Depois do "Anna Karénina", do "1984" e de "O Memorial do Convento", o "Dona Flor e Seus Dois Maridos" foi, sem dúvida, uma lufada de ar fresco, apesar das quase 600 páginas (que parecem 100). A história é leve, divertida e o Jorge Amado é um óptimo cronista social. Dele só tinha lido o "Capitães da Areia" (lindo, lindo, lindo) e "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá", mas esta Dona Flor ficou-me no coração. É impossível não gostar dela, do seu jeito para a cozinha, da sua seriedade, da sua paciência de santa, mas também da sua coragem para se impor e defender aquilo que quer. Depois temos os maridos. O primeiro, o Vadinho, era o traste típico: jogador (e quase sempre perdedor), trafulha, mulherengo, boémio, tudo aquilo que não se quer. Um bom malandro. Na primeira parte do livro, quando ele ainda era vivo, dei por mim a ter vontade de lhe bater. Curiosamente, quando morreu e começou a aparecer à Dona Flor, comecei a achar-lhe alguma graça e a torcer por ele (sobretudo quando fez com que todos os amigos ganhassem uma fortuna nos casinos). Já o segundo marido, o Dr. Teodoro, é o oposto: é cortês, atencioso, certinho...ou seja, um chato, sempre com tudo muito organizadinho e arrumadinho e programadinho. Coitado, é querido e bem intencionado, mas um bocadinho maçador. Depois há toda a vizinhança, os amigos do Vadinho, a mãe da Dona Flor (bruxaaaaaa), as alunas da escola de cozinha, e as muitas histórias paralelas que se vão criando em torno de todos. É fácil entrar no espírito de São Salvador, naquela alegria, naqueles dias quentes, naquele jeito fácil de levar a vida. Quando estive lá senti isso e o livro conseguiu pôr-me a andar naquelas ruas, para cima e para baixo. Fiquei com alguma curiosidade em saber mais sobre candomblés, orixás, voduns e mães de santo. Fui pesquisando alguma coisa sobre o assunto enquanto lia o livro, mas acho que é preciso ir lá e descobrir "in loco". Enfim. Acredito que não seja a maior obra do Jorge Amado, mas gostei da forma como a história está estruturada e acho que é um óptimo livro para desanuviar (boa leitura para férias).
E agora, segue-se o José Luís Peixoto com o "Cemitério de Pianos". Para ler até 15 de Abril.
16 comentários:
Obrigada pelas dicas de leitura. Gosto muito do seu blogue. Boa continuação. Ah, e já agora, visite o meu :)
Jovita Capitão.
http://rainhadasinsonias.blogspot.pt/
Já tinha lido esta obra de Jorge Amado e, tal como tu, também achei uma história deliciosa.
Pode não ser o melhor entre os melhores do autor, mas não deixa de ser uma leitura agradável e que dá vontade de ir lá e ver com os nossos olhos o universo que ele nos conta.
ndnan.blogspot.pt
Olá Pipoca :)
Pode dizer-me quais são os seus livros favoritos? Que ache mesmo que toda a gente devia ler.
Bjs e obrigada
alguém arranja este livro em pdf?!algum site? nao da para comprar todos :/
Carla
Carla : http://bancodavitoria.files.wordpress.com/2008/06/jorge-amado-dona-flor-e-seus-dois-maridos-pdfrev1.pdf será que isto lhe serve?
e para quando o trio das cinquenta sombras?
Cinquenta sombras nãaaao, please!!! Li o primeiro e do meio pra frente foi grande frete, estava farta de ler sobre o pinanço alheio, credo!
Quanto ao José Luis Peixoto, só estamos desencontradas no título, comecei ontem a ler o "Dentro do Segredo" e já estou completamente maravilhada e viciada. Acho que se não me der a soneira suprema à noite, praí amanhã já o acabo :D!
Esperemos que nunca! Ainda que se a Pipoca ensandecesse e os quisesse ler todos, eu não faria parte do clube de leitura =)
omg
Já li e adorei também, mas mais para o sério o "Terras do sem Fim" e sem dúvida, "Capitães na Areia".
http://apipocamaisdoce.clix.pt/2012/07/fujaaaaaaaam.html
A pipoca já se pronunciou sobre essa "fantástica" trilogia.
Então e quanto à estrutura do livro não tem nada a dizer? Aquela ideia de separar capítulos com receitas de culinária? E os comentários de D. Flor às preparações? Acrescento ainda que vale a pena experimentar as receitas - a de moqueca de siri mole é ótima.
Jose luis peixoto é dos melhores escritores portugueses... já li todos
JASUSSSSSSSSSSSSSSSSS
Bata na boca
Bom, eu não consigo acompanhar, mas vou seguindo as sugestões e leio quando tenho oportunidade :)
Já li em parte incerta e agora vou começar dona flor e os seus dois maridos :)
Como estudante da obra e do autor concordo que não é a melhor. Mas como a Pipoca disse bem e, eu como leitora, também confirmo, é uma narrativa deliciosa. O que enredo que poderia ser tomado como meramente pitoresco e cheio de explicações religiosas para a existência de Vadinho "o marido-alma-penada" é delicioso. Nos sentimos levados à cozinha de D. Flor, partilhando os seus dilemas cotidianos mais íntimos e, no fim, nos damos conta que D. Flor é a tipificação dos primeiros esboços da liberdade feminina do século passado.
Valeu pela escolha, Ana!
http://sesobrarpapel.wordpress.com/
Enviar um comentário
Teorias absolutamente espectaculares