segunda-feira, fevereiro 01, 2010
Amanhã é dia de levar o carro à inspecção. E eu temo este dia quase tanto como temo uma ida ao ginecologista. Sinto sempre que é um ambiente hostil para a clientela feminina. Parece sempre que os senhores inspectores olham para as mulheres e pensam "oh, não, mais uma gaja que vem para aqui emperrar isto tudo". E eu fico nervosa, claro. Parece que estou prestes a entrar para um exame na faculdade, que as minhas aptidões e conhecimentos vão ser postos à prova, que é um caso de vida ou morte, que se não acertar nas perguntas me vão enfiar umas orelhas de burro e pôr-me de costas voltadas para a parede. Depois, há que ter em conta que eu sofro de um problema gravíssimo: ter uma grande dificuldade em distinguir a direita da esquerda. O que torna todo o processo altamente sofrível, sobretudo quando o homem grita "pisca da direeeeiitaaaa", e eu começo a suar e a tremer, ai, qual é que é a direita, e ligo o da esquerda, e ele diz "O DA DIREITAAAAAAAAAAA", e eu ligo os médios, e ponho a marcha atrás, e acelero, e faço tudo menos acertar com o pisca. E a parte em que ele vai para debaixo do carro e a voz dele ecoa como se viesse do fundo dos infernos? E eu tenho sempre medo de não o ouvir, tenho medo que o homem esteja ali aos berros já há meia hora e eu nada. E, claro, também tenho medo de fazer qualquer movimento estranho e espatifar o carro em cima do desgraçado. E depois vem o veredicto. E eu temo que me digam que o Pipoca Mobil tem apenas quatro meses de vida. Que o carburador está entupido. Que o óleo do motor se foi. Que vai ter de ficar internado a soro, mas que já não há muito a fazer para o salvar. Que vão ter de induzir o coma. E que vou ter de decidir se o quero desligar das máquinas ou mantê-lo em estado vegetativo. Ou então não. Com sorte tenho só uma luz fundida e a chapa da matrícula a perder a tinta, como o ano passado.
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Teorias absolutamente espectaculares