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O Pequeno Médico

sexta-feira, abril 23, 2010
"Não sei se acredito em acasos, mas também não sei se acredito no destino. Sei apenas que há coisas que acontecem, talvez porque era suposto que assim fosse, talvez porque calhou. Foi assim que conheci a Grazi. Estava numa loja a fazer um trabalho quando ela entrou. Cumprimentou a dona como quem já é da casa e, naquele jeito típico dos brasileiros, falou comigo, completamente indiferente ao facto de nunca nos termos visto na vida. “Nossa, essa loja tem coisas lindas, né?”. Disse que sim, era verdade. Achei-a logo simpática, despachada, com qualquer coisa especial.


Quando percebeu que eu era jornalista, a Grazi ficou entusiasmada, contou-me que ia abrir uma loja em Lisboa, um conceito completamente diferente. E eu, que ando sempre à procura de coisas novas, pedi-lhe que me avisasse assim que abrisse. Estendeu-me um cartão com os contactos, pedindo desculpa por não ser um cartão pessoal. Era o cartão com os dados do livro que tinha lançado há poucos anos. A senhora da loja, surpreendida com a coincidência, disse “sabe que esta menina também lançou agora um livro? Temos aqui duas escritoras”. A Grazi perguntou-me sobre o que era o meu livro, e eu respondi o que respondo sempre: “parvoíces”. “E o seu?”, perguntei. “É sobre o meu filho, o Alê, que morreu há seis anos. Chama-se O Pequeno Médico, porque era o que ele queria ser”. Engoli em seco. Tinha à minha frente uma mulher cheia de energia, divertida, absolutamente resoluta em não se deixar abater pela dor e pelo negativismo. Pelo menos, aparentemente, ninguém diria que tinha passado por uma coisa tão dramática e revoltante como perder um filho de 13 anos.


Fiquei com muita curiosidade em ler o livro, perguntei à Grazi se o poderia encomendar do Brasil. Dois ou três dias depois, recebia um mail dela: tinha um livro para me dar e gostava de se encontrar comigo. Combinámos um café com vista para o Tejo e, em troca, levei-lhe o meu livro. Quando o café acabou voei para casa. Sentei-me no sofá e li o livro num fôlego, em duas horas. Sabia o final da história, mas tinha esperança que o desfecho fosse diferente. Que se desse ali um milagre qualquer. Ao longo de cento e tal páginas acompanhei a evolução do cancro raríssimo do Alê, dos tratamentos dolorosos a que se submeteu, da força que teve, da leveza de espírito com que encarou a doença, até ao fim. E vivi o livro como se se tratasse de um familiar, de um amigo a quem só se deseja o melhor. Infelizmente, aconteceu o pior e, no final, senti aquela perda como um murro no estômago.


Já o disse à Grazi, agora escrevo-o aqui: admiro-lhe a energia, a disposição, a maneira como é agradecida pelas coisas mais pequenas, como parece valorizar tudo e ver sempre o lado bom. Admiro-a, do mesmo modo que admiro os meus pais. E todos os pais que perderam um filho, assim, inesperadamente. Não sei como se sobrevive a uma coisa dessas, como se arranjam forças para continuar. Mas dou-lhes muito valor por isso."
Crónica publicada no 24Horas há quase um ano

Ontem recebi a versão portuguesa do livro, que estará à venda a partir da próxima semana. Uma vez mais, li-o num instante, como se ainda não o tivesse lido. Foi um best-seller no Brasil e tenho a certeza que também será um sucesso cá. E, por ser uma história tão intensa quanto devastadora, aceitei com imenso prazer o convite que a Grazi me fez para apresentar o livro. Vai ser no dia 5 de Maio, às 19h00, na Fnac Chiado. Quem quiser aparecer é bem-vindo.

27 comentários:

  1. Ola Ana, vou tentar ir nesse dia ao Chiado, em 1º para te conhecer pessoalmente, sou leitora assidua do teu blog e em 2º para comprar esse espantoso de livro.
    Bjs FM e já agora quem ganhou o plasma!!!!!

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  2. Pena nao ser mais perto... Mas quem sabe nao voltas a fnac do norteshoping ou outra aqui mais perto... ;)

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  3. Fiquei ansiosa pra ler esse livro!!!
    É impressionante como as pessoas vão buscar forças sei-lá-onde... nem elas sabem!!!

    xoxo
    Style It Up girl
    http://styleitupblogspot.blogspot.com

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  4. Céus, estou a ler o teu texto e a chorar que nem uma doida, só de pensar no conteúdo intenso que deve ter este livro. Como mãe que sou imagino a dor que ainda deve ser a perda do filho, e admiro por demais quem a isso consegue sobreviver com amor pela vida e vontade de viver. Nem por acaso ainda esta seman me deu para pensar na D. Lucinha, a mãe do Cazuza e tentar imaginar o que ainda será para ela a perda do filho...e agora deparo-me aqu8i com a história da Grazi. Mulheres com muita força, as duas. Eu não sobreviveria assim.

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  5. Deu vontade de não ler o teu texto (só por parte da história) e de ir a correr comprar o livro!

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  6. Estes posts, interessantes e jornalísticos, têm sempre tão poucos comentários. É uma pena.

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  7. Portanto é um privilégio, uma missão, sô dona pipoca apresentar essa mulher carajosa.

