Jornalismo, desemprego e estudos de mercado- saiba como se relacionam e dão cabo da vidinha a uma pessoa
Estava eu hoje em casa, enfiada nas limpezas do quarto, quando o telefone tocou. Geralmente faço-me de morta até que alguém o atenda, até porque sei que nunca é para mim, mas hoje resolvi ser cooperante e ver quem queria falar cá para casa. Do outro lado da linha soou uma daquelas vozes bem colocadas (que, obviamente, foi muitíssimo trabalhada para atingir aquele timbre) com a conversinha do costume: "boa tarde, fala da Marktest, estamos a fazer um estudo de mercado e gostaríamos de poder contar com a sua opinião, patati patatá". Ao contrário do que é habitual, não os despachei com as desculpas costumeiras, como "ai, que maçada, agora não dá que tenho uma tarte no forno" ou "oh, que pena, logo agora que estava a tirar as pulgas ao gato", e prontifiquei-me a responder ao inquérito. Assim como assim, não havia nada para fazer e o assunto até me interessava, era sobre rádios e televisões. Fiquei logo toda animadinha, a pensar nas respostas eloquentes que ia dar, um verdadeiro brilharete, mas a alegria durou pouco. Antes de inciar o questionário, a simpática senhora teve a ideia de perguntar se eu trabalhava na Marktest ou noutra empresa do género ou se era jornalista. Pensei que quem preenchesse esses requisitos recebia um prémio qualquer, um trém de cozinha Ideia Casa ou algo do género, mas foi puro engano. De um modo frio e calculista, ouvi um "ah, se é jornalista então não pode! Como sabe a Marktest efectua estatísticas para meios de comunicação, por isso não podemos aceitar respostas de jornalistas". Desesperada, morta de vontade de responder ao inquéritozinho, ainda aleguei que era uma jornalista no desemprego. Por momentos achei que isso pudesse ser uma atenuante, do género "ah, se não tem nada para fazer nem tem onde cair morta, então pode responder às nossas perguntas, temos muito gosto", mas não, novo balde de água fria. Qual Cruella Deville, a parva da mulher desarmou-me ao perguntar "mas tem carteira profissional de jornalista, não tem? É que assim não podemos aceitar". Ainda me estou a recuperar do choque. Quer dizer, o facto de ser jornalista já me levou ao desemprego e, ainda por cima, impede-me de participar em estudos de mercado. Vantagens? Nem vê-las! Ainda por cima a sonsinha despediu-se com um "espero que ultrapasse este momento da sua vida profissional". Vá mas é apanhar no rabinho!
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