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segunda-feira, março 17, 2008
Ai que é uma trombose, ai que afinal parece que não



















As noites de domingo para segunda são, por tradição, noites de insónia. Ou é porque ao domingo durmo até tarde e depois não consigo adormecer, ou é porque estou stressada por a segunda-feira estar à porta ou é por, sabe-se lá por que raio, me dar para pensar mais na vida aos domingos à noite. Pois que ontem consegui adormecer relativamente rápido, sem vislumbre de insónia. Devia ter desconfiado. Às duas da manhã acordei com uma tal dor na perna direita que mal a conseguia mexer. Achei que tinha dado um mau jeito, mas não havia modo da puta da dor passar, e lá fui acordando de duas em duas horas, tentando saltitar pelo quarto para ver se ainda conseguia andar. Às sete da manhã, já em lágrimas, fiz o que qualquer mulher que se preze faz: chamar pela mãe. Primeiro de forma suave, depois aos berros desesperados, como se a III Guerra Mundial estivesse para eclodir. Mulher despachada que é, vá de me massajar a perna com aquele spray para futebolistas fiteiros-como-o-Nuno-Gomes e de me enfiar um anti-inflamatório pela goela abaixo. Foi bonito, mas não resultou. Às nove da manhã, sem melhorias que se sentissem, achei que era capaz de não ser má ideia arrastar a perna até às urgências. E lá fui, a pensar que ou morria da dor na perna ou morria enfaixada contra uma árvore, tal a pressa do senhor taxista.


As urgências da CUF Descobertas são um sítio muito chique e onde se espera praticamente tanto tempo como em Santa Maria. Com a agravante que é muito mais caro e os médicos parecem os estagiários da Anatomia de Grey (e não estou a falar de serem giros, que não são). A médica que me traçou o diagnóstico foi fofinha. "Pelos sintomas, diria que tem um coágulo de trombose atrás do joelho". Oi? Hein? Trombose? Isso não é aquela coisa que uma pessoa ora está muito bem, ora está esticada no meio do chão? Já em pânico, a senhora resolveu enegrecer o panorama. "Pois... parece que é... o problema é se o coágulo soltar umas bolhinhas que vão para os pulmões... isso é que é mais grave, aí já temos que tomar outras medidas. Pelo sim, pelo não, vai já levar uma injecção na barriga, que é um anticoagolante. E depois vai fazer um exame à perna para fazermos a despistagem e ver se o coágulo se confirma". Por esta altura eu perguntava-me se não devia ser ao contrário, primeiro o exame para ver se o coágulo lá estava confortavelmente instalado, e só depois a injecção. Mas não, o que é que eu percebo disto? Há uns que nasceram para médicos e outros que nunca passarão duns reles jornalistas que têm que se conformar com a sua sorte. Por isso deixei-me estar calada enquanto ela ligava para todo o hospital em busca de alguém que me pudesse fazer o exame à perna. "Ah, hoje não está cá ninguém para fazer, é? Pois, mas isto é mesmo urgente, tem que haver alguém. Onde é que anda o Dr-não-sei-das-quantas? Dê-me lá a extensão. (longaaaaaaaaaaa pausa). Sim? Podia-me dar outra extensão? É que ele não está nesta, e tenho mesmo que o encontrar (outra loooooooonga pausa). Olhe, é melhor ir andando para a injecção que eu vou à procura do médico, está bem?". Lá fui, lágrimas nos olhos, ainda a pensar na trombose. E na injecção na barriga, que é coisa com a qual não me dou bem.


Após uns simpáticos minutos na sala de espera, lá me chamaram para a injecção. A correr e a coxear, para acompanhar o ritmo da enfermeira, sentei-me, pus a barriga a jeito e... "aaaahhh... peço desculpa de a ter chamado, só agora é que reparei que não temos cá este medicamento... vamos ter que ir à farmácia buscar... não se importa de esperar lá fora outra vez?". Não, claro que não. Se eu não estivesse aqui no hospital a morrer de dores, estava em casa a morrer de dores, por isso ia dar ao mesmo. Com a parte de em casa poder estar deitada no meu leito sem ter que andar a brincar aos Jogos Sem Fronteiras dos Hospitais.


Ao fim de meia hora o medicamento chegou. Uma vez mais, arrastar-me para a sala, barriga a jeito, "isto não dói nada", e tufas, vá de espetar a agulha. Que, como é óbvio, doeu! Mas para que é que dizem que não vai doer nada se depois dói sempre? É que uma pessoa acredita, pensa que não vai custar, e depois... custa! Nos minutos que se seguiram dei pela minha barriga a encher-se de pontinhos vermelhos e pensei que só me faltava ser alérgica ao remédio, mas não, lá passou. Entretanto apareceu a médica, triunfante como se lhe tivessem anunciado que ia ganhar o Noebel, a dizer que eu ia conseguir fazer o exame. "Só não sei é quando", que é coisa que uma pessoa que está nas urgências gosta de ouvir. Fazer não demorou. Já o resultado, tardou duas horas e meia, o que me levou a pensar em todas as desgraças possíveis que me poderiam acontecer. Acreditei que há muito que os médicos já sabiam o que se passava com a minha perna, mas que estavam a ganhar coragem para me dizer, porque devia ser uma coisa muito má.


Voltei ao gabinete da primeira médica, que depois de olhar com um ar muito entendido para o exame anunciou "está descartada a hipótese de trombose". Ao que eu devia ter respondido "obrigada, sua puta, por me ter feito pensar que se me mexesse um bocadinho mais o meu suposto coágulo soltaria bolhinhas para o pulmão e que eu me ficava por aqui. E ainda bem que andei a anunciar a toda a gente que me ligou que podiam escolher o que quisessem do meu roupeiro". Mas claro que a coisa não acabou assim. "Não é um coágulo, mas tem aqui qualquer coisa na veia... um refluxo... espere aí, que eu não sei muito bem o que é que é isto, vou ali perguntar à minha colega, é só um bocadinho". E eu a pensar que era nas mãos desta gente que estava a saúde nacional. Lá voltou, a dizer que sim, que há qualquer coisa na veia, o sangue vai para cima, mas não vem para baixo (ou vai para baixo, mas não vem para cima, já não me lembro), passou-me um anti-inflamatório e mais umas merdas, que se doesse que voltasse ou fosse ao médico de família, dois dias em casa sem me mexer, depois disso canadiana, andar o menos possível, e ala que se faz tarde. E para aqui estou, sem saber se o sangue vai ficar entupido ao ponto de eu explodir, ou se é coisa para ficar descansadinha. A dor na perna ainda cá está, mas muito menos, que não há nada como enfiar uns Voltaren potentes no bucho. Pelo sim, pelo não, amanhã vou a um especialista vascular, que não fiquei contente com as explicações da outra senhora.

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