Há dias, infelizmente, tive de ir ao velório do pai de um amigo. A perda é uma coisa que mexe muito comigo, mas a perda de um pai é, provavelmente, das coisas que mais me comove e me deixa o estômago reduzido a nada. Desde pequena que ficar sem o meu pai ou a minha mãe é a ideia que mais me atemoriza. Já tive perdas significativas na minha vida, mas acho que nada se compara a perder um pai. Desde sempre dei por mim a pensar que queria ser casada e com filhos quando esse momento chegasse, para ter de me concentrar neles e não morrer de desgosto. Uma ideia inocente, ou só parva. Agora, que tenho um filho, sei que a tristeza que sentirei quando esse dia chegar será absolutamente insuperável. Os meus pais (e agora também o Mateus) são as pessoas mais importantes do meu mundo. Sempre foram inexcedíveis com os filhos e sei que nunca lhes conseguirei agradecer ou retribuir o suficiente. A vida foi-lhes um bocadinho madrasta, pregou-lhes muitas rasteiras, mas foram-se sempre erguendo como podiam. São o meu orgulho e tenho medo que não saibam o quanto gosto deles. Em minha casa nunca se falou muito de sentimentos (acho que é por isso que eu sou um pequeno cubinho de gelo), e apesar de o amor sempre ter existido, às vezes essa é uma barreira um bocadinho difícil de transpor. Falar de amor, dizer alto o quanto gostamos. A minha família são os meus pais. Tenho tios, tenho primos, mas a minha família são os meus pais. Agora o Mateus, claro, o meu marido, a família dele, três ou quatro amigos, mas a minha família a sério... são só eles dois. E por isso não me consigo imaginar sem eles, sem os telefonemas diários, sem o cuidado, sem o amor, sem a protecção. Sinto que se ficar sem eles fico sozinha no mundo e essa é uma ideia difícil de suportar. Os meus pais já não são novos (fui uma filha tardia) e também não são as pessoas mais saudáveis do mundo (sobretudo o meu pai), por isso, muito lentamente, vou tentando habituar a cabeça e o coração à ideia da perda, mas é um exercício impossível. Se só a ideia já me consome e me deixa completamente destroçada. É engraçado como chegamos a uma altura nas nossas vidas em que queremos inverter os papéis. Os meus pais sempre me protegeram, sempre fizeram tudo por mim. Agora gostava de ser eu a impedir que alguma coisa de mal lhes acontecesse. Queria guardá-los em qualquer lugar onde nada os atingisse, mas sei que só os posso guardar mesmo no coração.
101 comentários:
Eu perdi os meus de repente. e o meu filho nasceu uns meses antes para me salvar. Tal e qual como descreveste, mas não sei como sobrevivemos,ñão tem explicação... e sim estou "sozinha"
Se eles são assim seus amigos, que pode crer alguns pais não são, aproveite ao máximo a companhia deles e sim os proteja como eles a protegeram sempre, ao tratar os pais bem e dando-lhes o valor que eles merecem os seus filhos também irão certamente tratá-la bem, visto serem um espelho do que vêem durante a educação. Mime muito seus pais, nem todos têm a sorte duns pais amigos... é de aproveitar... Abraço dos Açores.
Não me podia rever mais nestas palavras...
...
Um beijo.
Olá Pipoca,
Eu perdi a minha Mãe há pouco mais de um ano e não consigo sequer explicar por palavras o que sinto. É um vazio do tamanho do universo, uma dor diária constante... É sentir falta de tudo: dos telefonemas a toda a hora, das conversas, dos mimos, dos abraços... é sentir falta de abraçar, de tocar... tudo. Todos os dias vou aprendendo a viver com esta perda. Tento andar bem disposta, principalmente pela minha princesa de 2 anos, mas também por mim, pelo meu maridão, pelo meu pai. Enfim, só para lhe dizer que é realmente muito difícil e nunca estamos preparados para isto. Nunca. Por isso não vale a pena tentar habituar-se à ideia da perda. A sério. Aproveite para "namorar" muito os pais e um dia, se tiver de de ser, vai começar a tentar habituar-se. Antes desse dia não vale a pena!
Beijinhos
Absolutamente comovente este texto.
Penso exactamente como a Pipoca tenho os meus filhos o meu marido, mas talvez por ser filha única também penso que no dia que os meus pais de deixarem fico sozinha neste mundo :(
Ao ler o texto fiquei com uma lágrima no canto do olho. Beijinho pipoca
Pipoca, tive esta relação com meus avós, em 1996 tive depressão e síndrome do pânico e a idéia na altura que me aterrorizava era que ambos um dia iriam partir. Meu pai deixou a minha mãe qdo eu era uma bebé e nunca mais voltou para saber se eu era verde ou azul, e atenção, eram casados oficialmente e tudo mais. Minha mãe teve de trabalhar feito uma camela para me sustentar num país e numa década de ditadura no Brasil (1968) onde ser desquitada era sinônimo de ser prostituta e onde ninguém empregava. Porém ela sempre lutou e trabalhou mto p/ me criar e dar-me tudo do bom e do melhor. Fui então criada pelos meus avós e minha mãe. E com eles surgiu esse elo forte de amor e gratidão, e o pavor de os perder. Achava que neste dia, eu morreria junto. Pois meu avô faleceu em 2003 e minha avó em 2006, minha avó faleceu em minha casa, no meu quarto. Jamais vou esquecer esse dia. Com eles parte de mim morreu. Doeu, dói mto, mas sobrevivi. Hj so tenho minha mae, tb com mtos problemas de saude, e faço tudo para a proteger. Se pudesse passaria eu por tudo para que ela nao sofresse. É a vida, dói, dói muito, mas seguimos em frente com a esperança de um dia nos reencontrarmos. Sugiro que veja um filme, tem no youtube completo, "Nosso Lar" de Chico Xavier e "A vida continua". Acho que nos confortam a alma! Bjs
Pipoca, compreendo-te perfeitamente. Amanhã a minha filha faz 5 anos e é também o aniversário da minha mãe. No dia seguinte faz 5 anos que morreu o meu pai, sem ter sabido que a neta já tinha nascido. Ainda hoje não sei como é possível que o meu pai, pilar fundamental da minha vida, não tenha sequer conhecido as minhas filhas, que entretanto se tornaram, naturalmente, a par da minha mãe, do meu marido e das minhas irmãs, as pessoas mais importantes da minha vida... Enfim, não é nada fácil..
Rita
Sem duvida
Sinto os mesmos medos, desde muito cedo mas procuro distrair os pensamentos e passar com eles tempo de qualidade
OH Pipoca ;( este post apesar de tão verdadeiro é tão triste... Eu também sou muito pegada aos meus pais e desde nova a ideia de "perder" alguém e principalmente eles me aterroriza. Desde que fui mãe do Mateus ;) e agora grávida de outro bebé sinto-me aterrorizada com essa ideia, tento afastar, tento não pensar mas às vezes é difícil e sabemos que inevitável. Talvez por isso queria porque queria que o Mateus não fosse filho único e ainda por cima com um problema grave de infertilidade esta ideia perseguia-me não o queria a sofrer sozinho um dia. Enfim, parvoíces que vamos pensando. Compreendo perfeitamente este post. Um bjinho nosso
Maravilhoso este texto, comovente, tocante. Sinto exactamente o mesmo pelos meus pais.
Este teu post é muito bonito... Já passei por isso e sei como é. Infelizmente, pela lei natural da vida é algo que terá de acontecer um dia (esperemos que o mais tarde possível) mas quando isso acontecer apesar da perda, nesses momentos surgem forças que não pensávamos que existissem e que com mais ou menos custo nos ajudarão a superar a dor... Beijinho
Pipoca, sinto exactamente o mesmo. Também fui uma filha tardia, e nas primeiras vezes que os meus pais adoeceram cresceu em mim um sentimento maternal por eles. Agora já fui mãe, também há pouco tempo, e espero que realmente me ajude a apaziguar as coisas porque acho que só mesmo o amor que tens por um filho te pode ajudar numa altura dessas. Mesmo que tenhamos bons maridos e amigos, nada substitui uns bons pais que sabemos terem feito a nossa vida ser o mais perfeita que puderam. Actualmente dou comigo a fazer-lhes todas as vontades e a passar o mais tempo possível com eles sem ter de andar sempre a despachar quando lá vou a casa. Agradeço agora nunca me ter passado quando era mais nova, os ter ofendido para o resto da vida ou ter-me posto a andar para fora de casa quando me disserem ou fizeram coisas que na altura não me pareceram certas. Espero que fiquem cá por muito mais tempo e quero aproveitar todos esse minutos porque sei que ninguém cuidará de mim como eles.
