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sexta-feira, janeiro 20, 2006
Como ser reprovado numa entrevista de trabalho...by Pipoca

Gosto de ir a entrevistas de emprego. Gosto daquele nervosinho no estômago, daquela dúvida do "vamos lá ver se causo boa impressão" e, acima de tudo, da enorme capacidade que eu tenho para dizer parvoíces em alturas destas. É uma coisa que se me sai, como se a voz se adiantasse ao cérebro sem me dar tempo de fazer uma filtragem. Pior do que isso, acho que vejo um amigo na pessoa que me está a entrevistar, assim um velho companheiro com quem se vai tomar um cafézinho e pôr a conversa em dia. Hoje lá fui eu a mais uma entrevista muitíssimo bem sucedida. Depois de uma hora de viagem entre metros e autocarros e o raio que o parta, lá cheguei eu ao destino, o Faunia, uma espécie de jardim zoológico que fica para trás do sol posto. A entrevista era para um lugar no departamento de eventos, mais propriamente para dar a conhecer o parque a casais desequilibrados (e parece que há muitos!) que queiram fazer lá o seu copinho de água, no meio de pinguins e girafas e zebras. Ou seja, seria assim uma espécie de Jennifer Lopez no The Wedding Planner, sendo que também eu, à semelhança da Jenninha, me atiraria aos noivos à grande e sem qualquer espécie de pudor. Primeira pergunta: conte-me a sua experiência profissional. Primeira resposta genial: jornalismo. Momento de silêncio. Não sei se o senhor estava à espera de mais desenvolvimentos, mas eu fiquei sossegadinha, a olhar para ele, pronta para a próxima pergunta. Ora se eu só trabalhei em jornalismo, que raio queria ele que eu dissesse mais? A experiência mais próxima que tive na organizaçao de casamentos foi ter indicado o lugar a uma tia avó no copo d'água, nao me parece que seja um registo digno de um curriculum brilhante como o meu. Enfim, nao satisfeito o senhor achou por bem percorrer a minha vidinha jornalística toda, e em que área tinha trabalhado e porque é que tinha saída do jornal, e blá blá blá. "Entao, o contrato chegou ao fim e nao renovaram, foi?" . E eis que me sai a segunda resposta brilhante do dia: "nao...na verdade o jornal acabou. Pertencia a uma empresa ESPANHOLA que o fechou. E como foram os espanhóis que me tiraram o emprego, decidi vir eu para cá tirar o emprego aos espanhóis". Toma lá!
A coisa estava, decididamente, animada. E claro que chegámos ao ponto fulcral da entrevista: o meu espanhol exímio. "Sente-se à vontade para explicar aos clientes como funciona o parque?". E mais uma... "sim, é só uma questão de memorizar tudo". "Memorizar?", repetiu o senhor, com um sorrisinho já a roçar o amarelado. "Sim, primeiro tenho que estudar o parque, e depois decora-se tudo". Vi nos olhos dele que estava a ganhar pontos assim à grande, que o trabalho já era meu. Mas, só por uma questão de confirmaçao, o homenzinho achou por bem apresentar-me ao director. Devia querer partilhar com outra pessoa o verdadeiro achado que tinha diante de si.
Bem, o director começou-me logo com a conversa do "ai, eu adoro Lisboa, sabe? Eu e a minha mulher! Vamos lá imensas vezes". Eu estive para lhe dizer que também lá ia muitas vezes tendo em conta o meu problemazinho com o Centro de Emprego, mas achei por bem estar calada. Voltei a responder ao rol de perguntas que o outro já me tinha feito, devia ser para confirmar que eu era realmente um génio mas, desta feita, havia umas "tricky ones". "Conhece o Ocenário de Lisboa?". "Eeeer.....pois....não....aquilo na altura da Expo havia filas que nunca mais acabavam e então fui adiando... realmente, é um falha", respondi. "Mas posso falar da Amália e do Eusébio, aquelas morsas fofinhas e felpudas, e que também devem dar uns casacos giros, giros", pensei eu...
Seguiu-se todo um conjunto de perguntas sobre a minha vida e eu comecei a achar que o senhor director queria era dar umas voltas comigo. "Então e vive onde? Com quem? E tem carro? E quantos anos tem?". "Quantos anos me dás, bebé?", perguntei eu, enquanto me debruçava sensualmente sobre a secretária. Ah ah, brincadeirinha! Por último, a machadada final: "gosta de animais?"...pois, aqui é que a coisa se complicou. Fiz aquela pausa de quem está a pensar no que vai dizer para não ferir susceptibilidades e respondi "gosto....mas tenho medo... de cães". "Ah, mas nao se preocupe, que nao temos cá cães", elucidou-me o senhor! Uffff, muito mais descansada. Se o senhor soubesse o que eu digo das focas lá se ia toda e qualquer hipótese de arranjar um trabalhinho no Faunia. E pronto, fui recambiada com um "causou-nos muito boa impressão" (ou era piada, ou estava a referir-se à mini-saia... joking!!) e prá semana lá me dirão alguma coisa. Ou então não.

1 comentário:

  1. Pipoca enquanto procurava outras coisas no blog deparei-me com este post simplesmente genial!! E sem comentários como é possível??? Nos dias de hoje já teria uma data de malta a comentar... Enfim acho que este e outros post da altura merecem ser reeditados! São brilhantes!! Beijinhos e obrigada por me fazeres rir desta maneira :)

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