Cardoso, o taxista jeová

Quando eu digo que as viagens de táxi têm um enorme potencial humorístico, eu sei do que é que estou a falar. Depois da saga com o taxista moralista (aquele que sabia tudo sobre os "jóves drógádos), desta feita apanhei "Cardoso, o taxista jeová". E, meus amigos, foi uma verdadeira viagem tortura entre o Rossio e Sete Rios, em que rezava aos santinhos para que me ajudassem a não rebolar de riso no curto espaço que um banco de táxi permite.
Pois que entrei no táxi do senhor Cardoso e mal lhe indiquei o destino ele sai-se logo com um "oh menina, importa-se que lhe dê um conselhozinho?". Na minha boa vontade, e a pensar que ele me ia dizer qualquer coisa como "esse blush fá-la mais velha, use antes um pêssegozinho" ou "salto alto já lá vai, o que tá a dar é sabrina rasteira", lá lhe disse que sim. Erro. Erro dos grandes. O senhor Cardoso (que é daqueles que desliga o carro enquanto está a passar factura ou trava a fundo mal cai o amarelo- infracções é que não!!!)começou um monólogo infindável, em tom monocórdico, sobre Deus e o fim do Mundo. E aquilo era tão bom, que dei por mim a sacar do gravador e a passar as melhores citações do Sr. Cardoso para um caderninho. Só para verem o tipo de discurso com que ele me tentou fazer uma lavagem cerebral, aqui ficam as frases mais emblemáticas:

"Vamos endireitar os caminhos do Senhor, temos que nos preparar"
"Felizes daqueles que seguem os caminhos do Senhor"
"O Reino de Deus vai chegar a todos nós e só entrará quem já estiver preparado"
"Desde 83, já recebi mais de 50 mensagens de Deus"
"Que a nossa casa seja um templo de amor, pois só assim o mundo começará a seguir o caminho da paz"
"Confiemos no Sr. Jesus" (muito boa!)

Dá para perceber o tom da homilía. Mas o remate final foi, sem dúvida, o melhor daquilo tudo:

"POrtanto, menina, preparemo-nos , que nós não somos nada neste mundo, dá-nos uma dor de barriga e deixamos cá tudo".

Toma lá! Quem é que sabe disto, quem é? O sôr Cardoso! O mais curiso é que contei isto a várias pessoas que já apanharam esta personagem e que me contaram histórias de taxistas igualmente sui generis, como aquele que fala em verso e diz coisas como "agora vamos acelerar, para aquele autocarro ultrapassar". O que é que andará mais para aí? O taxista que comunica por peidos e arrotos (muito à portuguesa, sem dúvida)? O taxista tenor? O taxista com Alzheimer, a quem temos que repetir 30 vezes o destino e acabamos por nunca sair do mesmo síto? Anseio pelas próximas viagens!