Vera
Foi como ler-me a mim própria... é curioso que também em minha casa não se fala muito de sentimentos... mas se escrever-mos aquilo que sentimos é bem mais fácil de nos expressar-mos. A perda é um processo normal da vida, mas nem por isso se torna mais fácil de suportar... Sempre pensei como tu (e ainda penso) que quando me casar e tiver filhos será menos doloroso perder alguém, espero que assim seja... ou como tu dizes, talvez não seja!!! obrigada pelo texto e por passares por palavras coisas que muitos de nós sentimos, mas que por medo tentamos sempre não pensar e falar.
eu que sou leitora à anos e que nunca comentei até hoje, não posso deixar de agradecer este texto tão comovente e que tanto me diz. (perdi o meu pai há 4 meses e parece que o tempo em vez de ajudar, só aperta mais a saudade).
Tenho o mesmo medo. Desde criança que tenho pesadelos com isso, em especial (não sei porque) com a ideia de perder o meu pai. Cheguei a acordar aos prantos de noite e ter de ir dormir agarrada a ele...
Hoje sou casa e tenho ndois filhos e o medo é o mesmo.
Há um ano e pouco faleceu o pai do meu marido. Pessoa que eu gostava como 2.º pai. Sofri por mim, sofri a imaginar o sofrimento do meu marido. Mas altura que menos me controlei e chorei tanto, tanto, foi quando vi o meu pai a entrar no velório. Foi uma dor que não consigo explicar.
è mesmo triste termos de perder quem amamos, mas enquanto esse dia não chega e espera-se que chegue o mais tarde possível, vamos conviver, amar e proteger o mais possível!
Com a morte do meu pai há uns meses, o mundo ficou um lugar mais assustador. Perdi a pessoa mais parecida comigo e o meu porto de abrigo. Por outro lado, o meu pai fez o trabalho bem feito e ensinou-me a ir à luta, a não desistir e, mais importante que tudo, mostrou-me que com sentido de humor tudo fica mais fácil. E fica! Mesmo que aos outros pareça humor mórbido, de mau gosto, ou infantil, se ele conseguiu manter o seu sentido de humor até ao fim, é minha obrigação mantê-lo depois disso.
Cada vez que me sai uma "piadola à pai" sinto-me mais próxima dele.
Ao longo dos meses as lágrimas da perda transformaram-se em sorrisos e ultimamente até em gargalhadas. E agora que já são as minhas gargalhadas que me fazem lembrar dele, acho que estou pronta para a luta!
Olá Ana. Como a percebo... eu perdi o meu pai, o grande amor da minha vida, há quatro anos e não há um dia que passe em que não me lembre dele. Foi uma fase muito complicada, a minha relação com o meu marido também não estava nos melhores dias e eu não conseguia ver onde é que me podia agarrar para ultrapassar toda aquela tempestade. 2 meses maia tarde soube que estava grávida e, apesar de não ter sido uma gravidez programada, foi o melhor que me aconteceu na vida. No momento certo. Fui mudando o meu foco da perda para aquele novo ser. Não sei se acredito numa força superior que seja capaz de "maquinar" este plano, mas no fundo sinto que há qualquer coisa de muito especial e inexplicável no meu filho.
A dor, o sentimento de perda, a saudade nunca desaparecem. Aprendemos a viver com isso. E ajuda se estivermos de consciência tranquila quanto a tudo o que fomos e fizemos enquanto eles cá estão. Por isso, aproveite bem a vida e as suas pessoas. Porque é mesmo verdade que não sabemos o dia de amanhã.
Subscrevo cada palavra. Só a ideia consome-me e faz-me ficar numa tristeza imensa, com um aperto no peito e dor no coração. Os meus pais também são o meu mundo e não sei como vai ser o mundo sem eles. Não imagino sequer.
Treinar a cabeça e o coração para o inevitável... Isso é impossível. Claro que pensamos que já estamos habituados à ideia, mas no fundo nunca ficaremos preparados. Eu, que só tenho 21 anos, achei que também ia morrer quando o meu pai faleceu em Abril passado, com um cancro nos pulmões. Tive tempo para me habituar à ideia, claro que sim, mas quando aconteceu o meu mundo ruiu. Não estava preparada por muito que pensasse que sim. E agora cá estou eu, seis meses depois, a viver todos os dias um bocadinho mais feliz porque sei que era assim que ele me queria ver e sei, tenho a certeza, que está sempre comigo. É estranho, é surreal, mas são coisas que sentimos e isso, por muito que queiramos explicar aos outros, não dá, só mesmo quem sente é que sabe. Por isso não te preocupes, aconteça o que acontecer, quando acontecer, os teus pais vão estar sempre contigo. Foca-te apenas em mostrar-lhes o quanto gostas deles agora, o quanto te preocupas e queres o seu bem. O resto é o tempo e o amor que fazem.
Beijinhos para ti e para o Mati fofinho!! :)
"A pessoa só se encontra e possui na reciprocidade da comunhão amorosa.
Reduzida a si, a pessoa está em estado de malogro e perdição.
Na verdade, a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão com os outros.
Só o ser humano tem consciência de que um dia vai morrer.
Esta certeza é um convite a descobrir razões mais profundas para viver.
Felizes dos que descobrem que a grande razão para viver e morrer é o amor.
Na verdade, dançaremos eternamente o ritmo do amor com o jeito que tivermos treinado agora na História."
Um beijinho cheio de esperança!
Identifico-me em cada palavra deste texto, tenho tanto tanto medo de os perder... tenho a ideia (mesmo mesmo egoísta, eu sei) que eu devia partir primeiro que eles, só para não ter de sofrer com a sua perda e, mais uma vez, sou mesmo egoísta...
Beijo**
Perdi o meu pai há uns meses e com ele foi uma pequena parte de mim. A saudade de lhe tocar, o seu cheiro, a sua mão apertada na minha, e principalmente a sua voz porque tenho medo de a esquecer ( pois tudo o resto nunca mais esquece ). Aproveite bem os seus. às vezes os filhos, pela sua vida, a sua própria vida, afastam-se um pouco dos pais, talvez por saber que eles estão sempre lá, só que um dia deixam de estar.
É incrivel como me revi nas tuas palavras. Sinto exatamente o mesmo. O facto se ser mãe não ateuou o meu medo de perder a minha Mãe. achava que era defeito (só) meu. Resta-nos esperar que seja daqui a muitos, muitos.
Pipoca, nem sei bem o que dizer...
Às vezes penso que ao pensar tanto nisso até estou a chamar...mas a verdade é que penso mesmo e tento afastar...amo tanto os meus pais, tenho muito medo mesmo....
Olá Ana,
Leio o seu blogue há algum tempo mas hoje foi a primeira vez que me apeteceu comentar. Tenho 22 anos, e vi o meu pai morrer quando tinha acabado de fazer 18. Um cancro (como sempre) que se arrastou durante algum tempo, e que tanto me deu tempo para o ver "desvanecer" (e toda a tristeza que vem daí) mas também para ter conversas, várias, importantes, durante tardes inteiras no hospital.
Uns anos antes, a minha mãe tinha tido um aneurisma, do qual, felizmente e inexplicavelmente, recuperou totalmente.
Quero com isto dizer que sei bem do que está a falar, mas não queria que fosse um comentário triste. Sabe, realmente perder um pai é um sentimento estranhíssimo, uma coisa tão má que não se consegue explicar, uma dor surpreendentemente nova. Mas, a morte de um pai também nos ensina a valorizar o que temos, quem temos na nossa vida. Aprendi a dizer todos os dias à minha mãe o quanto gosto dela. Fiquei mais unida com o meu irmão (por ser mais velho e pela idade que tínhamos, passávamos a vida na discussão) e mais próxima do meu avô (pai do meu pai) com quem tanto tenho aprendido.
Perder o meu pai foi horrível, mas trouxe-me também coisas boas. Hoje sei que não estou sozinha e que a minha família me adora, como eles sabem que os adoro a eles.