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  8. Sigo o teu blog há muito tempo, mas nunca me apeteceu escrever nenhum comentário pelo simples facto de que não tinha nada de novo para acrescentar ao que dizias. Guardava as minha opiniões para mim, assim como entendo que os teus posts não são vinculativos, são somente a tua opinião, gosta-se ou não se gosta, mas o blog é teu e tens o direito de cá escrever o que bem entendes, assim como eu faço no meu. Não me alongo mais, apenas quero frisar que, depois de ler o que escreveste, e de me ter arrepiado toda, confirmo a opinião que já tinha de ti: não obstante todas as futilidades que aqui aparecem ( e que são tão próprias de uma mulher), este blog tem qualidade e é pena que haja tanta gente neste mundo que ao invés de crescer a aprender um pouco todos os dias, se limita a gastar o seu precioso tempo a criticar-te e a ofender-te como se, com isso, ganhassem algum prémio. É tão simples...basta não virem cá....mas perdem tudo o que de bom por cá aparece. Continua, Pipoca!

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  9. Espero comprar este livro em breve.

    Por vezes vamos buscar forças não sabemos onde...eu não perdi um filho (Graças a Deus) mas perdi o meu marido e o meu pai com uma diferença de 17 dias.

    Sinto que nesse momento tive de crescer num estalar de dedos...na altura tinha 26 anos e um filhote com 13 meses...foi duro...mas cá estou.

    Desculpem a ousadia de contar a mh história, qd este post conta uma história muito mais dolorosa que a minha.

    Aconselho tambem o livro k estou a ler neste momento ORFANATO 10, tb baseado numa historia veridica.


    Catarina

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  10. Ui! Lá vão os anónimos rogar-te pragas do género espero que caias, partas as unhas e te caia o cabelo e tudo e tudo e tudo...

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  11. Lindo. Prova de que não somos feridos/marcados tanto pelo que nos acontece, e sim sobre a nossa crença sobre o que nos acontece. Vou comprar o livro. Necessário.
    Obrigada pela dica valiosa.
    Bjs e bom final de semana.

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  12. Pois é... triste a sua história (final) linda a sua coragem de vida.
    E ainda existem idiotas, que dizem que feiras e livros não interessa.
    Opá existe lá melhor riqueza que ler um livro?? Cultura, viagens(pelas vidas, peripécias, ensinamentos, e tudo o mais) que gamhámos quando lemos um livro.
    Mas quem não lê não sabe do que falamos.

    Boa Pipoca, vou comprar esse livro, para me enternecer com essa história e coragem.

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  13. Leio o blog há algum tempo, mas acho que nunca comentei.
    Neste caso tenho de o fazer, porque a história me toca de perto.
    Também a minha mãe perdeu um filho com 13 anos (e eu um irmão) e é uma dor imensa que nunca se perde.
    Mas a força de mulheres como a Grazie a minha mãe, que seguem em frente e procuram alegria nas pequenas coisas é algo que me surpreende a cada dia.
    Sou mamã recente e só de pensar em que algo pode acontecer á minha bebecas fico doente.
    O teu texto deu-me vontade de ir comprar o livro e ler tudo de um folego :)
    E aprender a crescer como pessoa, coisa que estou segura que acontecerá com essa leitura.

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  14. Vou mesmo comprar. E fico felicíssimo por saber que o seu bom coração ainda aqui reside...


    Stay Well

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  15. São textos destes sobre pessoas como a Grazie que me fazem olhar sempre em frente e pensar que o futuro será sempre melhor que o passado! Obrigada pela partilha...

    SSF

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  16. Vou ler de certeza... parabéns pelo post... Teresa Rodrigues

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  17. Versão portuguesa? Antes estava escrito em que língua?

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  18. Leste o livro em que língua, se a versão portuguesa só é publicada agora?

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  19. por isso Pipoca os filhos são a melhor coisa do mundo! até no spa a fazerem barulho.E a Maddie?

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  20. olá pipoca...

    Tenho pena que esse livro nao chegue a Africa.Pois adoro ler.
    Realmente é muito doloroso perder um filho deve ser a pior coisa que uma mae e pai devem sentir.
    Tambem fiquei intrigada, sobre a versao? Ja nao estava iscrito em Portugues?
    bjs

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  21. que tal português do Brasil? há pessoas ...

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  22. A versão agora é em português luso.

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  23. A vida dá-nos cada murro no estômago.

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  24. A Graziela é lindíssima, por fora (sem dúvida) e por dentro de certeza que também, e não é só porque infelizmente perdeu o seu querido filho Ale. Sente-se pela sua expressão, pela forma de estar, de falar, que só uma pessoa boa pode ver a vida de uma forma tão positiva. Que bom. Obrigada e vou ler O pequeno médico. Espero que consiga vender muito este seu livro, porque faria muitas pessoas felizes.

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  25. Acabei de ler " O Meu Pequeno Médico", as últimas 50 páginas foram lidas com lágrimas a cair...
    Extraordinariamente comovente!!!

    *
    Cris

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  26. Ele há coisas...andava aqui a ver posts antigos do blog. E vejo que no dia 23 de Abril de 2010, a pipoca fala aqui de uma mãe que perdeu um filho... e neste mesmo dia, houve um filho que perdeu um pai. Eu.

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Teorias absolutamente espectaculares

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