Pub SAPO pushdown

segunda-feira, janeiro 09, 2006
Mais uma viagem, mais uma aventura

É oficial: a próxima vez que tiver de fazer uma viagem Madrid-Lisboa (ou vice-versa), freto um jactinho só para mim e aí venho eu descansada da vida. Cada vez que entro naquele autocarro pergunto-me "qual será a novidade de hoje?" e, o que é certo, é que há sempre novidades! Ontem cheguei a pensar que estava a ser apanhada, e houve uma altura em que me apeteceu dizer "vá, ok, já chega, digam lá onde é que está a câmara?". Sete Rios, oito da noite. De repente, parecia que toda a gente se tinha lembrado de vir para Madrid, tal a quantidade de gente no check-in. Com a sorte que me é característica, claro que acabei por calhar naquele autocarro manhoso, aquele que nao oferece qualquer espécie de regalia...nem um filminho, nem jornais, nada de nada. Enfim, a cair de sono como estava pensei que nao havia de ser nada e que a viagem ia passar num tirinho. Ah, inocente! Os problemas começaram ainda com o autocarro parado. Um dos passageiros entendia que se devia sentar nos primeiros lugares, ou seja, os que estao reservados para o caso de virem pessoas idosas ou de um dos motoristas precisar de descansar. Mas quem é que conseguia explicar isto ao senhor, haann?? Ninguém! O homem teimava porque teimava que queria ficar ali, o motorista berrava que nao podia ser e eu comecei a ver a minha vidinha a andar para trás. Bem, estávamos nisto do "sai, nao sai", com o motorista e o passageiro quase a pegarem-se ao estalo ("cuidado com as palavras", dizia o homenzinho), quando o senhor condutor, furioso, exclamou "ai nao sai? Entao vou chamar o inspector!". Ahhh, medo muito medo! Comecei logo a imaginar o personagem, um sujeito de gabardine, com uma lupa e olhar inquiridor, que chamaria os passageiros um a um para um interrogatório sobre o sucedido. Mas nao, o famoso inspector nao passava de um espanhol com ar de motorista da Carris. Foi a desilusao! Com muita paciência lá explicou ao senhor que ele nao se podia sentar ali, que podia escolher qualquer outro lugar, e por momentos pareceu fazer-se luz no cérebro do homem, que disse "ai é? Posso escolher outro qualquer? E depois nao me manda sair de lá?". O inspector disse que nao, que estivesse descansado, e tudo parecia estar a correr pelo melhor quando o inspector, inteligente que só ele (é por isso que é inspector, nao é??), declamou em voz alta, de forma quase dramática: "uma das condiçoes para viajar de autocarro é nao estar como o senhor, ou seja, alcoolizado". Novo "ahhhhhhhhh" de surpresa e indignaçao. Os ânimos voltaram a exaltar-se, o passageiro dizia que nao estava bebado, o inspector teimava que sim e, para tirar as duvidas, convidou-o a sair do autocarro. O anormal (perdao, o passageiro) recusou-se e entao o inspector nao foi de modas e foi chamar a polícia. "Bonito", pensei eu, que estava esganada de fome e só estava à espera que o autocarro arrancasse e as luzes se apagassem para poder atacar as minhas sandochas sem ser expulsa. Bem, o senhor agente lá chegou, mas o parvo do homem continuava a dizer que nao saía. "Nao está à espera que eu lhe faça o teste aqui, pois nao?", perguntava o polícia. Sim, pelos vistos era mesmo isso que o gajo estava à espera mas, depois de muitas promessas de que o autocarro nao seguia sem ele, e que tinha lugarinho garantido, o homem lá desceu. E das duas uma: ou ele estava efectivamente bebado ou entao foi feiamente endrominado, porque o autocarro partiu sem ele! Muito bom! Mas claro que isto nao ficou por aqui, porque o surto de parvoíce tem tendência a alastrar. Quando o motorista se preparava para fazer a contagem dos passageiros houve um  que decidiu nao se sentar. Nao lhe apetecia, pronto! O desgraçado, já a ficar nervoso, tentou explicar-lhe que o autocarro nao podia arrancar com pessoas em pé e que lhe pedia "POR FAVOR" que se sentasse duma vez. Ao fim de cinco minutos o homem lá percebeu a ideia, sentou-se e pudemos, FINALMENTE, arrancar dali! Já com uma maozinha enfiada na mala para sacar de uma sandocha, eis que toca o telefone do meu vizinho de banco ... Vá-se lá saber porque raio, o telemóvel estava em alta voz e entrou-me logo um "amorzinhooooooooooooooooooooooooo" pelos ouvidos. Calculei que fosse a namorada e a conversa ainda começou bem, mas depressa azedou... e claro que aí eu tive que baixar o volume do iPod para saber o que é que se passava ali. Às tantas o rapaz sai-se-me com um "sim, porque eu nao me esqueço que me bateste...pois, agora é desculpa, nao é? As desculpas nao se pedem, evitam-se". Com esta bonita tirada voltei a meter a música no máximo e tentei abstrair-me daquela conversa, mas sem efeito. Depois da tempestade vem a bonança, e eis que o casalzinho deu início ao típico diálogo putxi-putxi, com ele a dizer "vai já para a cama, senao amanha chegas tarde ao trabalho... mas olha, se chegares tarde dizes que foi por minha causa, porque estiveste a pensar em mim até às tantas". Arrrrrrrrrrrrrrrrrrgggggggggggggggggggggghhhhhhhhhhhhhh! Bem, com o estômago reconfortado por uma sandocha e um chocolate caí para o lado a meio da Vasco da Gama e só acordei passadas duas horas, com o vizinho de trás a roncar violentamente. Eu sou uma pessoa que pode dormir ao lado de uma betoneira, que pode adormecer num concerto de AC/DC, MAS NAO COM ALGUÉM A RONCAR! Nao dá, pronto, é mais forte que eu! É assim aquele barulhinho ritmado e terrivelmente egoísta, porque significa que alguém está a dormir a bom dormir, impedindo que os outros façam o mesmo. Voltei a ligar a música no máximo e fiz por dormir. O resto da viagem correu dentro da normalidade possível... tirando o parvo do meu companheiro de banco, que se estava a esticar à grande para cima de mim, e de estarem 35 a 40 graus dentro do autocarro. Estava eu a dormitar quando chegámos a Madrid. E eis que as luzes se acendem e a voz da Enya me entra pelo cérebro adentro, aos altos berros, seguida de um "Kiss FM... la mejor musica sin interrupciones". Ahhhhhhhh!!! Peguei nas 15 malas e corri para o táxi mais próximo como se nao houvesse um amanha (ajudada pelo grande querido do Anjo do Deus que, apesar de ter viajado num autocarro decente, esperou por mim para me ajudar com as valises!). Atirei com tudo para cima do sofá e enfiei-me na cama, de onde só saí há poucas horas. Primeiras impressoes de Madrid? A casa está um nojo. Mas está tudo em saldos!!!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Teorias absolutamente espectaculares

AddThis