Vá gozando os seus pais o mais que puder, almoce em casa deles, convide-os para ir ao cinema, façam viagens juntos. Aproveite bem todo o tempo que tem e, sobretudo, diga-lhes o quanto gosta deles, cara-a-cara, sempre que puder.
Um beijinho,
Mariana
É mesmo isto que eu sinto... é mesmo isto!
Compreendo-te perfeitamente. Sinto tantas vezes isto...
Também tenho essa sensação que os meus pais são a minha verdadeira família, e que mesmo estando casada com um filho a chegar, com tios, primos e avós, os meus pais são aquelas duas pessoas com quem posso contar sempre e em qualquer situação, e por isso, tento não pensar na altura em que um deles me possa faltar. Vivo ao máximo cada momento com eles. E não podemos viver pensando como será quando eles deixarem de estar fisicamente nas nossas vidas, isso é um pensamento muito triste que impede de viver o momento presente. Mas percebo perfeitamente a tua forma de pensar e sentir as coisas. Por mais que uma pessoa não queira, são sempre pensamentos que nos passam pela cabeça. Mas acredito que quem parte se transforma em anjo e nos observa lá de cima :)
Leio sempre o blog e a verdade é que me identifico muitas vezes com o que dizes...às vezes leio um texto teu e vejo a minha opinião tal e qual ali escrita, mas nunca tanto como hoje!
Também sou filha tardia, lá em casa também não se fala de amor nem se diz o quanto gostamos uns dos outros, mas vivo com medo de perder os meus pais.
Quando se fala em emigrar por exemplo (tema recorrente hoje em dia), eu não quero... não quero ir para longe dos meus pais e poder perdê-los sem sequer ter passado os últimos tempos de vida com eles, tenho medo que não me vejam casar e ter filhos, isto é assustador mas nunca partilho com ninguém com receio de ser a única pessoa a sentir-me assim, mas ao ler o teu texto e os comentários percebo que não sou a única, e arrepia-me os relatos de quem já perdeu os seus. Já tive algumas perdas, e foram terríveis... mas os pais...não deve haver nada pior.
Obrigada pelo texto, é maravilhoso!
Rita
Perdi o meu pai há uns anos e ainda dói, nem quero pensar em perder a minha mãe!
É reconfortante saber que alguém partilha esse sentimento, penso muitas vezes nisso, mas nunca tive coragem de verbalizar. Morro de medo desse dia, e por mais que me tente mentalizar que ele vai chegar (e como seria expectável ao longo do tempo essa ideia vai amadurecendo, só que não), ele está cada vez mais perto, o que faz disso cada vez mais assustador. Isto é amor, e às vezes o amor dói.
Não posso deixar de comentar e relatar um "pouquinho" a minha experiência.
Em minha casa era como na sua, não só não se falava muito de sentimentos como aliás não se os demonstrava muito. Havia coisas que não era preciso dizer, estavam subentendidas. E também eu fui uma filha tardia para o meu Pai, fruto de 2.º casamento.
Sempre tive uma relação próxima com a minha Mãe e com o meu Pai, apesar de nos chocarmos muito porque tínhamos feitios muito diferentes, mas era a ele que eu recorria para conselhos em assuntos sérios. Sempre conversei muito com o meu Pai e aprendi muito com ele.
Há 2 anos e meio o meu Pai adoeceu e passaram os 2 a "viver", acampados quase, em minha casa. Foi um período difícil, o meu Pai não era um doente fácil, em negação com muita coisa e muito exigente. Acabou por morrer nesse verão.
Eu também pensava como a Pipoca, não me imaginava a ultrapassar a morte de nenhum dos meus Pais, mas o que é certo é que não foi o que eu esperava. Encarei tudo com bastante frieza na altura.
O facto de estar grávida de cerca de 5 meses quando ele morreu acho que ajudou. Estava muito concentrada e preocupada com o nascimento do meu filho - já era o segundo - e não tive muito tempo ou disponibilidade mental para sentir muita coisa quando aconteceu.
Mas quando o meu filho nasceu (pouco antes do Natal), chorei - eu que não chorei quando o meu 1.º filho nasceu e não sou dessas coisas. Mas chorei por pensar que era um neto que ele nunca iria conhecer, que haveria um milhão de coisas na minha vida, mas sobretudo na vida dos meus filhos, em que ele não iria participar nem acompanhar e que nós não poderíamos beneficiar da sua companhia e daquilo que tinha para nos ensinar.
Coincidência das coincidências, este meu 2.º filho é muito parecido - não só fisicamente, mas sobretudo em feitio - ao meu Pai. Muito mais do que qualquer um dos meus irmãos. E não é parcialidade minha. Qualquer pessoa que conhecesse o meu Pai quando vê o meu filho diz isso.
O que custa são as ausências no dia-a-dia - querer pegar no telefone e ligar, ver uma coisa ou ter um assunto para decidir e querer trocar ideias e não puder...
Mas há dias melhores e dias piores. A vida continua e sem dúvida que o facto de se ter filhos nos ajuda a levar as coisas de outra forma (pelo menos a mim ajuda).
E agora há a minha Mãe, que sozinha, centra-se muito mais em nós - a minha família nuclear - do que alguma vez se centrou e que cada vez que quer decidir uma coisa recorre a mim como dantes recorria ao meu Pai. É estranho, não estava habituada.
Desculpe o testamento (que palavra tão adequada), mas é um tema sensível...
Em minha casa sempre se falou muito do quanto nos amamos, sempre se abraçou e beijou muito. Em minha casa que eu me lembre fomos sempre só três porque o meu pai faleceu quando eu tinha 2 anos e eu não me consigo lembrar dele por mais que tente.
A minha mãe tinha só 27 anos quando ficou sozinha com dois filhos. Abdicou da vida dela por nós, nunca reconstruiu a vida ao lado de outra pessoa, dedicou-se por completo a nós.
A minha mãe já teve uma doença muito grave, muito grave mesmo e nós quase enlouquecemos com a dor de não podermos fazer nada e com o peso esmagador de a podermos perder, felizmente recuperou...
Mas não há dia em que eu não pense no medo que tenho de perdê-la...
Por isso resta-me amá-la incondicionalmente e fazer tudo o que posso por ela.
Temos de ser felizes Pipoca, beijinhos
Rita
Beijinhos
Eu tremo só de pensar que poderia perder os meus pais ou o meu marido.Eles 3 são os seres mais importantes á face da terra para mim.Amo-os!
Estou completamente solidária contigo Pipoca...também penso assim e sempre que penso nisso fico com um nó no estômago...sei que não sou mais do que ninguém pois tenho amigos que já passaram por isso, e que pode acontecer a qualquer um...mas nem consigo imaginar como seria...Sinceramente é aproveitar enquanto os temos connosco e dar-lhe todo o nosso amor!!
Bem pipoca, identifiquei-me muito com o seu texto porque desde pequena que partilho desse medo. Sempre tive este medo que me consome e me aterroriza. Ainda por cima, sendo eu uma filha que também não demonstra o amor que sente pelos pais.
Pipoca,
Identifico-me muito com o seu post e principalmente com o facto de lá em casa também não dizermos aos nossos pais o quanto gostamos uns dos outros.
Tenho irmãos e entre nós damos muitos beijos, dizemos o quanto gostamos uns dos outros. Mas aos nossos pais não.
Agora que sou mãe, sinto que mesmo que os meus pais morram (e sei que um dia isso terá que acontecer de forma inevitável) não estarei sozinha neste mundo.
Aflige-me muito ficar sem os meus pais mas nada me atormenta mais do que a possibilidade de ficar sem algum dos meus filhos.
Desde que a minha filha nasceu (há 2 anos) e desde o 1.º instante que a vi, tenho a sensação de que vou ficar sem ela, de que a vou perder de forma repentina....
Já no que diz respeito ao meu filho (3 anos) não tenho esse estado de espírito. Talvez por isso as pessoas digam que eu dou mais mimo a ela do que a ele, pese embora goste dos 2 da mesma forma.
