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segunda-feira, janeiro 11, 2010

Numa altura em que tanto se fala de casamentos e adopção por parte de homossexuais, dei por mim a pensar no assunto. Durante muito tempo, achei que tinha tudo o que era preciso para ser preconceituosa no que diz respeito a essa temática. Fazia-me espécie, achava estranho, contra natura. Cresci a achar que os meninos foram feitos para as meninas, e vice-versa e, na minha cabeça, era assim que as coisas tinham de ser. À medida que fui vendo mais mundo (e abandonando a parvoíce típica da adolescência), percebi que havia mais cores para além do branco e do preto. E mais modelos relacionais do que aqueles que a sociedade definiu ou procura impor.
Foi há dois ou três anos que fiz amizade com um gay. Começámos a relacionar-nos por questões de trabalho e, sem dar por isso, acabámos por ficar amigos. E foi ao dar-me com ele que percebi que não tinha qualquer espécie de reserva quanto à sua opção sexual. Aliás, foi no momento em que dei por mim a perguntar-lhe pelo namorado, tal como pergunto a qualquer outra amiga, que percebi que o assunto não me perturbava minimamente, não me parecia esquisito nem pouco natural. Quando vamos almoçar ele fala-me dos problemas dele, dos dramas domésticos, das discussões, e eu esqueço-me que ele está a falar de outro homem. É-me indiferente e gosto que seja assim.
A verdade é que é muito pouco importante quem está com quem. Não é a felicidade o objectivo máximo desta vida? Se um homem é mais feliz com outro do que com uma mulher, vai abrir mão disso só porque é mal visto? Vai passar o resto dos dias sozinho só porque temos uma tendência natural para a intolerância e incompreensão? Assim como assim, no que é que isso nos prejudica? No que é que isso nos torna mais infelizes? E mais, o que é que temos a ver com o assunto, com as escolhas de cada um? Porquê a rapidez a apontar o dedo e criticar?
O mesmo sobre a adopção. Não tenho filhos e percebo pouco de crianças, mas acho que devem ser usados os mesmos critérios que se usam com as famílias heterossexuais. Mais do que serem duas mães ou dois pais, o que importa é que tenham afecto, condições, desejo de cuidar de uma criança e de a fazerem feliz. Ah, e tal, mas são famílias disfuncionais. Segundo quem? É que eu conheço muitas famílias com um pai e uma mãe e nem por isso são muito normais, bem pelo contrário. Enfim. Tolerância para 2010, é o que se deseja.

Crónica publicada este fim-de-semana no 24Horas (foi só desta vez, não se habituem)

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Teorias absolutamente espectaculares

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