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quinta-feira, junho 28, 2007
A Pipoca denuncia

“Se é português e sofre dos nervos, fique longe de repartições de finanças, segurança social, ou qualquer outro serviço estatal”. É esta a mensagem que eu acho que devia começar a vir nos pacotes de tabaco. Preferencialmente com fotos dos funcionários públicos, para que a pessoa não ficasse com nenhuma réstiazinha de vontade de lá ir.
Eu sei que passo a vida a queixar-me, eu sei que eu e as finanças/segurança social temos já um longo historial de desavenças, e eu juro que até andava a tentar controlar os meus impulsos raivosos contra estas simpáticas entidades, mas é mais forte que eu. Fiz retiros espirituais, exercícios de concentração com monges budistas, fiz até um cursinho intitulado “Como Manter o Sorriso e a Calma Perante as Entidades Estatais Mesmo Quando Estas São Um Exemplo Vivo de Incompetência Elevada ao Cubo e Mesmo Quando a Nossa Vontade É Espetar-lhes Pauzinhos de Sushi nos Olhos Até que Sangrem”.
Mas nada disto funciona quando uma pessoa liga para lá. Sim, ligar, porque já não sou Bambi ao ponto de me lá ir meter. Hoje tive que ligar para me darem uma informação. Andei uma semana em preparação, a controlar o ritmo cardíaco, a dizer mentalmente “vocês não me vão conseguir chatear, vocês não me vão conseguir chatear”. O plano caiu rapidamente por terra. A minha dúvida era simples: ora uma pessoa tem que comprar o selo do carro, certo? Certo! Sendo o meu pai portador de uma deficiência visual elevada e estando isento do pagamento do selo por esse mesmo motivo, a pequena Pipoca quis saber se o selo podia ser comprado em qualquer repartição ou se tinha que ser na da área de residência. É claro que eu já sabia a resposta, mas como ainda tenho uma réstia de esperança na espécie humana, como ainda acho que há gente que está neste mundo para tentar facilitar a vida aos outros, eu achei que devia tentar a minha sorte. Claro que a resposta foi negativa. E reparei numa coisa curiosa neste tipo de serviços: nunca dão uma resposta com certeza absoluta, mas também não deixam de dizer que “o que é capaz de estar certo” é sempre a pior opção para o utente. Ou seja, a desgraçada da senhora que me atendeu e que já devia estar a arrumar a tralha para ir almoçar (apesar de ainda serem dez e meia), respondeu “ahhhh, não tenho a certeza, mas deve ser só na repartição da área da residência”. Totalmente inesperado!
Parti para o plano B: “então e comprar pela net? Este ano já se pode, não é?”. “Pode…. mas os deficientes não, têm que ir sempre à repartição”. Pronto. E foi aqui que decidi pôr de lado a atitude Dalai-Lama e voltar ao registo “vou rodar a baiana e é agora”. Então os deficientes que, como o nome indica, TÊM DEFICIÊNCIAS e, por conseguinte, muito mais limitações, são os únicos que não podem pedir a merda do selo pela net? A resposta, como seria de esperar, foi brilhante e eloquente, lançada com voz de “sou tão espertinha e estou para aqui a perder o meu tempo com esta atrasada mental que não percebe nada do complexo mundo das Finanças”: “então e como é que nós sabíamos que a pessoa continua a ser deficiente? A pessoa tem que comprovar a deficiência todos os anos, tem que vir cá trazer uma declaração. Há pessoas que só são deficientes por algum tempo”. Aaahhhhh!!! Então e as deficiências que são irreversíveis e cuja tendência é para que se agravem e NUNCA para que melhorem??? Ainda assim, e mesmo que haja um médico a atestá-lo, a pessoa deficiente continua a ser obrigada a arrastar-se até lá todo o santo ano para dizer “Vê? Continuo deficiente! Faça-me lá um teste de obstáculos, para ver que eu não vejo mesmo nada!” ??. Sim, ainda assim, a pessoa deficiente tem que lá ir. Mas nem tudo é mau, acrescenta a senhora das finanças, porque eles até deixam que lá vá alguém em representação do deficiente. E com tamanha generosidade amoleceu-se-me o coração. Afinal, vai-se a ver e eles até permitem que lá vá outra pessoa, hã? Obrigada, finanças deste meu Portugal, por tão bem tratarem os deficientes. São um exemplo a dar ao mundo.

Bando de idiotas.

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