Em minha casa, digo todos os dias aos meus filhos e ao meu marido que os amo muito e que são lindos, para que um dia não se passe com os meus filhos, o que se passa com os meus pais, em que toda a gente se ama mas ninguém diz...
perdi o meu pai há 6 anos, e sinto tantas saudades de o abraçar, de cheiro dele e da forma como assobiava sempre ao entrar em casa :)
Pipoca, apesar de ser uma fiel seguidora, hoje é a primeira vez que me atrevo a comentar. Isto porque o seu texto é incrível e espelha o que sinto desde há 4 meses para cá. Infelizmente tenho o meu pai internado numa UCI em Santa Maria e tenho um medo aterrorizante de o perder. Obrigado pela força que transmite e porque tenho ainda muito para dizer e viver com o meu querido pai. Um beijinho
Também eu sou um pequeno cubo de gelo. Chego às lágrimas ao ver um maratonista chegar ao fim da sua prova e é raro chorar em funerais...... Isto até há alguns anos atrás.
A verdade é que a vida vai-nos consciencializando do sentido das perdas, o que é muito duro.
Também eu sinto que por muito importante que sejam namorado, amigos, restante família, são os pais aqueles seres que nos amam incondicionalmente. Sentimo-lo cada vez mais fortemente à medida que envelhecemos.
Há que aproveitar enquanto estamos todos por cá e não esquecermos que é importante, em vida, darmos aos outros a certeza de quanto os amamos.
É uma ferida que não sara, mas, Pipoca, é também levantar os olhos para o céu e agradecer termos tido aquela pessoa na nossa vida. O meu pai partiu no ano passado, ele tinha 51, eu 23. Foi o maior choque da minha vida, mas também a maior lição. Hoje penso nele com muita saudade e muito carinho. Só tenho lindas memórias dele.
Na verdade, quem nós amamos nunca morre. E, quando fecharmos os olhos definitivamente, quiçá não estarão eles do outro lado à nossa espera...
Espero que possa gozar da companhia dos seus pais durante muitos anos. Um beijinho :)
Sílvia
Olá Ana,
Não vou aqui escrever nada de original, afinal sou só mais uma pessoa que sente o mesmo que tu. É a primeira vez que comento um post teu, na verdade não sou de muitos comentários. Hoje, apeteceu-me fazê-lo porque houve identificação em cada palavra. Porque desde criança morro de medo de um dia ficar sem os meus pais. Sou capaz de chorar só de pensar. E desde que me mudei para Barcelona, essse terror aumentou muito. Tremo quando oiço o telefone tocar nas horas que não é normal os meus pais ligarem, só pelo medo de ouvir do lado de lá uma noticia que não suportaria ouvir (às vezes não atendo mesmo!, fico à espera que o medo diminua um bocadinho!!). É a lei da vida, está certo, mas uma lei que penso que jamais saberei aceitar. O pior é que sei que os meus dois irmãos pensam igual e não sei como é que um dia vai ser (não somos propriamente crianças, temos entre 30 e 38 anos!). Já discutimos isso algumas vezes e chegamos à conclusão que a educação que tivemos não nos preparou para esse dia, fomos e ainda somos protegidos e “mimados” de mais, com a melhor intenção, é verdade, mas às vezes não é certamente o melhor. Enfim, todos temos os nossos receios e as nossas “batalhas”.
PS. Também sou hipocondríaca desde criança, e muitas vezes dou comigo a pensar se não seria melhor ter já um filho para deixar de ser tão paranóica comigo mesma. Mas logo chego à conclusão de que as paranóias rapidamente passariam a ser com criança e então ficaríamos não igual, mas pior!! GOD! :)
Bem, um grande beijinho e muita descontração, que é o que precisamos!!
Márcia Sousa Ribeiro
Quase me fizeste chorar com este texto, Pipoca. Fiquei com um grande nó na garganta, como fico sempre só de imaginar ficar sem os meus pais. Nunca pensei muito nisso, mas agora que estou longe deles e só os posso ver ao fim de semana, sinto que o meu lugar é perto deles, para não perder nenhum momento, nenhum sorriso, nenhum beijo, nenhum abraço.... Nunca se sabe o amanhã. Também tenho medo que não saibam o quanto gosto deles. Por isso digo-o todos os dias. Eles merecem ouvi-lo, mais do que ninguém neste mundo
Pipoca tenho 27 anos e á onze que perdi a minha mãe, não há um unico dia que não me lembre de como era, ou das saudades que tenho dos seus beijos e abraços, mas uma das coisas de que me arrependo é de não lhe ter dito todos os dias Amo-te mãe, pois só assim teria a certeza que ela sabia o quanto a amava, não perca tempo, vá e diga o quanto os ama, mesmo que lhe pareça estranho, pois um dia vai saber que o disse! Beijinhos
Até fiquei com uma lágrima no canto do olho. Não poderia exprimir melhor o que também sinto em relação ao meu porto seguro - os meus pais. É assustador pensar que um dia eles vão partir e, por mais que saibamos que é a lei natural da vida, há dores insuportáveis e tristezas que nem o chamado tempo cura... Obrigada por estes textos belíssimos.
http://viverparaserhappy.blogspot.pt/
Que texto comovente... ;( consigo rever-me em cada palavra sua (menos a parte do filho pois ainda não sou mãe), podia ter sido perfeitamente escrito por mim...
Em minha casa (casa dos pais) também não se diz que se gosta, não se abraça, nao se dá beijos.
Os meus pais gostam de mim (e dos meus irmaos) e eu gosto deles. Ponto. Como se isso fosse obrigatória estar implicito.
Gostava que fosse diferente mas já nem consigo dizer "gosto de ti"... não sai simplesmente.
Desde pequena tenho uma "queda" para o meu pai em detrimento da minha mãe. Nunca sonhei que a perdia, mas ainda hoje sonho que pero o meu pai e acordo com o coração apertado.
A minha mãe tem um feitio dificil. Adoro-a mas ... e nem sei como escrever isto (mas a verdade é que estou a aproveitar para desabafar, porque nao posso falar nisto a ninguem) eu não consigo dar-me bem com ela. Ela irrita-me, enerva-me e tem um feitio que sei que se não fosse minha mãe nunca na vida me dava com ela. Mas... é minha mãe. E penso que um dia posso perdê-la e não sei como vou reagir. Acho que me vou culpar por este misto de sentimentos que tenho por ela...
É estranho...
Curioso como em sua casa nunca se falou de sentimentos e a Ana expressa-os tao bem. Pelos vistos até nisso eles souberam ajudá-la. Dão lhe a liberdade, de não os querendo esconder, puder expressá-los. Também eu adoro os meus Pais, principalmente quando aos 36 anos precisei deles como aos 16, de uma forma como nunca imaginei voltar a ter de sentir... Fiquei sozinha com o meu filho com 1 mês, o meu marido deixou-me, ao fim de 12 anos de casamento, 8 dos quais a tentar ter um filho. Os meus pais foram tudo, sem eles não teria ultrapassado este tormento...
Perdi o meu pai há um mês, foi doloroso, continua a ser e tenho a certeza que irá ser cada vez mais. Também nunca fomos de trocar afectos, nem dizermos o quanto gostamos um do outro, sabíamos e bastava-nos, mas no ultimo dia do Pai, respirei fundo e disse-lhe o quanto o amava e ele a mim. Quando as saudades apertam, lembro-me sempre desse dia, não faz a dor desaparecer, mas alivia o meu coração.
Como eu me revi nesse texto lindíssimo... não mudava uma linha, o sentimento é o mesmo :)
www.semjeitonenhum.com
Este assunto diz-me tt... perdi a minha mãe à quase 3 anos e acho que nos arracam qq coisa, pelo menos é o que tenho sentido. Mudei e acho que não voltamos a ser os mesmos. Tt coisa mudou... os telefonemas diários que falas... a dinâmica familiar... lembro-me que quando os meus avós morreram pensar nisso, em como seria perder os meus pais? e aos meus 28 anos (nunca esperei passar tão pouco tempo para ser confrotada com isso) perder a minha mãe foi mesmo dificil, sei lá no meu intímo achava que iria tê-la ao meu lado quando tivesses filhos, partilhar isso com ela, achava que a teria para sempre... é cruel, difícil e muda-nos...
Também não me imagino sem a minha mãe, de quem ainda me sinto emocionalmente dependente. Perdi o meu avô, que sempre foi o meu segundo pai (e ainda hoje me revolto com a forma como ele sofreu, porque ele era genuinamente bom. Na casa dele havia sempre paz e carinho e as saudades são mais que muitas...dele e do que vivia com ele.
