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quinta-feira, novembro 06, 2008
Há tempos uma leitora perguntava, via mail, onde é que se encontravam homens interessantes em Lisboa. Ora eu, que andava mais deprimida que uma ratazana de esgoto, de coração estraçalhado, optei por não responder. Não por má vontade, apenas por não saber. Aliás, se soubesse eu própria punha fim à travessia no deserto que já durava há meses largos. A verdade é que eu acho que os gajos interessantes, em Lisboa em particular e em todo o nosso Portugal em geral, são uma espécie em vias de extinção. E ou uma pessoa assume esta triste realidade e deixa o trabalho para dedicar a vida a encontrá-los, ou mais vale desistir logo e contentar-se com um ser menos interessante. A partir de uma certa idade é difícil conhecer gente, essa é que é essa: já não há faculdade e festarolas todas as semanas, já se conhecem todos os amigos dos amigos, já se saiu com todos os amigos e com todos os amigos dos amigos, relações no trabalho são má ideia, conhecer gente via net é perigoso (para não dizer parvo, vá), nos mestrados e pós-graduações está tudo muito concentradinho no trabalho, por isso... onde raio se conhecem pessoas novas? Onde é que elas vivem? Até se vê um ou outro espécime interessante (ou seja, giro) na noite, mas onde é que eles páram durante o dia? E o pior é que isto piora com o avançar da idade. Não quero estar aqui a pôr pressão mas, minhas amigas, tic-tac-tic-tac, o relógio não pára.
No meio desta história entram aqui vários conceitos importantes. O primeiro, é o da disponibilidade. Se uma pessoa não estiver muito voltada para relações, se ainda estiver a pensar em tempos que já vão, o mais provável é que não vá achar graça a ninguém que se aproxime. Até um cafezinho (Nespresso) com o George Clooney, o Clive Owen e o Jude Law (todos ao mesmo tempo, para surtir mais efeito) nos fará sono. Digo-o por experiência própria, que ao longo de oito ou nove meses tive dates bocejantes, daqueles em que só olhava para o relógio e, ao fim de meia hora, já dizia "está a ficar fresquinho, não é? Estes meses de Julho estão cada vez mais esquisitos. É capaz de ser melhor irmos andando". Cheguei a combinar com uma amiga que se lhe desse um toque ela me devia ligar a dizer que tinha acontecido uma qualquer catástrofe mundial que me obrigaria a sair dali de imediato. E eles não eram maus moços, que não eram, eu é que tinha a cabeça noutras paragens e toda a gente me parecia extremamente aborrecidazinha e maçadora.
Bom, e aqui entra em jogo outro conceito importante: o de interessante. Coisa subjectiva e difícil de definir. É que há muita gente que se queixa que não há nada mas, no fundo, é é esquisitinha. Eu não queria nada de muito especial. Só um homem que me fizesse rir. E que fosse inteligente. E interessado. E giro, já que se está a pedir. E que gostasse de cinema, e música e livros e viagens. E que fosse um fervoroso adepto benfiquista. E que me conseguisse surpreender. E que não viesse já com bicho (que é como quem diz, cheio de problemas e coisas complicadas e mal resolvidas). E que não tivesse dificuldade em sonhar e fazer planos de vida. E, porque não, que se ajeitasse na cama. Coisas simples, no fundo, e que ninguém me parecia ter. Aliás, a minha descrença era tão grande que fiz uma aposta em que ia ficar dois anos sem namorado. Um ano já estava quase passado, por isso não havia de ser tarefa difícil.
A questão é que uma pessoa vai crescendo e vai-se deixando de merdas. Se homens interessantes escasseiam, amores à primeira vista, ainda mais. E ao descartarmos pessoas ao fim de cinco minutos com justificações tão pertinentes como "ele tinha uns ténis Puma, prefiro Nike" ou "ele é do Norte, não me dou bem com o frio", lá se vai uma potencial pessoa interessante. Também não estou aqui a dizer que nos devemos remediar com um qualquer totó, que antes isso que a solidão eterna. Digo é que é preciso abrir horizontes e conceder oportunidades. Ele há surpresas que uma pessoa nem sonha. A primeira vez que vi aquele que se auto-intitula "o homem da Pipoca" foi na noite de Santos. Não lhe achei gracinha nenhuma. Divertidozinho, engraçadinho, mas não ficou na minha mente. Não me fez bater o coração com mais força, não me fez ter vontade de querer saber mais. E passaram-se meses. Nunca mais o voltei a ver, nunca mais pensei nele. A segunda e a terceira vez que o vi foi por questões de trabalho. Não houve clique, não houve chama, não ouvi sinos, não vi a luz. Era só trabalho. Mas a quarta vez que o vi, a vibrar à séria com um Benfica-Sporting, com prateleiras a rebentar de livros e DVDs e, melhor ainda, sem me ligar nenhuma nem se fazer a mim (nunca se tinha feito), aí o coração parou-me por momentos (uma espécie de mini AVC à Margarida Rebelo Pinto). E vi outra pessoa. E quando, ao final da noite, chegou uma mensagem, a primeira, percebi que queria receber mais. E que queria saber mais. E perceber que aquele gajo, pelo qual não dei nada à partida, até tem mil coisas que gosto e que têm a ver comigo. E que era o oposto a tudo aquilo a que estava habituada. E que merece, por tudo, o título de "homem da Pipoca".
Por isso, caras leitoras à beira da desistência, aguentem mais um bocadinho e olhem à volta, que isto às vezes nunca se sabe, e o amor à quarta vista funciona tão bem ou melhor do que à primeira.

4 comentários:

  1. adorei pipoca! lindo! assino por baixo! és fantástica!

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  2. Finalmente percebi toda a vossa história! K ninis! :)
    Ao vivermos um dia de cada vez somos surpreendidas diariamente e tiramos partido em absoluto do upgrade k a vida nos proporcionou.

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  3. melhor post de todos! adorei

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Teorias absolutamente espectaculares

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