
Sexta tivemos drama doméstico. Depois de duas horas enfiados no El Corte Inglés, com a estóica missão de lhe encontrar uns sapatos giros (vá, isso é impossível, uns sapatos que não fossem assim muito maus), eis que chegamos a casa à meia-noite e a porta nada de abrir. Experimenta com a chave de um, experimenta com a chave de outro, e nada. Eu, mais pragmática, achei que era logo de chamar os bombeiros, ou a Chaves do Areeiro, essa santa instituição. Mas, claro, já se sabe, um homem nunca se dá por vencido à primeira. E como é um rapaz que consome séries e filmes em excesso, achou que conseguia abrir a porta num instantinho. Primeiro tentou com um cartão, depois com uma radiografia (sim, tínhamos uma connosco, não perguntem porquê, e ele garantia que resultava, que já tinha visto não sei onde), por último pediu-me um gancho do cabelo e lá andou às voltas com a fechadura, qual MacGyver. Óbvio que não resultou, e antes que ele partisse para a violência (é o que costuma acontecer com os homens, quando são vencidos pela técnica largam ao pontapé), perguntei se já podíamos chamar os bombeiros. Meia hora de espera com o rabo alapado nas escadas (que até deu para tirar fotos para a posteridade e tudo) e lá chegaram eles. E eram tantos que eu pensei que estávamos perante uma segunda versão do incêndio do Chiado. Entre bombeiros e polícias eram uns oito, tudo por causa de uma fechadurazinha de nada. Primeira ordem: "vão para o andar de baixo, para não aprenderem como se faz". Claro, não fosse eu dar-me para andar a assaltar casas, coisa que, aliás, faço sempre que tenho um tempinho livre. Se calhar até poupavam trabalho se ensinassem a técnica. Da próxima vez que acontecesse já não tínhamos de chamar os bombeiros, tratávamos nós do assunto. Bom, a técnica ultra-secreta era a da radiografia (dava para perceber pelo som). E era tão boa e eficaz que, uma vez mais, não funcionou. Pelo meio, e com os nervos, em vez de carregar no interruptor para ligar a luz das escadas, carreguei na campainha do vizinho. Lá veio o cão a ladrar furiosamente (quem o ouvisse poderia pensar que era um bulldog, mas é só um labrador com voz grave), e o senhor agente a tentar explicar que era a polícia, e o vizinho a perguntar "mas é para aqui?" (já devia estar a achar que ia ser preso), e o polícia a dizer que não, e o cão sem parar de ladrar, e já tudo aos gritos, e outro polícia a dizer que não queria ter de dar um tiro no cão. Enfim. Moral da história: os bombeiros pediram autorização para partir uma janela e lá foram pela escada de serviço (o vizinho, depois de perceber que não era nada com ele, até cedeu passagem lá por casa). Deram cabo de um vidro da cozinha, coisa que nós também poderíamos ter feito sozinhos e mais rapidamente. Diagnóstico: uma moeda de dez cêntimos enfiada na fechadura, coisas do meu "enteado" (palavra horrorosa), que passou a manhã a pedir ao pai para pôr moedas no mealheiro e que, tendo sido ignorado, optou pela fechadura, tão ali à mão de semear (toda a gente sabe que ignorar os putos dá asneira).
1 comentário:
Vocês são tão engraçados. Sou vossa fã. x)
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Teorias absolutamente espectaculares