A dada altura pensava que só eu teria estes pensamentos que me consomem desde cedo. É de facto insuportável para mim imaginar um mundo em que não estão presentes os meus pais e os meus avós, que tanto amo. Desde sempre que, principalmente à noite, penso, com medo e angústia, na morte deles e choro e desespero. Enfim, eles estão bem, neste momento, não tenho razões para sentir este medo constante, este sofrer por antecipação, mas a ideia atormenta-me de tal forma que não consigo evitar pensar no assunto. Tal como a pipoca, sempre disse que queria ter filhos (ainda anão os tenho) quando tal acontecesse porque teria de pensar neles e concentrar-me neles, caso contrário, tenho medo de morrer de desgosto e dor. Se isto é uma forma errada de lidar com os problemas e vicissitudes da vida? Sim, admito que sim porque tenho fases em que penso tanto nisso e sofro tanto com esse pensamento que acaba por, inevitavelmente, influenciar negativamente a minha vida. Fico triste, deprimida, fecho-me. Bem, foi um desabafo. Beijinhos
O meu pai morreu há 23 anos, tinha eu precisamente 23. Nunca mais fui a mesma, e jamais serei. A dor e o vazio que ficam, são maiores que tudo o resto. E hoje, passados 23 anos, a dor é a mesma, amenizada pelo tempo, pela vida, mas a dor aumenta a cada dia que passa. Um beijinho :)
Pais deveriam ser eternos!
Olá Pipoca ;))
É simplesmente o post mais bonito e verdadeiro que escreveste. As palavras reduziram-se a nada, tendo em conta tudo aquilo que transmitiste.
Obrigada pela tua partilha.
Bjs***
Um poema de José Luís Peixoto
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
Um dos poemas mais lidos de José Luís Peixoto. É do livro A Criança em Ruínas.
Estou na mesmíssima situação que tu.
Por mais que psicologos venham apontar que este apego aos pais é sinal de não termos ainda assumido a nossa independência, e de que a nossa familia deveria ser o marido, nao consigo dissociar-me de que me deu a melhor educação do mundo e amor incondicional.
Incondicional é mesmo a palavra certa. Eles são sangue do nosso sangue, e serao sempre as ultimas pessoas a virarem-nos as costas. É neles que sabemos ter o nosso ninho, o nosso refúgio, o nosso verdadeiro abrigo. Por mais que queiramos protegê-los, sabemos que eles nao vivem para sempre a não ser no nosso coração.
Por isso que os estimemos tanto quanto pudermos enquanto eles estão connosco.
E acho mesmo que vai morrer um grande bocado de mim.
Maria Martins
É verdade que perdeu o seu irmão quando era mais jovem? E como? Beijinhos ps: este texto é bastante comovente
Infelizmente nunca te habituas à ideia....perdi o meu pai e se há coisa que dói e não poder partilhar com ele os momentos bons que vou tendo na vida.....dói e dói sempre....o tempo ajuda a saberes viver com essa dor, mas ela está lá sempre!
Maria Pereira
pronto, lá fiquei eu com uma lagriminha no olho.
aqui em casa é o mesmo... não se fala abertamente, não é hábito dizer "gosto muito de ti", ou "adoro-te", ou "amo-te". e agora que penso nisso, também não valeria a pena. eu não gosto muito deles, nem os adoro, nem os amo.. é mais que isso, muito mais que isso. é um amor maior que o próprio amor e dizer "amo-te" simplesmente não lhe faz jus. mas pronto, sei que eles sabem disso. sabem que são pais mais que amados, embora sejam muitas as vezes em que discutimos. mas vida em família é mesmo isso, e eles sabem.
Olá, Pipoca.
Fez precisamente ontem dez anos que o meu pai faleceu. Eu tinha onze de idade. Foi uma morte estúpida e precoce, como são todas as mortes daqueles que nos são mais queridos. Tenho hoje vinte e um anos, e embora tenha já passado algum tempo, nunca nos sentimos verdadeiramente curados de tal perda. Há sempre o dia do Pai. Há sempre o Natal e os restantes dias festivos. Há sempre aniversários e o pensamento de que não me vai levar ao altar. Há sempre uma panóplia de datas que fariam muito mais sentido se ele ainda aqui estivesse para as partilhar. E as saudades! Há sempre as saudades.
Penso nele todos os dias e há alturas piores do que outras. Mas sou feliz e tenho sempre o cuidado de demonstrar, através de pequenos gestos, o quanto a minha mãe e o meu irmão significam para mim. Às vezes não é preciso verbalizar, eles sabem. E o que interessa é essa preocupação, esse carinho, o falar todos os dias e querer saber.
Na minha opinião, nunca vamos estar preparados para uma perda de um ente querido (mesmo que tenhamos tempo para nos mentalizar). O importante - e mesmo, mesmo, muito importante - é aproveitar todos os momentos com as pessoas que mais amamos, nem que seja uma ida às compras. Porque as saudades vão ser imensas.
Cumprimentos,
Filipa.
Li e acabei a chorar. Entendo perfeitamente cada palavra tua, sou filha única e para mim os meus pais são tudo. Não passo sem eles, e quando penso na perda...parece que fico logo sem chão.
Beijinhos
http://modaeleganciaestilo.blogspot.pt/
Tal e qual :(
Ás vezes estou a olhar para o meu pai, a observá-lo, e já sinto saudades, se é que me percebem. É estranho, mas gosto tanto, tanto dele que já sinto saudades... No dia em que partir a minha vida mudará para sempre, eu sei disso e tenho medo de morrer de saudades do melhor pai do mundo. Felizmente ainda está comigo e adoro dar-lhe miminhos. Também sinto que os papeis a certa altura se invertem e só quero cuidar dele e protege-lo muito, o meu bem mais precioso, para que nada de mal lhe aconteça.
Como te percebo! Há uns meses foi detectado um cancro maligno à minha mãe. A dor que eu senti naquele dia, é indescritível ... Hoje, tudo correu bem mas só de me lembrar daqueles meses com "a faca no pescoço", sinto uma migalha e as lágrimas caem ... Que o dia de nunca mais os vermos chegue o mais tarde possível!
Este post diz tudo. Diz tudo que sinto em relação aos meus pais.
Parabéns por mais um post fantástico.
http://mammyontheblog.blogspot.pt/
Revejo-me tanto nas tuas palavras...
:( Um beijinho para si.
Olá Pipoca,
A primeira vez que entendi seriamente o significado da palavra morte, deveria ter os meus 4, 5 anos. Foi num dia em que o meu avô chegou a casa muito triste e eu perguntei-lhe o que tinha. Ele respondeu "o avô perdeu um grande amigo. Morreu. Nunca mais vai vê-lo". Estas palavras, a tristeza do meu avô fez com que eu na minha inocência associa-se a morte à realidade da vida...
Lembro-me de me sentir triste e de pensar o que faria se os meus pais, ou os meus avós morressem. Questionava-me quando seria...
Anos mais tarde, aos 19 perdi o meu avô do coração, aos 21 o meu avô paterno, aos 24 a minha avó do coração, a um mês dos 25 o meu avô materno. A dor NUNCA sara. Uns dias está mais "acordada" que noutros. A Saudade é imperativa.
A minha família é mesmo pequenina. Os meus pais não têm irmãos, daí só ter tios avós e primos em 2º e 3º grau. A minha família foram/são os meus pais e avós, e o meu irmão. Agora o meu marido.
A minha avó materna criou-me dos 6 meses aos 16 anos. Sou uma 2ª filha e ela uma 2ª mãe. Não consigo sequer pensar em perde-la... Quanto aos meus pais. É melhor nem falar nisso!
Ainda não tenho filhos. Se pudesse já teria. Tenho medo. Muito! que o(s) meu(s) filho(s) não conheçam os avós.
Também nunca fomos de demonstrar sentimentos. Sabemos o quanto gostamos uns dos outros. Nunca houve essa necessidade. Mas, muitas vezes, dava o mundo para poder abraçar quem já cá não está!
Texto absolutamente fabuloso :)
Beijo grande
Sara*
delicioso...
c.
