Chefe Pipoca
Acabo de chegar a casa, directamente vinda da minha primeira aula de culinária. Sim, a Pipoca, ainda que emancipada e uma mulher do século XXI, achou que era altura de perder a fobia à cozinha, essa parte da casa que, ao que parece, diz que serve para preparar alimentos e ingeri-los de seguida. Ele há coisas muito estranhas, de facto. Enfim. Pois que decidi inscrever-me num curso organizado pela Vaqueiro, de seu nome
A B Cozinha. Ou seja, para pessoas básicas e totalmente inaptas. Como eu. Pessoas que não sabem a diferença entre um refogado e um banho maria. Como eu. Pessoas que achavam que "marinar" era quando a comida era feita por uma Marina. Se fosse uma Rita, seria "Ritar". Se fosse Inês era "inezar". E por aí adiante. Cheguei lá convencidíssima que ia esclarecer as minhas dúvidas mais elementares. Que o chefe (um querido, por sinal) me ia explicar, calmamente, "isto é uma panela.. isto é uma frigideira... repita comigo....pa-ne-la... fri-gi-deira... está a tirar notas?". Fui feiamente endrominada. Ao fim de uma apresentaçãozita de nada, vá de dividir a turma em grupos. Cada grupo teria a seu cargo uma de quatro hipóteses: entrada, prato de carne, prato de peixe e sobremesa. Como éramos poucos, calhou-me a mim ficar sozinha, o que até preferi, porque não queria pôr a integridade física de ninguém em risco. Estava eu à espera que me calhasse uma receitazinha simpática e acessível, tipo um creme de marisco de pacote, quando sou brindada com um belíssimo soufflé de peixe e brócolos. Ah, ah, teve muita piada, sim senhor, esta malta da cozinha é toda muito ramboieira. Agora a sério, o que é que vou cozinhar? "Soufflé de peixe e brócolos". Olhei novamente para o dossier que me tinham dado à entrada. Sim, curso de iniciação, confirmava-se, estava lá escrito com todas as letrinhas. Tentei explicar que mal sabia picar uma cebola (e escusam de estar para aí a rejubilar com a minha azelhice, porque há técnicas elaboradíssimas para cortar a cebola, não é só fazê-la em fanicos e já está!), quanto mais fazer uma coisa de nome afrancesado. E, vai-se a ver, e até é uma coisa que não têm ciência nenhuma. Só não se pode é deixar aquilo ir abaixo (
mas nisso eu até tenho alguma experiência). Foi um sucesso, meus amigos, um sucesso! Só faltou ser aplaudido de pé. Está bem que jantar às dez da noite também ajuda, a fome é tanta que tudo parece feito pelas mãos do Oliver. Da ementa constava ainda uma tortilla, uma massada de peixe e um arroz doce. Não queria estar para aqui a puxar a brasa ao meu soufflé à la Pipoca mas foi, sem dúvida, a especialidade da noite. Sobretudo para mim, que nem sequer vou muito à bola com estas comidas moderninhas. Pareceu-me ver gente a atirar bocados de soufflé para trás de um armário quando me levantei, mas deve ter sido só impressão. Nas próximas sessões terei a meu cargo "uns hamburgers especiais" (diz o chefe), uns brownies com canela e frutos secos e uma canja e empadas de galinha. Teme-se o pior.
E pronto, posto isto estou prontinha a casar. Os meus pais jamais me poderão voltar a atirar à cara que o meu marido me virá devolver ao fim de três dias de casamento, por eu ser uma verdadeira inutilidade doméstica. Pretendentes? Anyone? Eu cozinho muita bem. A sério.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Teorias absolutamente espectaculares