificas ofertas de:" contrato de trabalho". Apenas isto. Eh, pá excelente! E muito obrigada por exigirem tantos requisitos e depois oferecerem um contrato!!

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  9. Mais vale receber pouco do que trabalhar de borla!

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  10. Opá, ultimamente tenho falado tanto nisso. E quando se trata de investigadores, de pessoas da área científica "tens de trabalhar (dado), para teres nome, e tal, e que sim..." O nome não dá pão. Andamos a tirar um curso para sermos escravos. Ó santo. Cardoso!

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  11. Adorei este texto. Existem tantos, mas tantos a pedir que trabalhemos de borla.

    Melhor ainda são aqueles que te põe à experiência durante X dias sem receberes e depois mesmo que faças tudo direito vais-te embora para mais meia dúzia de pessoas tão desesperadas quanto tu também trabalhem à borliu durante dias.

    Ou aqueles que dizem que pagam, mas a recibos verdes. Vais lá às finanças abrir atividade e depois vais procurar um seguro de trabalho e no fim do mês se calhar nem te pagam e não só fazes uma borla, como fazes pior: pagas para trabalhar.

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  12. Todo o trabalho deve ser pago. Nem que seja o mínimo. Caso contrário, é voluntariado. E o voluntariado é feito por cada um nós quando assim o entende. Nas Artes acontece muito isso: "não temos muito dinheiro e isto pode ser bom para a sua projeção...blá, blá, blá...)

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  13. Excelente texto. Infelizmente a crise foi-se tornando cada vez mais desculpa para abusos e mais abusos. e ainda há a lata de quererem fazer as pessoas de lorpas, tentando convencê-las que a borla vai ser boa para elas!Indecente!

    Relembro o site criado para expôr algumas das vergonhas que por aí andam:
    http://ganhemvergonha.pt/




    http://oquetenhoparavender.wordpress.com/

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  14. Muuuito bem dito!
    Trabalhar sem receber, que seja por conta própria, agora a "convite" é que não.

    www.prontaevestida.com

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  15. Pipoca não sou escritora, sou Advogada e raro é o dia em que não há um familiar (e não me refiro aos meus país naturalmente), um amigo, um amigo de um amigo, a funcionária da pastelaria, o taxista, etc. que nos vem pedir um esclarecimento. Há dias um Colega afirmava que almoços em família ao Domingo eram sinónimo de consultas à borla! Tal e qual. Nós estudamos, investimos milhares de euros e continuamos a estudar e a investir e depois há sempre quem se queira aproveitar! Já basta o estágio obrigatório de três longos anos sem direito a remuneração. Enfim...

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    1. Completamente de acordo. Não tenho o exemplo no caso do Direito mas sim familiares médicos, nomeadamente mãe. Já sem falar nas borlas nas consultas, as pessoas passam a vida a pedir-lhe directamente ou através de mim receitas (e sempre para "ontem") porque têm os medicamentos a acabar e não têm consulta marcada com o próprio médico. Parece que se esquecem de várias coisas: a receita é um acto médico, os próprios médicos pagam do seu bolso as receitas e vinhetas e estudaram anos para as poderem passar. Já para não falar da responsabilidade que é prescrever a uma pessoa que não se acompanha. Depois ficam ofendidos quando se diz que não.

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    2. O mesmo com os médicos... Já agora... só uma perguntinha...
      Mas em relação a familiares não acho corecto levar dinheiro, não estou a falar da primia de 10.º grau que nunca vi antes da consulta... mas de resto... mas isto que sou que nunca hei-de ser rica!

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    3. Xii... é que é mesmo. Tenho um familiar directo que também se encontra na mesma situação. Sempre que se encontra a família (avós, tipos, primos, etc.) parece que fomos tele-transportados para um consultório médico. Por acaso ele até ganha muito bem e as pessoas que lhe pedem as receitas não, algumas até estão desempregadas, mas às vezes podiam esperar que fosse ele a pergunta "precisam de alguma coisa?", mas não, ele tem a 'obrigação'. No aniversário, se for preciso, nem um telefonema recebe.

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  16. E agora há sempre a desculpa perfeita: "É a crise! Sabe, devido à crise..."
    PQP a crise e mais estes aproveitadores que querem lucrar à custa do trabalho e talento dos outros!!

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  17. É o mais comum hoje em dia... "temos aí um projecto, mesmo bom... não dá para pagar nada, mas vai aparecer no teu CV e isso vai ajudar, ficamos todos a ganhar"
    E pronto, assim andamos a trabalhar à borla porque, hoje em dia, fazer "voluntariado" na nossa área já é muito bom, porque segundo os chefes, dá curriculum!! Uma miséria... uma miséria... "ah e tal se trabalhares agora de borla, pode ser que daqui a uns tempos as coisas mudem e consigamos algo e que te possamos pagar"... e pronto, assim vamos trabalhando, sem receber, muitas vezes para alem de não recebermos, ainda gastamos, porque precisamos de nos deslocar, porque precisamos de comer... É uma tristeza, é uma revolta...
    Associado a isto ainda está uma outra questão... E quando nos perguntam quanto é que achamos que merecíamos receber trabalhando na nossa área e nós respondemos, "pelo menos 1000 euros", olham para nós e riem-se, como se tivéssemos a contar uma piada... como se fosse um crime! Entretanto pagam-nos 600 euros e é uma sorte e quando nos queixamos, ainda temos que ouvir (de todas as pessoas): "Muita sorte em ganhares 600 euros..."
    Mas será que hoje em dia toda a gente acha normal trabalharmos de borla ou trabalharmos por 500 ou 600 euros??? Isto faz-me imensa confusão... juro que faz...

