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Clube de leitura #2: 1984

quarta-feira, março 06, 2013

Já conhecia a história genericamente, mas não fazia ideia que o 1984 fosse um livro tão forte e tão pesado. É um livro cativante, sem dúvida, mas também é um bocadinho sufocante à conta da figura do Grande Irmão, sempre presente, sempre controlador, sempre opressor. Aquela coisa de haver sempre alguém a observar e a registar cada passo, cada palavra e praticamente cada pensamento, de forma obsessiva, é absolutamente assustadora. E a ideia de um Estado que quer anular completamente toda e qualquer liberdade, toda e qualquer expressão de individualidade, cujo único intuito é fomentar o ódio, é coisa para uma pessoa dar em doida. Acho que o que me fez mais impressão foi o facto de poderem mexer na história, de reinventar o passado, de manipular os acontecimentos , de eliminar e acrescentar factos conforme dava jeito. E, desse modo, moldar a massa humana, que vivia indiferente àquilo tudo, absolutamente cega e absorta, sempre pronta a concordar com as teorias e ensinamentos  do Grande Irmão, numa lavagem cerebral infindável.  Medo, muito medo! Ao mesmo tempo, acho que o 1984 não está assim tão longe dos dias de hoje, é até uma espécie de alegoria ao que vivemos. Não no sentido de nos manipularem daquela forma, Deus nos livre e guarde que acho que ainda não estamos assim tão mal, mas no sentido de estarmos cada vez mais expostos a tudo e mais alguma coisa. Muito por nossa culpa que, ao querermos partilhar tanto, em tanto lado, acabamos por deixar que a nossa vida seja observada e controlada por tanta gente. Estamos na era dos Facebooks, dos Instagrams, dos Twitters e sei lá eu mais do quê. Não damos um passo sem que o mundo inteiro saiba. É uma espécie de Big Brother, mas ao contrário, porque somos nós que nos expomos de livre vontade. Enfim. Consequências da evolução. 
Gostei muito da personagem do Winston e da luz de esperança que traz ao livro. É inevitável não nos tornarmos cúmplices dele no ódio pelo partido, pelo Grande Irmão, pelos  princípios opressivos. É inevitável não ficarmos a torcer para que acabe com aquilo tudo, para que consiga mudar o rumo da história. E é inevitável não nos sentirmos defraudados por ver que todos lhe falharam (até a Julia), que todos o traíram, que ele era o único bom no meio daquilo tudo e que, mesmo assim, acabou por sucumbir e resignar-se como todos os outros. Não os pôde vencer, teve mesmo de juntar-se a eles. 

19 comentários:

Anónimo disse...

Não está assim tão longe dos nossos dias, da nossa realidade, mas está definitivamente muito próximo, daquilo que foi o comunismo/socialismo na europa de leste, mais concretamente na última década do império soviético e estados satélite. Aliás, é um livro muito associado a essa época e regime. Gostei da tua interpretação, e continuação de boas férias!

Anónimo disse...

Concordo com o que dissste: vivemos numa era do Grande Irmão em que toda a gente sabe tudo sobre a nossa vida, mas apenas porque nós deixamos. Quando estava a ler o livro pensava muito nisso. Acho que tem que se impôr alguns limites. Eu sempre senti uma invasão da minha vida pessoal e privada, não só online mas também no dia-a-dia. parece que o conceito de privacidade já não existe. Para os outros, temos que nos justificar e dar satisfações. Isso deixa-me muito triste.
Quanto às personagens, nenhuma me aquece nem arrefece. São pessoas normais a viverem o seu dia-a-dia, sem arranjar problemas. Não são extraordinárias, mas sim humanas.
O final surpreendeu-me muito. Não pensei que ele se rendesse. pensei que fosse lutar até ao fim pelo que acreditava. Mas a vida real nem sempre é assim. Acabamos sempre por nos render às circunstâncias.
No geral, gostei do livro, mas foi muito pesado, especialmente nas cenas de tortura. Foi bastante chocante.

A.

badmary disse...

Li há muitos anos. Faz impressão sim.
O livro foi escrito numa época em havia muitos "grandes irmãos": pós segunda guerra mundial, na ressaca do nacionalismo e no auge dos regimes comunistas russo e chinês (ambos altamente focados na figura de um pai da nação). As influências são evidentes :-)
Quanto à tecnologia ela é, até ver, controlada por nós (no livro era imposta e impunha-se) e cabe a cada um de nós ter a noção clara de até onde a quer levar.

Mariana Araújo disse...

Li o livro há uns seis anos e achei muito bom. Clássico! Leitura obrigatória. Acho que vou começar a participar do grupo de leitura daqui. :)

http://blogcolchaderetalhos.com/

Anónimo disse...

Li o livro neste verão, portanto, não foi através do "clube de leitura" da pipoca, mas mesmo assim vou opinar.