Eu também pensava exactamente assim, que nunca iria conseguir ultrapassar a perda do meu pai, que quando isso acontecesse já seria uma mulher madura, casada e com filhos o que amenizaria a dor. Mas a vida troca-nos as voltas e perdi o meu pai com 26 anos quando ele e a minha mãe ainda eram a minha estrutura, o meu pilar, tudo para mim. Não há um dia que passe que não pense nele e gosto muito quando sonho com ele, que está vivo, saudável e a conversar comigo. Nesses dias acordo sempre um pouco mais feliz. O tempo ajuda a suavizar a dor mas para mim o que me ajuda mais são as doces e suaves memórias de ter tido um pai maravilhoso e de tudo o que me passou em termos de valores e que espero perpetuar.
Cheguei agora a casa vinda do velório de um amigo, que partiu de forma inesperada e estúpida na casa dos 20. Este texto acaba por traduzir um bocadinho aquilo que sinto e que não consigo expressar em palavras... Obrigada Ana, um beijinho de boa noite!
texto bonito e comovente, bela prosa mas não deixo de me indignar como é que uma pessoa casada e com um filho considera os pais todo o seu universo.
Então e o marido e o bebé? São só os seus pais que são a sua família??
A Pipoca é uma querida e a minha filha que tem mais ou menos a sua idade e me deu a ler as suas palavras e fez delas suas, também é. Queria dizer-lhe que nós pais apesar de termos filhas adultas lindas responsáveis, independentes e bondosas também queremos cá ficar sempre a tomar conta e a protege-las debaixo das nossas asas porque para nós serão sempre os nossos bebés, mas um dia vai acontecer, agora não vamos pensar nisso e vamos disfrutar do nosso pequeno mundo e vamos amar-nos enquanto pudermos. Mas quero dizer-lhe que me deixou um calorzinho na pele pensar que um dia nós pais quando partirmos vamos continuar cá sãos e salvos bem protegidos no coração das nossas filhas. um beijinho para si e outro para as minhas filhas.
"Os meus pais (e agora também o Mateus) são as pessoas mais importantes do meu mundo"
aprenda a interpretar o texto, anonimo das 01:31
Pipoca, sou filha única e o texto que escreveu é exatamente aquilo que eu penso!
A minha família são os meus pais, a família que vou construir será com o meu marido e filhos...
muito comovente este texto!
Bem, comecei a ler este blog hoje, e deparei-me logo com este post....
Há três anos atrás perdi parte de mim....o meu pai, e a sensação de que me falta um pedaço, de que arrancaram o coração a sangue frio pela boca, continua.
Do "início". Fui criada com os meus pais e os meus avós paternos, vivíamos juntos, ou melhor numa moradia com duas casas em andares diferentes. A minha avó adoeceu muito cedo, tinha 56 anos quando a doença se manifestou, Alzheimer. Em muito pouco tempo deixou de falar, andar....acamou, e foi tratada de forma exemplar por todos, especialmente pelo meu avô, grande "culpado" por ela manter-se forte de coração. Sempre asseada claro, a minha mãe também lhe fez almofadas para tudo e mais alguma coisa, até para as mãos que ela mantinha sempre fechadas, tudo para, por estar acamada a perder massa muscular e sempre nas mesmas posições, não ganhasse chagas, nem lhe doesse o corpo. O meu avô fazia-lhe umas sopas com tudo, tudo, tudo. Mesmo quando ela passou a ser alimentada por sonda. Tinha refeições super ricas, que a mantiveram forte. eu sofri sempre muito com a doença dela, e também porque achava a vida injusta para o meu avô, um verdadeiro cérebro que nunca teve oportunidade de estudar muito (eu nem sei como ele sabe tanta coisa, e como faz cálculos de engenharia com aquela facilidade...entre tanta outra coisa), que trabalhou no duro anos e anos, que nos anos que poderia sossegar, descansar com o amor dele, viu-a adoecer, dedicou-lhe todo o seu tempo, e viu-a, vimo-la partir 12 anos depois. Foi o primeiro grande golpe que lhe assisti. Adiante, eu tinha dois pais. O meu pai, e o meu avô. Às tantas comecei a pensar o que seria de mim sem o meu avô, era tão angustiante que tinha pesadelos em que ele estava a morrer e eu berrava, num deles berrava para me tirarem o coração e lho darem, o dele estava a parar, enquanto uma médica dizia que não podia fazer isso. Era mesmo aflitivo. estava no Liceu, ouvia uma ambulância a passar para os meus lados e ficava ansiosa, nervosa. Uma vez vinha da faculdade e vi um acidente na estrada....não sei porquê senti que era o meu avô....chorei tanto ...mesmo quando ao passar vi que não era ele, não conseguia, cheguei a casa num estado terrível e fiz-lhe prometer que nunca mais iria de bicicleta ao centro da cidade, só de carro. O acidente tinha sido um com uma bicicleta, um senhor, talvez da idade do meu avô, foi abalroado por um carro naquela estrada e foi cair abaixo de uma pequena ponte, uns 2 metros ou menos de altura.
Acho que estou a ser chata já...avançando!(continua...)
....continuação
O meu avô foi sempre o meu "ai Jesus"! O meu pai, foi sempre uma relação complicada entre nós, entre ele e a minha avó, entre ele e o meu avô...porquê? Porque era filho único, foi muito mimado e desiludiu ao desistir dos estudos, ao só querer borga...e ao começar a viciar-se em jogo. Foi o jogo que tornou a nossa relação tão dura. mas eram momentos, tanto era o céu como o inferno. Mas no "inferno", eu era a única que o confrontava, que lhe respondia e dizia as verdades, que nunca lhe emprestava dinheiro. Isto já em adulta, depois dele ter dado cabo da fortuna dos meus avós e de nos masssacrar para saciar o vício, casino casino casino. Mas não massacrava sempre e era super-inteligente ( não sei como foi cair nas garras dum vício tão parvo), simpático, agradável, meigo, bom pai (apesar de achar que eu e a minha irmã não precisávamos de dinheiro no futuro). Nunca deixou que nos faltasse nada, e nisso nem o meu avô, que pagou tanto a mim como á minha irmã os cursos superiores, por exemplo. Educação em todos os sentidos nunca nos faltou. Agora, já nos meus vinte e tal, as discussões eram tão graves às vezes...era cada facada em palavras, tanto de um como de outro. Quando ele estava na fase "inferno" notava-se logo, mal eu chegasse a casa começava a implicar comigo, só comigo, até descambar. Nunca soube o motivo do pico dos nervos dele quando queria dinheiro e não tinha eram contra mim. E resumindo, muitas coisas me marcaram, mas duas em especial. Eu sei que o que ele dizia não vinha do coração, nem o que eu dizia. Também sei que lhe respondia com raiva e com uma razão para tal.
Mas numa discussão, em 2009, disse-lhe que tinha tanta vergonha dele, que um dia quando casasse, nem o queria a levar-me ao altar, aliás, que podia nem ir ao casamento. entretanto, passamos meses a dar-nos bem, ele estava a fazer um esforço enorme para vencer o vício, mas tinha recaídas, como a de 18 para 19 de Março de 2010. E nesse dia do pai, eu ignorei-o, enquanto ele fazia de tudo para que eu pelo menos olhasse para ele, acho que já nem esperava o beijo. Tenho na memória cada movimento dele que eu via com a visão periférica, o olhar de culpa dele a implorar-me que o perdoasse. Como sempre mantive-me como uma pedra. Na última semana de Abril sentiu-se mal de repente. Ele que nunca ia ao médico, foi arrastado pelo meu avô, como uma criança quase. No dia 3 de maio foi internado sem esperança. Não esquecerei a minha pergunta ao médico e a resposta dele. " Doutor, acredita em milagres?", "Menina, sou católico praticante e nunca na minha vida vi um, vi foi diagnósticos mal feitos, depois parece milagre a pessoa aparecer curada..., e espero estar enganado no diagnóstico". Não estava, e cinco semanas de pois, e depois de ser transferido para o IPO, o meu pai morreu, com 54 anos acabados de fazer...e no dia que eu tinha escolhido para casar, não naquele ano de 2010, talvez 2011. Mas o dia e o mês coincidiram. Até hoje pesa-me o que lhe disse, não queria que ele me levasse ao altar.. Até o padre quando me confessou para o casamento, que acabou por acontecer o ano passado, e já com outro dia escolhido, disse que só faltava eu mesma perdoar-me, mas não consigo. E o último dia do pai? Sabia lá eu que era o último que iria ter com ele....e nem para ele olhei. (continua...)