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  18. É isto mesmo..... Trablhamos de borla e quem alimenta a malta de lá de casa já para não falar na prestação dacasa e na conta do supermercado).... Se comentários.

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  19. Engraçado, li sobre este assunto hoje na Visão de 2 a 8 jan.
    Dizia Rui Zink e passo a citar: " Caros senhores, muito obrigado pelo convite para dar ideias para incrementar a cultura em 2014. O trabalho que V.Exas me pedem é remunerado? Suponho que não. A minha sugestão é então essa: Que todos os «convitespradarideias» sejam pagos em 2014. E esta dou-a de borla, com a esperança de calar firme em vossos corações. Ámen. "
    Gostei deste "sem papas na língua" do senhor!

    Um leitor assíduo

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  20. Plenamente de acordo!! So para ter uma ideia, Finalizei recentemente o segundo curso, tenho andado a tentar arranjar emprego na area mais dificil: investigação, se não for possível passarei para o mais óbvio da área pois preciso de ganhar o meu salário depois do tanto estudo, e por incrivel que pareça não só não arranjei vaga, como nenhuma instituição onde fui aceita emprego voluntário da minha parte, por pouco período de tempo e até eu ganhar experiência para ver se depois consigo vaga, como uma instituição muito conhecida de laboratórios do estado me pediu para eu pagar para estagiar voluntariamente la!! E sem sequer ser aluna pois ja estou formada. Enfim, hj em dia para começarmos a trabalhar ja temos de acabar um curso e ter experiência de Director ou entao temos que trabalhar a borla como se fossemos alunos estagiários ainda. Borlas não ;)

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  21. Grande MEC!!!
    Sempre a dizer o que mais ninguém consegue.. e em público! =)
    ***

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  22. Anda por aí um "Chef" conceituado a recrutar estagiarios á borla! é assim que eles ficam conhecidos!

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  23. Na minha área de trabalho esse tipo de pedidos de borla também são uma constante :S

    Sem Jeito Nenhum Blog

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  24. A desculpa (ou a justificação) é sempre a mesma, de que quem fica a ganhar somos sempre nós, porque vamos beneficiar da exposição (ahahaaha). Pelos visto há mais gente além de mim a sofrer com os borlistas, gentinha burra que pensa que ainda vive no tempo de explorar otários. Obrigada Pipocas obrigada Miguel.

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  25. Tem toda a razão.
    Mas se é também em relação a si, e apesar de respeitar que o seu blogue lhe dá trabalho e o seu "sustento", ainda não consigo vê-lo como trabalho.

    De todo o modo, não é a Santa Casa por isso com certeza tem de tirar daí proveito...

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  26. Escusado será dizer que na área da Consultoria de Imagem e Maquilhagem se passa exactamente a mesma coisa: "Ah e tal, diz lá o que me fica bem", "Ah e tal, tenho uma festa, gostava muito que me maquilhasses!"
    Resposta: "Claro que sim, o valor é X".
    "Ai é? Tu cobras? Ah então vou pensar, se calhar não me compensa...".

    Pois, e a mim também não me compensa perder tempo de estudo de morfologias e tecidos e padrões, e gastar produtos de maquilhagem em alguém que nem sequer quer pagar por um serviço que estamos a prestar...

    Temos pena.
    Não há cá borlas para ninguém, não são as borlas que nos pagam o curso e os materiais.
    Já para não dizer que quando o trabalho ou aconselhamento é feito gratuitamente as pessoas não dão o devido valor.

    Beijinho grande Pipoca!
    Gostei de te ver nas Amoreiras há uns dias ;)

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  27. Compreendo muito bem o texto. Sou estudante de Direito, e estou prestes a enfrentar uma profissão em que por um lado, somos acusados de ser uns sacanas de uns sovinas, e de nem à prima da madrinha da avó fazermos um favorzinho, e por outro, estamos constantemente a ser abordados com «pedidos de opinião». AH, é só uma opiniãozinha, só a tua opinião de profissional, só uma ajudinha aqui no meu problema que me está a custar muitas horas de sono... Até como estudante, ainda nem sequer formada, já me pedem «opiniões» e «ajudinhas». E se respondemos que pagam muito bem aos advogados pelas suas opiniões, são opiniões que custam 4 anos de universidade, muitas horinhas de estudo e se calhar um ou outro mestrado ou pós graduação, somos acusados de má vontade.
    Se o «favorzinho» é algo pelo qual a pessoa seria paga, ou é paga, em circunstâncias normais, não se devem pedir borlas. Valor profissional, conhecimento profissional tem o seu preço, quer seja em Marketing, em Direito, a cozinhar, a escrever ou a arranjar canos. E mesmo quando é família ou amigos. Muita gente gosta de ajudar sem cobrar à familia ou amigos, o que não tem mal nenhum como é óbvio, mas eu por exemplo, se for a uma consulta médica dada por um amigo dos pais/familiar/ amigo etc, faço sempre questão de pagar, por mais chegada que seja a pessoa. O valor profissional custa dinheiro.

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  28. Dixit!
    Fui convidada duas vezes para ir à TV e fui...à 3ª perguntei quanto pagavam e a conversa foi exatamente essa - Ah e tal....ok, então nao tenho tempo! Obrigada.

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Teorias absolutamente espectaculares

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