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terça-feira, março 02, 2010
Quando eu tinha 18 anos tive uma doença grave que me obrigou a estar três meses de cama, sem pôr o nariz na rua. Não fui desta para melhor porque os meus pais, que estavam comigo de férias e perceberam que os médicos da zona não estavam a fazer nada por mim, pelo contrário, optaram por enfiar-me no carro, fazer 300 e tal kms e trazer-me para as urgências do Santa Maria. Ora isto foi há dez anos e nunca se me ouviu uma palavra sobre o assunto. Porque não me apeteceu nem estava para aí virada. Já lá vai, já passou, não foi fixe na altura, mas pronto. Depois disso, já tive um pai com cancro, dois avós, duas primas, tios e amigos próximos. Uns estão cá para contar a história, outros, infelizmente, não resistiram. Mas todos eles, ou a grande maioria, reagia à doença com sentido do humor. Faziam piadas sobre o seu estado. Gozavam com o infortúnio. Faziam-me rir com piadas que eu achava que uma pessoa naquele estado não era capaz de fazer. O meu pai é das pessoas mais divertidas e bem dispostas que conheço, e só ele sabe como o cancro o afectou. Não perdeu o sentido de humor e não passa a vida a falar da doença, ainda que lhe tenha deixado muitas mazelas visíveis. Portanto, e posto isto, não me venham cá dizer que não se pode falar de doenças, que é muito feio, que eu não sei o que é estar doente, ou que só se pode falar do assunto quando convém e dá jeito. Pela parte que me toca, sempre optei pela posição contrária: relativizar, amenizar, rir-me das coisas. Quem superou uma doença grave tem mais é que andar para a frente e agradecer todos os dias por estar vivinho da silva. Para quê estar sempre a bater na mesma tecla? Neste espaço não há temas tabu nem coisas das quais não se pode falar, "porque parece mal". O que parece mal é fingir que as coisas não existem, tratar tudo com paninhos quentes, olhar para os outros como coitadinhos, que não são. Existirá SEMPRE alguém pior do que nós, com histórias mais infelizes, mais desgraçadas, mais negativas. E eu prefiro ver sempre o copo meio cheio.

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Teorias absolutamente espectaculares

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