(...continuação)Mas uma coisa conforta-me: todo o dinheiro que não lhe emprestei, gastei com ele e contas que ele, por doença, deixou de pagar, incluindo às Finanças.Não o larguei, aliás, nunca estivemos tão próximos como naquelas 5 semanas. Fiz tudo o que podia para ele estar o melhor possível. E ele reconheceu isso, não perante mim, o que me entristece, mas perante a minha mãe e uma tia minha. Disse comovido que "eu não a conhecia, nunca pensei que ela era assim". Conforta e dói. então em 27 anos ele esteve tão entretido com o jogo que não olhou para mim? Queria tanto o dinheiro que nunca percebeu o quão amiga dele estava a ser ao não lhe emprestar um cêntimo meu? Nunca percebeu que eu não sou uma pedra fria, apenas tinha que ser firme perante os períodos de inferno dele? E podia ter-me dito nos olhos o que disse à minha mãe e tia.
Isto tudo para quê? Para concluir que mais uma vez o meu avô levou um golpe duro, e o meu pai era filho único. Para ver como andei anos a sufocar de medo de perder o meu avó e nunca me passou pela cabeça perder o meu pai. Era contra-natura.
Perder o meu pai foi, como já disse, cortarem a sangue frio uma parte de mim, acho que nunca vou recuperar, dizem que o tempo cura, mas não cura. Ajudou a aceitar e a agradecer as "apenas 5 semanas" de sofrimento. ele não merecia mais tempo a sofrer. E muitas vezes penso, se eu tivesse um filho, esta dor acalmava?No dia que tiver, se os tiver, vai ser diferente? Eu vi amigos meus perderem os pais, e quem tinha filhos, ou quem entretanto os teve,, foi como se aquele pedaço que foi arrancado com a perda tivesse sido quase todo ele reposto. Claro que não esqueceram, não deixou de doer, mas tudo acalmou, é como se uma nova luz se tivesse acendido.
E para finalizar, espero ter o meu avôzinho-pai por muito tempo, já que a Natureza trocou as voltas, embora nenhum dos dois devesse partir (do meu ponto de vista).
E a minha mãe?Quase não falei dela, aliás, não falei dela mesmo em específico. É uma MÃE linda por dentro e por fora,a melhor do mundo, e um pedaço de mim que não quero sequer imaginar que me vá faltar também!
Ah, e no dia em que casei? Pensei que me ia lembrar das coisas que disse ao meu pai e ia ser um descalabro...Sorri e ri todo o dia, até quando o meu avô me agarrou o braço para a porta da igreja se abrir e entrarmos, uma paz e alegria acomodaram-se no meu coração e eu só consegui sorrir r rir para toda aquela gente que olhava para mim. porquê' porque ele esteve comigo todo o dia, e todos os dias está, e não me deixou chorar. Ele detestava ver-nos chorar. O meu pai não suportava ver-nos derramar uma lágrima, foi toda a vida assim...
Olá Pipoca, eu perdi a minha mãe há 5 anos, com um cancro avançado, quando soubemos já só tinhamos 6 meses com ela. Eu sou filha única com uma família muito pequena: somos 3, eu , o meu pai e a minha tia. Sou casada, não tenho filhos, mas existe sempre um vazio que sei que vai crescer, sempre soube que ia ficar sozinha algum dia, sem aquela "familia de apoio". Uma coisa que aprendi : nunca estamos preparados e quando acontece parece que estamos noutra dimensão, deve ser para amortecer a dor, por isso não vale a pena pensarmos nisso e sofrer por antecipação.
Pipoca, um lindo texto. A perda é sempre um sentimento muito duro de lidarmos com ele.É difícil aceitar no inicio, mas à medida que o tempo passa a dor vai ficando menor e fica as recordações.
Há 3 anos atrás perdi o meu pai, num dia ele estava bem no outro sofreu um AVC fulminante entrou em coma, os médicos dizeram que o cérebro dele estava " morto", não havia qualquer actividade cerebral. O que o mantinha vivo era as máquinas. Foi um choque muito grande, porque ninguém estava à espera, mas digo-te que entre isso e ele ficar numa cama sem andar, sem falar, sem acção nenhuma preferi que nesse dia ele deixasse este mundo.Para mim vê-lo assim seria muito pior, e sei que para ele também, pois sempre foi uma pessoa tão cheia de energia e independente que ver-se numa cama seria algo que nunca ia aceitar. Acredita que ele no dia anterior pegou na sua mota( sim com 80 anos ainda conduzia uma vespa) e foi dar a sua voltinha, ver os amigos, tomar café com eles, conversar, rir algo, que ele amava. Tenho muito orgulho no pai que tive, para mim foi o meu herói.Sinto a falta, claro, mas quando quero estar com ele, sento-me num lugar sossegado, fecho os olhos e imagino-me num lugar( normalmente é no campo que ele adorava) que ele está ali ao meu lado, e converso com ele como se ele pudesse ouvir-me.Conto as novidades todas, as preocupações no momento. Enfim é a forma que encontrei de o sentir mais perto de mim.bjs
Ola a todas,
Sou uma leitora assídua do teu blog, mas nunca calhou comentar.
Imagino a confusao que te faça pensar na ideia de perderes quem te é mais proximo, e o sentimento de impotência que se cria, porque a verdade é que por muito que façamos é algo inevitavel.
Por este palavreado, podes perceber que sempre fui filha do papá e continuo a considerar me assim, e ter que perde lo no ano passado é algo que ainda nao esta encaixado na minha cabeca.
Com 48 anos morrer no sono é estranho, nao achas? eu acho...
Dentro de 4 meses vou casar e esta a ser muito dificil conjugar tudo, sabendo que naquele dia feliz, ele nao vai estar comigo. Ou melhor, estara mas nao como gostaria.
Amo muito a minha mae e é a ela que me agarro e ao meu mais que tudo, que foi mais do que um pilar, porque a dor as vezes parecer ser maior qque nos.
Aquilo que quero, e tenho a certeza que assim é, é que esteja o meu pai onde estiver, tenha orgulho em mim!
Catarina
Revejo-me tanto nestas tuas palavras. Tenho medo todos os dias de perder aqueles que amo.
Chorei a ler este texto. Perdi o meu pai aos 13, hoje aos 26 anos, 13 anos depois, o amor e a saudade são as mesmas que senti no dia depois da sua morte. Dói muito pipoca. Muito mesmo. Ainda por cima era filha única, menina do papá, e sempre fui mais próxima do meu pai do que da minha mãe. Era o meu melhor amigo, a pessoa com que desabafava sobre tudo, sobre a escola. Assuntos que nunca consegui conversar com a minha mãe, uma mulher mais fria e distante.
Tenho tantas saudades que nem consegue imaginar... dava tudo o que tenho e o que não tenho para estar com ele novamente nem que fosse 5 minutos.
Este post provocou-me um tremendo nó na garganta. Infelizmente tive já que enfrentar este medo; o meu pai faleceu de cancro quando eu tinha 23 anos e, apesar de ter tido cerca de um ano para me "habituar" à ideia do cancro e da possibilidade dos tratamentos não funcionarem, a verdade é que a minha experiência diz-me que estarmos preparados para o momento em que a pessoa que amamos deixa de estar connosco é uma impossibilidade. E aquela coisa de que o tempo cura tudo também me é desconhecida. Ora hoje parece que sim, que está tudo melhor, até ultrapassado, ora de repente oiço uma musica, vejo um filme, e pronto, o sentimento de perda irreversível volta com toda a força e parece que tudo aconteceu ontem...
O melhor mesmo é aproveitarmos enquanto as pessoas estão por cá connosco, e mesmo que seja mais difícil exprimir por palavras o que sentimos, podemos sempre fazê-lo com gestos e acções!
Identifiquei-me totalmente com este texto e sinto exatamente o mesmo, em especial desde que este ano perdi a minha adorada avó que me criou e o tio mais querido e louco que se pode ter. Sinto cada vez mais vontade de abraçar os meus pais e de lhes dizer o quanto os amo, mas esse tipo de conversas também não eram comuns em minha casa. Apesar disso, penso que sabemos que somos mutuamente, em conjunto com os meus dois filhos, as pessoas mais importantes do nosso mundo.
