Crónica de um roubo anunciado
Sempre fui uma criança tranquila, daquelas que não tem por hábito roubar chupa-chupas na mercearia ou ser expulsa na escola. Lembro-me de chegar ao fim do 12º e constatar, com tristeza, que nunca tinha sido posta na rua. A coisa mais louca que consegui fazer foi chegar tão atrasada a uma aula de francês que a professora não me deixou entrar a mim e a uma amiga, mas no final ainda nos pediu desculpa, porque nós eramos as meninas queridas. Enfim, está bom de ver que sempre fiquei com aquele traumazinha por nunca ter sido uma rebelde, uma grande doida, uma ramboieira! Mas ontem vinguei-me à grande, ah ah ah ah ah (risinho maquiavélico enquanto esfrego as mãos de satisfação!). Acho que já há uns tempos tinha referido neste ilustre blog o meu ódio por duas criaturas do meu mestrado. São elas uma colombiana e uma mexicana, cromas até à quinta casa, que se sentam na fila à nossa frente. Ao menor ruído viram-se logo as duas para trás, fulminam-nos com o olhar e voltam-se de novo para a frente a abanar a cabecinha, como que a dizer "perdoai-lhes, Senhor, que estas portuguesas não sabem o que fazem... seja tudo para a remissão dos pecados". São as típicas meninas que não faltam a uma aula, que tiram apontamentos de tudo o que os professores dizem, mesmo que estejam só a perguntar as horas, que passam a vida a dar palpites e que só se pronunciam se a turma toda estiver em silêncio e prontinha para escutar as suas sábias palavras. Enfim, o nosso ódio pelas sul americanas tem vindo a crescer, a crescer, a crescer e ontem não aguentei mais. Chegámos à aula e era suposto apresentar a resolução de um caso prático dado na aula anterior. Ora como eu não estive presente na aula anterior, nem sequer fazia ideia que havia um trabalhinho para entregar. Mas claro que a parva da mexicana de meio metro sabia. Chegou lá com duas folhinhas passadas a computador e anunciou logo ao resto do seu grupinho que tinha feito o trabalho. Grrrrrrrrr!! Crominha nojentorra! Bem, ao fim de quarenta minutos sem a professora apareceu, claro que a mexicaninha e o seu grupinho se insurgiram e foram logo falar com a directora para saber o que se passava. E foi nesse momento em que a vi sair porta fora e que olhei para cima da mesa dela que me veio uma ideia iluminada à cabecinha: então e se eu lhe roubasse o trabalho, que estava ali tão à mão de semear?? Se bem o pensei... melhor o fiz. Com a Caty como cúmplice a controlar a porta e com metade da turma a debandar, gamei a folhinha e lá fomos nós embora, contentes da vida. Claro que a ideia não era copiar o trabalho (bem, talvez dar só uma vista de olhos para ficar com uma ideia daquilo que se pretendia), mas sim chatear a cabrazinha da mexi e da colombiana. Dado o nosso mau comportamento nas aulas, cheira-me que elas vão desconfiar que fomos nós mas, tal como diz a Caty, se elas vierem falar connosco já temos o discurso todo preparadinho: "nóoooos?? Roubar??? Como é que ousam sequer insinuar uma coisa dessas?? Somos portuguesas mas somos muito honestas e limpinhas! E estamos muitíssimo ofendidas! Nunca mais falem connosco na vida". E depois disto, saímos da sala a chorar, que fica sempre bem! No meio disto tudo há apenas que ter em conta que as gajas devem ter um monte de connections com aquelas máfias sul americanas e que, a partir de agora, teremos que zelar mais pelas nossas vidinhas. Mas só para ver a cara daquelas duas parvalhonas à procura do trabalhinho tão bonito e passado a computador acho que vale a pena o risco de ser raptada.
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