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sexta-feira, julho 11, 2008
São os loucos de Lisboa

Há em mim um qualquer íman que me faz atraír pessoas esquisitas. Pessoas diferente, vá. Um problema que se resolveria facilmente se eu não tivesse a componente comunicativa mais desenvolvida do que na maioria dos seres, coisa que me leva a desatar a falar com gente que não conheço de lado nenhum. Há bocado estava parada na avenida da Liberdade à espera que um amigo me viesse buscar para almoçar. E logo calhou o desgraçado perder-se (quem é que, sendo de Lisboa, não faz ideia onde fica o Hard Rock, for God's sake??). Ora estava eu paradinha no passeio, quando passa por mim um homenzinho, para aí com os seus 50 anos, que me diz "uma rapariga tão jeitosa, aqui sozinha... só eu é que não tenho sorte nenhum, não arranjo uma mulher assim. Só se raptar uma". E pronto. Era aqui, exactamente neste ponto, que a coisa devia ter terminado. O senhor dizia aquilo, eu ficava quieta e calada, no máximo fazia um sorrisinho, e ele ia à vida dele e eu à minha. Mas não. Da minha boca saiu um "poder raptar, até pode, mas depois tem problemas com a polícia, e é chato". Ora foi suficiente para o senhor se plantar ao meu lado no passeio e começar a falar. A falar, falar, falar, falar. "Uma rapariga tão bonita, tão elegante. E podia nem ter falado comigo, mas falou, tem muita classe. Olhe, um homem que não gostar duma mulher como a menina, nem sequer merece andar cá na terra" (e nesta parte eu tive que concordar, claro). Até que se lembrou que giro, giro, era mostrar-me umas fotos que trazia dentro dum saco. Confesso que aí tremi, com medo do que saíria dali, mas não, era tudo bastante inofensivo. Era só o senhor trajado a rigor, com as roupinhas do rancho do qual faz parte ("veja aqui esta, com esta menina. Também começou assim, numa brincadeira"... e eu a pensar "o que é que ele quer dizer com este 'também começou assim'??). Depois das fotos, o convite: "não sei se a menina tem alguma coisa para fazer este Domingo, mas vou actuar a Chelas, podia ir lá ver". Não me lembro da resposta que dei, porque a essa altura estava eu de olhos enfiados na avenida a ver se avistava o carro do meu amigo. Mas o senhor não desistiu, e voltou à carga, com a conversa do "pois... só se a raptasse... mas depois tinha problemas com a polícia, não era? Então e se fugíssemos juntos?". E este foi o segundo momento em que eu me podia ter calado. Em que podia ter dito "vou só ali a lado nenhum e já não volto, está bem?". Mas não. Respondi-lhe "está bem, então um dia tratamos disso, pode ser?". E foi quando vi a esperança nos olhos dele. E foi também quando o vi a sacar da agenda e a perguntar-me o nome. "Muito bem, vou aqui escrever, s-e-n-h-o-r-a A-n-a. Pronto, já está. E mais?". E mais o quê?, perguntei eu. "Então, o número do telemóvel!". E já tinha levado aquilo tão longe, que achei que não podia defraudar as expectativas do senhor. Por isso forneci-lhe um número errado ("ah... é 91.. pois... não faz mal") e rezei a todos os santos que me lembrei para que ele não me quisesse dar beijinhos de despedida. "Pronto, então depois eu vou-lhe ligar e digo que sou o de Vila Verde, que assim já sabe que sou eu, está bem? Já não é a primeira que me encontro com pessoas assim, altamente desenvolvidas. Olhe, foi a melhor coisa que me aconteceu hoje". E vá de me esticar a mãozinha e continuar o seu caminho. E eu pude, finalmente, desatar a rir sozinha, sem parar, porque ele há gente mesmo muito esquisita nesta cidade (eu incluída). Estive quase, quase, quase a pedir para lhe tirar uma foto, para pôr aqui no blog, mas depois achei que também já era capaz de ser demais.

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