Olá Ana!
Realmente a sua preocupação faz todo o sentido, perdi a minha mãe vai fazer 2 anos em dezembro e realmente a vida nunca mais volta a ser o que era. Parece que já não voltamos a ser felizes e a ter a paz que tínhamos antes. Apesar de ter um filho de 4 anos, os amores são diferentes!
Aproveite-os ao máximo enquanto os tem, todos os momentos são únicos!
Joana
É verdade, a vida não volta a ser a mesma quando se perde um deles...=( enfim. Pipoca aproveita bem os que tens. ***
olá pipoca :) e hoje chorei porque os meus medos, que escondo tão bem debaixo de uma carapaça de extrovertida e sempre a palhaça de serviço, mas que me atormentam diariamente foram vividos em cada palavra que li. Sou filha única e também a minha familia, neste momento é a minha mãe e o meu avô de 97 anos!!!!, sim eu sei, ele é de outra "cepa".O meu pai morreu muito cedo, eu tinha 13 anos, e desde esse dia o meu maior medo é ficar sem a minha mãe que, não é para me gabar, mas é uma mãe coragem e sem a qual eu não consigo conceber a minha vida. Não tenho marido, namorado ou afins e também não tenho filhos, por isso todos os dias penso no quão sozinha ficarei quando apenas restar só eu. Obrigada pela companhia e risadas que dou quando leio os teus desabafos.
O que se passa contigo que ultimamente me fazes muitos nós na garganta e olhos marejados? Tu não és um cubo de gelo. Nem pouco mais ou menos. O que sentes em relação aos teus pais, é o que sinto em relação aos meus e por vezes vem à cabeça a ideia de os perder e o meu mundo desaba, porque apesar de ter uma familia (primos, tios) enorme, são eles o meu mundo e a minha familia. Obrigada por partilhares connosco esses teus desabafos e tenho a certeza que os teus pais são muito orgulhosos de ti. Beijinhos Pipoca.
Catarina
o meu pai morreu há 22 meses e doi como se fosse ontem... a dor nunca desaparece, ao principio parece que foi ali e já volta, mas quando se percebe que não volta mais a dor aumenta a cada dia... obrigada pelo seu post :)
Obrigada por escreveres sobre estes temas que tantas pessoas pensam e temem... refletir sobre isto é muito triste, mas por um lado sentimos que não estamos sozinhos nestes pensamentos desoladores...
Não se preocupe, que na segunda parte do relato, não está sozinha. Sinto exatamente o mesmo em relação à minha mãe. Adoro-a, sempre fez tudo por mim...mas tem um feitio terrível e não consigo dar-me bem com ela. Faz-me tanto de bem como de mal por vezes, e isso deixa-me triste. Sei que vou sofrer quando não a tiver comigo, mas sim, sou mais próxima do meu pai. São coisas que acontecem, e não podemos evitar, pois os nosso pais também são pessoas com feitios, como as outras, e ou gostamos ou não não gostamos (tanto). Adorei o post da Pipoca. Como quase todos os que escreve. Tem um talento enorme!
Rita
:(
Encontrei este post agora mesmo, por mero acaso, que foi escrito dias antes do meu pai falecer. Se no dia em que escreveste este post alguém me tivesse dito que daí a 10 dias eu ia perder o meu pai, eu não tinha acreditado. Aliás, quando o médico me disse "lamento profundamente, mas não há esperança", eu respondi "como assim? O meu pai não pode morrer, não faz sentido".
Hoje, passado um ano e oito meses, posso afirmar que a morte do meu pai fez de mim uma pessoa mais feliz. Compreender que posso perder tudo de um momento para o outro ensinou-me a valorizar o que tenho. Já não quero saber se o dia ia ser quente e afinal choveu... estreiam-se as galochas!
É extremamente doloroso, às vezes a dor chega a ser física. Nesses momentos lembro-me da igreja cheia no funeral. Tão cheia que havia pessoas no corredor, havia pessoas na rua, havia pessoas até do outro lado da rua. O meu pai deixou marcas neste mundo, e a maior delas foi no meu coração. Foi um amor tão profundo que nunca me vai abandonar.
Um grande beijinho a todos*
O meu pai faleceu dia 7 de maio deste ano, quase ninguém sabe ao certo o que ele tinha, apenas a minha mãe, a minha irmã, eu e o meu marido, e ... é duro, ainda hoje... choro com frequência....
O meu pai tinha muitos problemas de saúde, tantos que nem os médicos sabiam já que lhe fazer, correu todos os hospitais possíveis e imaginários, mas nunca ficou sozinha, foram anos e anos em hospitais, consultas, internamentos, medicamentos... tanta coisa que até cansa contar.
A reta final começou no dia 30 de janeiro deste ano, foi internado com uma infeção respiratória, nunca mais teve alta, esteve um mês internado em medicina geral, depois esteve uns três meses, não sei ao certo,ou dois nos cuidados paliativos, depois foi transferido para os continuados onde ao fazer uma semana foi para aos cuidados intensivos quase sem falar, ... novamente uma infeção respiratória, alguns órgãos começaram a entrar em falência e durou apenas 6 dias, estivemos sempre ao seu lado, de dia e noite a falar para ele, apesar de não nos responder... estava muito muito magro, penso que não devia pesar mais de 40 kg, doía o coração só de o ver, na quinta feira começou a ficar com uma cor meia roxa, nas mãos, orelhas testa... cada vez mais e mais e mais e mais... até que deu um último suspiro, hoje em dia tenho chorado mais que chorei naquele momento, é demasiado duro e só quem passa por elas é que compreende ao certo o que custa, mais ninguém sabe, por mais que tentem imaginar ninguém sabe... sinto raiva, dor, nem sei explicar. e o que me custa ainda mais é pensar na minha mãe que provavelmente irá passar pelo mesmo, não sei se algum dia conseguirei sorrir como antes.
Perdi o meu pai há 10 meses após internamento de quatro meses e meio, tenho dias que sinto um grande vazio e ainda não me consegui reencontrar. Tenho a minha mãe, os meus filhos e um marido maravilhoso que me tem apoiado nesta fase. Espero melhorar e conseguir superar esta ansiedade e angustia.
perdi o meu pai agora no dia 2 de fevereiro e no dia 1 do mesmo mês tinha feito 63 anos e na madrugada do dia 2 o despertador no telemóvel o meu pai tocou e fui até ao quarto dele e encontrei-o morto, comecei a chamar pai várias vezes e ele sem reagir e já gelado, liguei para o 112 mas já não havia nada a fazer e o pior é que tb perdi a minha mãe em 2010 só tenho uma avó que nem se apercebe da morte do filho pq não está boa da cabeça tb já tem quase 90 anos e eu e a minha irmã não nos damos muito bem, tenho o meu namorado e uma cadela mas ficar sem os pais é muito complicado e difícil, já tenho saudades deles já não bastava ter perdido a mãe para um cancro da mama agora tb o pai em casa que não se sabe do que foi e por isso fizeram uma autópsia, o meu pai estava doente mas pelo menos tinha a sua companhia, podia tocá-lo e agora já nem vê-lo posso, não tenho amigos não sei como aguentar tudo isso sinto-me desprotegida, desanimada com a vida e tb desgostosa, isso é tudo muito triste
Agora imagina a mesma situação, filha unica no meu caso, sem primos ou tios, casada com 2 filhos e o marido quer ir viver ( por questões familiares dele e finaceiras da familia dele) para o outro lado do mundo ( 24 horas de distancia mínimo). Sinto abandonar os meus pais na velhice e afasta-los dos netos é desumano e ingarto da minha parte e nao quero fazer-lo.! Chamem-me eguista, mimada o que formas nao quero deixar os meus pais e obviamente eles nao querem deixar o seu país aos 70 anos.
Podem ser 4 anos podem ser 10 podem ser 20. nao sei quanto tempo vao ca estar. Mas provavelmente vou ter de escolher entre manter o casamento ou abandonar os meus pais na fase mais vulnerável das suas vidas. Estou num dilema que não desejo a ninguém. seja qual for a escolha sairei sempre a perder.
bjs
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Teorias absolutamente espectaculares