Corria o ano de 2010 quando decidi ir ao dentista ver se estava tudo ok com a dentuça. Uma coisita ou outra para tratar, nada de especial. A médica pôs-me uma massa provisória num dos dentes e disse "pronto, vá lá à sua vida descansada, vá de lua de mel, e quando voltar logo terminamos o tratamento". Ora isto foi em Agosto de 2010. Voltaram vocês lá? Assim voltei eu. A massa provisória foi-se e, como não sentia dores nem coisa nenhuma, nunca mais lá pus os dentes. Até que há umas semanas decidi que, se calhar, já era altura de ganhar vergonha na cara e retomar o tratamento. Bom, na verdade não foi bem assim, a coisa não foi tão voluntária como isso, sejamos honestos. Eu, que raramente como cerejas, achei giro comer meia dúzia depois do jantar. Não sei como raio fiz aquilo, só sei que trinquei um caroço com tanta, mas tanta força que parti um dente lá de trás. Percebem agora porque é que a Carolina Patrocínio pede à empregada para lhe tirar os caroços da frutinha? Eu percebo. Enfim, fiquei em choque, a olhar para o pedaço do dente! Tenho 31 anos, como é que se me partiu um dente????? Foi o pretexto que me faltava para voltar ao dentista (moral da história: a fruta não é saudável, meus amigos!). Claro, demorei tanto tempo (dois anos!!!!) que a minha médica já se tinha posto a andar do consultório onde ia habitualmente. Na verdade, já nem sequer me lembrava do nome dela. Só sei que já lá não está. Como não me apetecia entregar-me assim nas mãos de um estranho qualquer, segui a recomendação da minha melhor amiga, que há anos que me falava do seu dentista absolutamente fantástico e maravilhoso. Marquei a primeira consulta e lá fui. Gostei do senhor. Pus logo as cartas na mesa: avisei-o que era uma paciente maricas, dada ao drama, com alguma tendência para o histerismo e com muito pouca tolerância à dor. Ele lá me inspeccionou os dentinhos, fez raios-x, traçou-me um plano de tratamento e definiu-me mais ou menos o número de consultas que ia precisar. Perguntei se não haveria maneira de me sedar completamente e tratar tudo de uma vez, mas ele não foi em cantigas. Disse que o meu caso não é grave para uma sedação total. Bolas! O meu sonho era fazer aquilo tudo a dormir, sem ver a seringa da anestesia, sem ouvir brocas (para quando a invenção de brocas silenciosas?), sem procedimentos estranhos e altamente semelhantes a processos de tortura medieval. Ontem tive a primeira consulta de tratamento e foram APENAS três horas. E três doses cavalares de anestesia. Não havia maneira de aquilo fazer efeito, e eu cá não sou menina para avançar enquanto sentir a mínima dorzinha ou impressão. Na na na, dormência total. E assim se passaram três loooooongas horas, comigo em constante tensão, atenta a todos os movimentos, sempre à espera de ver jorrar sangue até ao tecto ou coisa assim, e a pensar que a seguir tinha um jantar e ia chegar lá toda dormente e a babar-me. Foi um pincel, mas prefiro assim. Menos consultas, menos anestesias e mais trabalho feito de cada vez. Claro que já ia prevenida, com um calmante no bucho, mas avistar a seringa fez-me ter vontade de largar a correr e só parar em Faro. Exactamente a mesma vontade que tive quando, no final, fui à recepção pagar a conta. Está certo que o senhor é altamente competente, cuidadoso, simpático e pedagógico, provavelmente o melhor dentista que já tive, mas o que paguei dava para alimentar os habitantes de uma pequena ilha do Pacífico durante os próximos, vá, dez anos (e não, não pus um dente de ouro). Ainda por cima o seguro de saúde cobre pouco ou nada. Depois admiram-se que a malta se balde aos dentistas. Daqui a duas semanas tenho nova dose. Lá vou ter de assaltar o meu porquinho mealheiro. Mas é por uma boa causa. E é para aprender a não ficar dois anos sem ir ao dentista. Agora só paro quando estiver tudo devidamente arranjadinho. Ou quando a conta estiver a zeros...
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