Pub SAPO pushdown

domingo, dezembro 06, 2009
Para a A.

Vão dizer-te que isso vai lá com o tempo. Vão dizer-te, muitas vezes, que isso vai lá com o tempo. Não vais acreditar em nenhuma delas. Vais encolher os ombros por dentro, com a certeza absoluta que ninguém te entende. Que ninguém consegue perceber em quantas tiras está o teu coração rasgado. Na tua cabeça, vais rever tudo. Todos os dias. O que disseste, o que calaste, o que devias ter dito, o que ainda esperas poder dizer, o que ainda esperas poder ouvir. Exactamente três segundos depois de pensares que foi melhor assim, que antes agora que mais tarde, vais sentir que não. Que mais valia mais tarde. Que podia ter sido diferente. Que mais vale a solidão a dois do que esta, que vives agora sozinha. E depois volta a estar tudo bem. E pensas que foi melhor assim. E três segundos, exactamente três segundos depois, voltarás a ser a pessoa do coração às tiras. A chuva não ajuda. E sei que te sentes como o tempo lá fora. Mesmo que fosse verão, o teu quarto pareceria sempre cinzento ao olhares para o que sobrou. Agora parece pouco, com o tempo verás que é muito mais do que isso. Não queria ser mais uma a usar a desculpa do tempo, mas não tenho outra. Aliás, têm-me faltado as palavras. Faltam-me sempre, nestas ocasiões. E é por isso que, quase sempre, fico calada. Porque já estive aí e sei que não há palavras milagrosas. Porque sei que cada vez que o telemóvel toca são segundos de esperança infudada. E, depois, desilusão. Por isso digo o menos possível, porque sei que não são as minhas palavras que queres ler. O pior de tudo é isso. A expectativa. Os dias a passar e não acontece nada. Porque é que não acontece nada? Como é que não acontece nada? As perguntas multiplicam-se e atropelam-se. Há sempre mais perguntas, só não há ninguém para lhes dar resposta. Sei que não te vai apetecer dizer nada. Como sei que te vai apetecer falar, falar, falar, até à exaustão, na tentativa de encontrar alguma explicação que te faça sentido. Sei que não te vai apetecer sair da cama durante uma semana. Como sei que não vais querer parar um minuto, para não teres de pensar. Gostava de não dizer que isto passa com o tempo. Por isso prefiro não dizer nada.

Estou só a uma cadeira de distância. Dois números de diferença no telemóvel. E muito mais perto do que possa parecer.

4 comentários:

  1. Acabei de usar estas palavras para uma aluna minha. Obrigada. Porque eu não tenho palavras para a ajudar.

    Beijinhos e muitos parabéns pelo casamento. Felicidades imensas!!

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  2. Depois de muito ler o teu blog, (vou ser sincera) para consultar coisas giras e fashions e poder copiar... Chegou o momento de ler este post com muita atenção, isto para não me enfiar na minha própria tristeza...

    Apesar destas palavras não serem para mim,

    Obrigada

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  3. E é exactamente assim que eu me sinto. Porque à um mês e duas semanas que as pessoas apenas dizem "com o tempo passa, vai melhorar" e é exactamente à um mês e duas semanas que eu sinto que o tempo, esse que todos acham milagroso, só tem piorado.

    Obrigada por esse seu "desabafo". Hoje sei que sou compreendida.

    Beijinho e resto de bom trabalho.

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  4. Só quem passa por isto é que compreende..
    Obrigada por partilhares estas palavras, sinto-me menos sozinha.
    Beijinhos

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Teorias absolutamente espectaculares

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