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quarta-feira, março 11, 2009
Odeio neve

O meu homem foi para a neve. Adoro a expressão. Não se diz "foi para a Serra da Estrela", "foi para Andorra", "foi para as montanhas onde vivia a Heidi com o avô e o cão". Não, foi "para a neve", um senso comum que faz pensar que só há um sítio no planeta com neve, e que é para aí que toda a gente vai quando diz que vai para a neve. Eu, claro, nulidade desportiva absoluta, fiquei ao abandono no verão antecipado de Lisboa. A primeira separação mais alongada em meio ano de namoro. Fiquei a sentir-me mais ou menos como a mãe que fica a ver o filho partir para o primeiro dia de escola. À noite toda eu era encorajamento, a dizer-lhe que tinha de ir, que tinha de se divertir, que devia manter a tradição secular de ir para a neve só com gajos (diz ele, a mim ninguém me garante que não se juntou a um grupo de adolescentes gostosas e dadas ao desporto, ainda antes de chegar a Badajoz), que é uma coisa que até faz bem à relação, que não temos que fazer sempre tudo juntos, que é saudável ter saudades e blá blá blá. Claro que assim que o despertador tocou e o vi saltar da cama alegremente em direcção a umas férias na (puta da) neve, a coisa mudou de figura. Acho que ainda ensaiei um "será que podes não ir??", agarrada ao pescoço dele, desgrenhada e em pijama, mas ele desembaraçou-se com agilidade, fez-se de morto e continuou a sua vidinha, a mente já absorvida por forfaits e pranchas de snowboard. Lá fui até à porta, fiquei a dizer adeus até ele desaparecer na curva das escadas, coração apertadinho, a olhar com saudosismo para a casa onde ainda não deu muito tempo para sermos felizes, mas onde já pendurei quadros, troquei lâmpadas, acartei móveis, desencaixotei pratos, montei armários, fiz arranhões e me enchi de pó. Meia hora volvida, e já quase pronta para sair de casa e ir trabalhar (consumida pela tristeza, obviamente), eis que ouço a chave rodar na fechadura. Percebi imediatamente que ele não ia aguentar cinco dias longe. Que tinha desistido. Que sem mim ia andar infeliz no meio das montanhas, a tentar encontrar o sentido da vida. Afinal não. Só se tinha esquecido dos óculos escuros. E, por isso, tenho pela frente várias noites de pesadelo em que ele choca com uma qualquer beldade sueca na pista e descobrem o amor no meio da neve e casam-se e têm muitas crianças louras, de olhos verdes e, obviamente, ranhosas.

PS.: Já mandou mensagem a dizer que vai "um bocadinho a um bar". Ia jurar que me tinha dito que na neve não se sai à noite, que se acorda muito cedo, que o ski cansa muito, que às oito da noite já está tudo pronto para ir para a cama. Resta saber com quem. Sacanas das suecas mamalhudas.

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