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sexta-feira, dezembro 16, 2005
Procura-se vizinho desaparecido

O nosso vizinho do lado chama-se Jesus (diz-se “Résu”) e é um grande querido. Temos um pátio comum onde nos costumamos encontrar de quando em vez e lá trocamos dois dedos de conversa. As únicas coisas seguras que sabemos é que é jornalista e vive sozinho com uma gata. E depois há todo um conjunto de coisas sobre as coisas especulamos: temos para nós que o senhor é gay, porque anda pela casa envolto num robe vermelho com uns chinelinhos a condizer, passa a vida a varrer o pátio, e cheira-me que abusa sexualmente da gata. No outro dia ouvi-a a miar de um modo aflitivo e logo de seguida veio a voz dele a dizer “callate”. Enfiiiiiiim, longe da minha pessoa estar para aqui a lançar boatos sobre aquilo que nao sei, mas se puderem mandar uma brigada da Uniao Zoófila eu acho que nao se perde nada!
Mas pronto, o que me está a preocupar verdadeiramente é nao pôr a vista em cima do Résu há já uns dias. É que, parecendo que nao, uma pessoa afeiçoou-se àquele personagem meio sinistro, que está sempre a perguntar se precisamos de alguma coisa, sempre pronto a ajudar, mas que tem ali um je ne sais quoi de psicopata. Que o diga a minha amiga Caty, que passa a vida a sonhar com ele... incluindo que ele entra no nosso quarto para nos matar... e que está nú (o senhor é careca e gorducho, for God sake)!. Há uns tempos ele disse-nos que ía para o Líbano em trabalho, mas desconfiamos que nao é esse o motivo para o seu súbito desaparecimento. Anteontem vimos entrar no apartamento dele um jovem que trabalha no bar que fica por debaixo de nós, com um ar muito suspeito. As hipóteses que nos parecem mais fiáveis sao:
a) O Resú deixou-lhe a chave para que o outro fosse lá dar comida à gata (o que levanta, desde logo, um grave problema diplomático, porque ele bem que nos podia ter pedido a nós, que somos as suas vizinhas mais próximas, quase íntimas, diria mesmo...se for esta a versao fico magoada, a sério que sim);
b) O Resú tem um caso com o gajo do bar, ao ponto de já lhe ter dado a chave de casa e tudo... assim nao tem que abusar da gata e nao arranja problemas a ninguém;
c) O Resú alugou-lhe um quarto: nao se sente tao sozinho e sempre tem com quem partilhar as despesas, que isto de alugar um apartamento em Madrid está pelas horas da morte!;
d) O gajo do bar matou o Resú e a gata e enfiou ambos cortadinhos às postas no congelador.
A minha amiga Caty está plenamente convencida que o Resú está morto e, pelo sim pelo nao, acha que o melhor que temos a fazer é fingir que nunca o conhecemos e, acima de tudo, nao fazer perguntas, tipo “olá... é o novo vizinho? Entao e que é feito do Resú? Mudou-se?”. Nao, nestes casos a discriçao é a melhor arma. E nem que nos cheire a carne putrefacta, nem que vejamos sangue a escorrer por debaixo da porta dele nós abriremos a nossa boquinha. Nós nao vimos nada, nós nao sabemos de nada, nós nem sequer somos espanholas, calha bem!! “Quién? Résu? No entiendo! Es que no hablo español!”.

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