Concordo genericamente com a sua opinião e é um dos meus livros preferidos. O livro tinha que ser mesmo sufocante, só assim podia ser tão bem conseguido. É pesado, deixa-nos a perguntar como é que isso tudo é possível, como é que essas pessoas aguentam, como não se revoltam e conseguem levar as suas vidas normalmente. A parte da novilíngua, da ironia dos ministérios e do conceito do duplo pensar faz-nos perceber que Orwell não escreveu 1984 de ânimo leve, não foi às 3 pancadas, pensou, reflectiu e praticamente criou uma nova realidade, que consegue ser mesmo real para o leitor e que nos sufoca.
O final é qualquer coisa! Não sei se eu é que sou muito ingénua, mas confesso que nunca pensei que o O'Brien fosse dos "maus", pensei mesmo que havia uma resistência e que tudo ia acabar bem dentro do possível. Tudo isso faz com que o final seja mesmo arrepiante. Julia traí Winston, mas Winston também traí Julia simultaneamente e a forma como o faz é brilhante. Obviamente que isso não faz dele um vilão, longe disso, ao longo do livro é óbvio que Winston era um homem bom , único, melhor que a maioria.

Anónimo disse...

A tua revisão está muito bem feita.
Este livro faz-nos pensar e avaliar a realidade que nos rodeia!

Maria Martins

Anónimo disse...

Cruzes...
Já tinha ouvido falar deste livre, e deve ser por isso que fizeram o programa BBB e garanto que os parvinhos que assistem nao fazem a mínima idéia de onde veio o nome do programa. Mas acho que é um livro um bocado denso, principalmente para se ler me férias :(
Decidi que doravante nao vejoa mais nada que seja trágico, ou que me deixe mal, senão minha síndrome do pânico ataca de novo..heheh

Anónimo disse...

Com o FB o twiter os instagrams e etc o big brother SOMOS NÓS.

Pintarolada disse...

Agora tenho mesmo que ler!:)

Anónimo disse...

o que é o programa BBB?

AliceInWorryland disse...

Adorei a crítica, está aí tudo, Pipoca. Isto é mesmo uma daquelas obras tão bem pensadas que nos abrem os olhos a tanta coisa... Eu disse num post aqui há uns tempos que a partir de agora não iam olhar para o mundo à vossa volta da mesma forma. :p Uma das ideias que mais me chocou na altura em que li foi o comentário do O'Brien sobre estarem a planear abolir o orgasmo! Enfim, depois de tudo o que tinha lido até lá, aquilo, para mim, era o cúmulo da opressão. Volto a recomendar que vejam um filme chamado Equilibrium com o Christian Bale, que é apenas uma adaptação da ideia do 1984, mas muito bem conseguida e, de longe, menos arrepiante e chocante que a obra do Orwell. A mim sabe-me bem ver uma adaptaçãozinha cinematográfica depois de ler um livro de que tenha gostado, por isso espero que gostem também.

João disse...

(já tinha colocado aqui, mas o comentário não foi aceite por motivo que não percebi)

Eu também participei na leitura conjunta e dei a minha opinião em vídeo no youtube. Se alguém tiver interessado em ver o que eu considerei ser as 5 ideias-chave do 1984: http://www.youtube.com/watch?v=ai6BhhNLSZg

Em relação à análise da pipoca, gostei muito. No entanto, talvez por falta de atenção em alguma parte, para mim não ficou claro que a Julia tivesse falhado ao Wintson. E concordo que é um livro pesado, principalmente a terceira parte. Todo o livro cria desconforto.

ritalopesteixeira disse...

Aconselhas Pipoca? :) acabei de ler um e preciso de outro... e claro que o Memorial já está mais que lido, se não juntava-me ao clube de leitura by Pipoca :)

Anónimo disse...

Só agora pipoca ...
A minha filha leu com 13 anos e adorou.

Anónimo disse...

Parece ser um grande livro.
www.cortinaindiscreta.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

O livro é uma grande metáfora de tudo o que oprime, das "langues de bois" que tudo distorcem, é negro e negro tem de ser.
Mas eu prefiro "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley. Como a servidão é consentida, até por não se ter consciência dela, as personagens sentem-se felizes - e isso é o mais terrível. A ler, absolutamente.

Belicious disse...

Quero muito ler finalmente um livro com uma história forte. Este parecia-me lindamente e até tentei fugir um pouco aos spoils do post, mas agora fiquei um pouco assustada por dizerem que é demasiado pesado. Ainda assim, se é leitura obrigatória, é obrigatória ;)

Anónimo disse...

Estudaste jornalismo e nao tiveste que ler este livro? Nem viste o filme???? Pensa então na mensagem de Orwel e nos mass media...

Ana disse...

É m livro que marca muito. Pela negativa! Quando o acabei de ler fiquei com um nó na garganta. Dos livros a não esquecer. essencial.

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Teorias absolutamente espectaculares

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