
Ontem o meu pai chegou-se ao pé de mim e disse "fiz um poema para dar à mãe, podes fazer uma coisa gira aí no computador?". E é por isso que hoje não me apetece arrasar o Dia dos Namorados, como vem sendo tradição. Continuo a odiar todo e cada casal gosmento que se arrasta pelas ruas de Lisboa numa tentativa de mostrar ao mundo o quão feliz é. Continuo a abominar as montras cheias de corações, e ursos, e almofadas e "i love you" por todo o lado, como se hoje em dia fosse assim tão fácil dizer "amo-te". Mas acho perfeito que alguém, ao fim de 30 anos de casamento, ainda se dê ao trabalho de escrever um poema. Que agradeça a presença da outra pessoa. Que a considere a melhor, a única, e que o diga.
Sou uma descrente do amor. Acho que foi chão que já deu uvas. Já não vão haver amores como o dos meus pais. Como o da Bacall e do Bogart. E acho que vivo bem com a ideia de que hoje em dia é tudo muito mais fugaz, inconsciente, inconsistente, desprendido, rapidamente consumível. Conformei-me. Se não há trabalhos para a vida, porque raio haveriam amores?
Acho muito bonito que as pessoas se apaixonem. Mas eu, que já parti a cara dúzias de vezes, estou com os dois pézinhos atrás. E por isso já não fico espantada com nada, já nada me apanha de surpresa, já nada me parece impossível. Refaço-me rapidamente do choque causado por mais uma desilusão, mais um desgosto, mais uma sensação de injustiça. Ainda magoa, mas é uma dor instantânea. Ainda tenho fé na espécie humana. Mas é pouca.
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Teorias absolutamente espectaculares